Nem o crime, entre nós, irmana!
Mesmo dentro das prisões somos “zés” de um lado e “vosselências” do outro, e o Estado brasileiro, que distribui esses títulos, faz questão de mostrar à Nação que, mesmo lá, é preciso saber perfeitamente com quem se está falando…
A frase que tantos têm pespegado genericamente “ao brasileiro”, como o rótulo que o define como o agente da sua própria não-cidadania, não é dele. O poder público não está aí para anular; ele está aí para garantir as diferenças que patrocina. Uma vez tocado pelo Estado, seja o “zé” que for nunca mais perde a “excelência”.
Os pretos e os pobres da Papuda que pensavam ter chegado ao fundo do poço – as putas, convenhamos, têm tido mais oportunidades com o mercado aquecido como anda – estão descobrindo que ainda ha mais degraus para descer.
Agora há, lá dentro como aqui fora, as celas com duas vezes mais presos que camas disponíveis e as celas com duas vezes mais camas disponíveis do que presos; as filas de mulheres e filhos pretos e pobres que varam a noite no sereno pelo direito de ver seus presos, quatro por vez e em dias marcados, e a boca livre dos parentes e amigos luzidios e bem dormidos dos nossos heróis do socialismo, que furam a fila escoltados pela força armada que garante a nossa democracia, nas salas da diretoria da prisão.
Há o engolir em seco e o ranger de dentes dos torturados da noite passada abraçados mudos aos seus filhos no parlatório e há o lacrimoso chororô, com direito a coro, do duro “guerrilheiro torturado” ha 40 anos, implorando piedade diante da perspectiva de alguns meses de prisão especial.
Não há dúvida. A desigualdade é a mais sólida instituição do Brasil.
PS.: Sobre o argumento de que Genoíno é pobre e isso seria prova de que é honesto, cabe lembrar que ele não está preso por se ter corrompido mas sim por corromper o que, na posição em que estava e para o propósito que tinha a operação, é pior do que se locupletar para quem fez carreira política afirmando-se um “herói da democracia”.
28 de novembro de 2013
vespeiro
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