A presidente Dilma Rousseff tem quatro meses - um deles já vencido - para cumprir ao menos uma vez promessa feita ao tomar posse, em 2011: fechar as contas públicas no azul de janeiro a dezembro, ano após ano. Mas é difícil crer que mesmo os marqueteiros da campanha da candidata se arrisquem a fazer tal aposta. Com gastos superiores à arrecadação, nem sequer as manobras contábeis adotadas a partir de meados de 2012 contêm os deficits mensais. E agosto acaba de registrar rombo recorde para o mês: R$ 14,5 bilhões.
Está aí uma das mais significativas pressões sobre o custo de vida, que nem o garrote dos juros sufocando a economia é capaz de conter. Aí está, também, o motivo das apreensões sobre o mercado de trabalho. E os alertas não partem da oposição, a poucos dias das eleições gerais no país. É o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, quem avisa: o crescimento vai ser baixo; a inflação, alta; e o desemprego, ameaçador.
Não há céu de brigadeiro possível com as receitas em queda e as despesas em alta. O governo usa a desculpa da crise internacional, alegando ter sido obrigado a conceder benefícios fiscais para compensar perdas. Na verdade, muitas vezes esses programas resultam em aumento da arrecadação. O Refis (de refinanciamento de dívidas federais), por exemplo, rendeu R$ 7 bilhões em agosto. E o Brasil vive situação peculiar no contexto internacional. Tanto que o Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou o país como detentor do terceiro maior deficit das contas externas do planeta.
Pode-se argumentar que estamos bem acompanhados. Com US$ 81 bilhões de saldo negativo na conta de transações correntes no ano passado, o Brasil só ficou atrás do Reino Unido (US$ 114 bilhões) e dos Estados Unidos (US$ 400 bilhões). A diferença é a proporção em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas produzidas pela nação.
O deficit nacional é de 3,6% do PIB. O norte-americano, de 2,4%. Já o britânico alcança 4,5%, só perdendo nessa relação para o da Turquia (7,9%). A título de comparação, e para dar melhor noção do tamanho do crescimento do rombo brasileiro, 2006 fechou com superavit de US$ 13,6 bilhões.
Em tempos de campanha à reeleição, a candidata Dilma Rousseff lança um olhar sobre os problemas econômicos como quem vê pelo lado oposto do binóculo. Seria melhor enxergar a realidade como é - quando não, por retrovisor com lente de aumento e lupa sobre o futuro. Relevar questões complexas, de difícil superação, é prorrogar a agonia.
Mais do que demagógico, é irresponsável fazer-se de cego enquanto os tripés da macroeconomia desmoronam a olhos vistos. Um deles, o cumprimento da meta fiscal de 2014, de 1,9% do PIB (cerca de R$ 99 bilhões), está em xeque. Outro, o controle da inflação em torno de 4,5% no ano, já está superado - a carestia deve ficar dois pontos percentuais acima do limite. Quanto ao câmbio, com o dólar batendo recordes, a pressão sobre o custo de vida só tende a aumentar.
Está aí uma das mais significativas pressões sobre o custo de vida, que nem o garrote dos juros sufocando a economia é capaz de conter. Aí está, também, o motivo das apreensões sobre o mercado de trabalho. E os alertas não partem da oposição, a poucos dias das eleições gerais no país. É o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, quem avisa: o crescimento vai ser baixo; a inflação, alta; e o desemprego, ameaçador.
Não há céu de brigadeiro possível com as receitas em queda e as despesas em alta. O governo usa a desculpa da crise internacional, alegando ter sido obrigado a conceder benefícios fiscais para compensar perdas. Na verdade, muitas vezes esses programas resultam em aumento da arrecadação. O Refis (de refinanciamento de dívidas federais), por exemplo, rendeu R$ 7 bilhões em agosto. E o Brasil vive situação peculiar no contexto internacional. Tanto que o Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou o país como detentor do terceiro maior deficit das contas externas do planeta.
Pode-se argumentar que estamos bem acompanhados. Com US$ 81 bilhões de saldo negativo na conta de transações correntes no ano passado, o Brasil só ficou atrás do Reino Unido (US$ 114 bilhões) e dos Estados Unidos (US$ 400 bilhões). A diferença é a proporção em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas produzidas pela nação.
O deficit nacional é de 3,6% do PIB. O norte-americano, de 2,4%. Já o britânico alcança 4,5%, só perdendo nessa relação para o da Turquia (7,9%). A título de comparação, e para dar melhor noção do tamanho do crescimento do rombo brasileiro, 2006 fechou com superavit de US$ 13,6 bilhões.
Em tempos de campanha à reeleição, a candidata Dilma Rousseff lança um olhar sobre os problemas econômicos como quem vê pelo lado oposto do binóculo. Seria melhor enxergar a realidade como é - quando não, por retrovisor com lente de aumento e lupa sobre o futuro. Relevar questões complexas, de difícil superação, é prorrogar a agonia.
Mais do que demagógico, é irresponsável fazer-se de cego enquanto os tripés da macroeconomia desmoronam a olhos vistos. Um deles, o cumprimento da meta fiscal de 2014, de 1,9% do PIB (cerca de R$ 99 bilhões), está em xeque. Outro, o controle da inflação em torno de 4,5% no ano, já está superado - a carestia deve ficar dois pontos percentuais acima do limite. Quanto ao câmbio, com o dólar batendo recordes, a pressão sobre o custo de vida só tende a aumentar.
02 de outubro de 2014
Editorial Correio Braziliense
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