ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O LÍDER QUE DORMIU COMO CENTRO DA OPOSIÇÃO E ACORDOU 'NA PERIFERIA DO PODER'
CASSIO: O GOVERNO DEVE ADOTAR MEDIDAS PARA SINALIZAR PARA UMA TENDÊNCIA DE EQUILÍBRIO FISCAL |
“É hora de pensar no Brasil e tentar salvar o país da crise”. A declaração do líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), contrasta com a realidade econômica atual, com um rombo de R$ 170,5 bilhões nas contas públicas.
Em entrevista ao Diário do Poder, o senador destacou que “a mentira presidiu as relações do governo passado (da presidente afastada Dilma Rousseff) com o povo brasileiro”.
Segundo ele, o presidente Michel Temer começou o seu governo “trazendo um elemento de verdade na relação com a sociedade”. O exemplo foi a revelação da situação fiscal do Brasil, após 13 anos de gastos desenfreados do PT.
Filho do ex-governador Ronaldo Cunha Lima, Cássio é formado em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Em sua trajetória, ele já foi prefeito de Campina Grande e governador da Paraíba.
Qual a maior dificuldade ao voltar ao governo depois de tanto tempo na oposição?
A dificuldade maior é você dormir como centro da oposição e acordar como periferia do governo. Eu estava conversando com o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO). Ele me disse que ‘estava se sentindo um cachorro que caiu da mudança’. É um período difícil e que vai depender muito do grau de desejo e da participação efetiva nossa do governo.
Qual sua avaliação inicial sobre o governo Temer?
É preciso lembrar que não houve transição. O governo termina sendo obrigado a trocar o pneu com o carro andando. É natural que algum descontrole verbal tenha causado algum ruído, mas foi uma primeira semana importante, principalmente porque o governo está querendo trazer um elemento de verdade na relação com a sociedade. A mentira presidiu as relações do governo passado com o povo brasileiro. Então só o fato de você ter a disposição de voltar a lidar com a verdade já é uma mudança extraordinariamente positiva. A começar pela revelação da real situação fiscal do país.
Como reverter um quadro econômico tão adverso sem a criação de impostos?
O governo não pode cometer o erro de propor o processo de ajuste fiscal pela via da receita. O governo acertará quando mostrar claramente que quer promover o ajuste pela via da despesa. Ele precisa aproveitar o momento de recuperação de credibilidade e confiança para fazer a economia voltar a funcionar, recuperar a capacidade de investimento, avançar nas concessões, nas privatizações, nas parcerias público-privadas para que se tenha investimento, que é sinônimo de desenvolvimento que significa geração de empregos. A partir da recuperação da economia, você vai ter uma recuperação da arrecadação e, a médio prazo, um sinal de ajuste da economia. O importante, para este momento, é mostrar tendências. Ou seja, qual é a tendência que o país deve percorrer nos próximos anos porque não haverá solução milagrosa e nem tampouco de curtíssimo prazo.
No Congresso, a chance de criar imposto é zero?
A chance de trazer a responsabilidade para o Congresso de aumento de carga tributária é um erro estratégico, tático e político. O Poder Executivo deve adotar medidas para sinalizar para uma tendência de equilíbrio fiscal. Não iremos sair de um déficit de R$ 170,5 bilhões este ano para o superávit do ano que vem. Vai ter que diminuir esse déficit até alcançar o equilíbrio.
Os ministros do governo Temer, na ânsia de mostrar serviço, não saíram falando mais do que deviam?
Não houve transição. Troca-se o pneu com o carro andando e você não tem nem tempo de fazer reuniões prévias. É humano se perder pela boca. Alguns cometeram sincericídio e falaram talvez em um momento inadequado. Mas nada grave, nada que possa comprometer a fase inicial do governo.
O que o Congresso precisa fazer para ajudar o novo governo a tirar o Brasil da situação crítica, com desemprego em alta, economia em recessão, juros exorbitantes?
A primeira grande ajuda seria compreender e devolver aquilo que nunca pode sair das mãos do presidente da República, que é a prerrogativa de escolha de ministros, de líderes. O Senado tem dado uma contribuição importante nesse sentido. A Câmara ainda não entendeu a necessidade de fortalecer as prerrogativas e as funções do presidente, para fazer uma mudança nessa lógica política. Manter essa lógica política pode ser um erro grave e um risco muito sério para o país.
Mas o Michel Temer não vai conseguir governar o país sem o Congresso...
O Senado não vai emparedar o presidente da República, tanto que já estamos há uma semana do novo governo sem que o líder tenha sido escolhido. Não há no plenário do Senado nenhum senador, nenhuma senadora que se movimente para ser líder. O Senado tem a exata compreensão que essa é uma escolha pessoal e intransferível dentro das prerrogativas do presidente da República.
22 de maio de 2016
diário do poder
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