"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

EX-SECRETÁRIO DE TRANSPORTES DE SP MOVIMENTOU R$ 28 MILHÕES NA SUIÇA

Irmão de ex-presidente do metrô, Jorge Fagali Neto tinha conta na Suíça

A investigação de cartel denunciada pela Siemens não é a única que envolve as obras do metrô paulista. Contratos firmados pelo grupo Alstom para fornecer energia ao metrô de São Paulo também estão sob suspeita. Investigações do Ministério Público de São Paulo sobre um contrato firmado em 1998, na gestão de Mário Covas (PSDB), mostram que Jorge Fagali Neto, irmão do ex-presidente do metrô José Jorge Fagali, tinha autorização para movimentar na Suíça a conta do responsável por uma das consultorias suspeitas de movimentar propina para a Alstom: a Taltos, de José Geraldo Villas Boas. Também o consultor podia movimentar uma conta de Fagali Neto no Banco Safdié, em Genebra. As contas foram mapeadas pelo Ministério Público da Confederação Suíça e documentos, entregues a autoridades brasileiras.
 
Fagali Neto movimentou R$ 28 milhões em contas na Suíça. Ele foi secretário de Transportes no governo Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB); trabalhou no metrô por sete meses em 1993; foi diretor dos Correios ( em 1997) e atuou no projeto de financiamento para a Linha 4 do metrô. Fagali Neto aparece no inquérito do Ministério Público também como representante de três fundações no exterior: Andrius e Lenobrig, em Lichtenstein, e Niton Foundation, no Panamá. É também representante da offshore Woler Consultants, no Panamá.
 
Valores foram considerados incompatíveis com a função de servidor
O mapeamento mostra que, num período de dez anos, de 1997 a 2007, Fagalli Neto movimentou o equivalente a R$ 28 milhões, pelo câmbio atual, em contas de vários bancos no exterior. Apenas entre agosto e setembro de 2003, ele movimentou US$ 10,5 milhões num banco de Genebra e 211 mil euros. Os valores foram considerados incompatíveis com a função de funcionário público em estatais brasileiras.
 
Na Suíça, Fagali Neto teve US$ 6,568 milhões bloqueados na conta do Banque Safdié. Pagamentos feitos pela Alstom à Taltos teriam sido repassados a Fagali Neto. Em 2000, Villas Boas transferiu US$ 60 mil para a conta de Fagali Neto em Genebra.
 
No depoimento ao Ministério Público em 2008, Fagali Neto negou que tivesse contas no exterior. Ao GLOBO, o advogado de Fagali Neto, Belisário dos Santos Junior, disse que as investigações foram iniciadas há cinco anos e que ainda não há provas sobre culpa de seu cliente. Ele não comentou as contas na Suíça.
 
Segundo o Ministério Público, o Grupo Alstom pagou R$ 9 milhões em propinas para fechar, em 1998, o contrato do aditivo 10 do Projeto Gisel, firmado com Eletropaulo e EPTE, na época controladas pelo governo paulista. O valor do contrato era R$ 68 milhões pelo câmbio da época. Além da Taltos, a Alstom subcontratou também a consultoria MCA Uruguay, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas.
 
Dinheiro teria sido entregue a motoboys indicados por doleiros
Romeu Pinto Junior, representante da MCA, admitiu em depoimento ao MP que não prestou serviços à Alstom e que recebia o dinheiro em casa. Foram R$ 5,1 milhões entre 1998 e 2001. Pinto Junior disse que o dinheiro não ficava com ele: foi orientado a entregar a motoboys indicados por doleiros, sempre em restaurantes.
 
Villas Boas também disse ao Ministério Público, no depoimento que consta no inquérito, que repassou a terceiros parte do que a Taltos recebeu. Explicou que, a cada 100 francos franceses, 17 ficavam com ele e parte era repassado a Jean Pierre Courtadon, dono de outra consultoria apontada como intermediária de propinas, a Andros. Em 1998 e 2001, a Andros fez dois depósitos na conta de Fagali Neto.
 
O Ministério Público ingressou com ação cautelar para manter as contas bloqueadas na Suíça e requisitou documentos. Os investigados no inquérito recorreram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), alegando que informações produzidas na Suíça não podem embasar ações na Justiça brasileira. O recurso ainda não foi julgado pelo STJ.
 
28 de novembro de 2013
CLEIDE CARVALHO - O Globo

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