"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

POR UM BRASIL DOS BATALHADORES: O QUE ESPERAR DA CANDIDATURA DE AÉCIO NEVES?

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O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) desceu do muro.
Foram longos 11 anos tentando encontrar um caminho e aprender, não só a fazer oposição, mas a oferecer ao país um candidato de oposição.
O PSDB finalmente decidiu apresentar na sua propaganda na televisão, através de Aécio Neves, uma visão alternativa para o país. 

Pode ser que não dê certo, pode até ser tarde demais para reconstruir a identidade de um partido que há mais de uma década só faz gritar que teve as suas bandeiras roubadas. Mas era necessário começar de algum lugar. Pareceria estranho para alguém que chegasse agora ao Brasil, mas a grande novidade na política nacional é vermos o principal partido de oposição brasileiro dizendo abertamente que pensa diferente do governo.

Fazer previsões sobre eleições brasileiras com um ano de antecedência não é uma tarefa simples. Ainda mais difícil é discutir as políticas que os candidatos elegerão para as suas campanhas – não havia Plano Real em novembro de 1993, nem havia “Carta ao povo brasileiro” em novembro de 2001. Uma coisa, porém, é essencial: a construção de um arco narrativo.
Os candidatos precisam agrupar um conjunto de ideias que crie uma impressão, que os diferencie dos rivais, e incluí-las em um contexto. Não precisamos ir aos Estados Unidos e lembrarmos da campanha de Barack Obama em 2008, basta lembrarmos da campanha de Lula em 2002.

Foi Duda Mendonça que, sob a supervisão de José Dirceu, reposicionou o PT e Lula, e deu uma maquiagem positiva às más impressões que determinado grupo de eleitores tinha do partido. Antes mesmo que a campanha efetivamente começasse, ele já buscava convencer o país que mesmo aqueles que rejeitavam o partido compartilhavam algumas das suas preocupações.

Os comerciais que Duda preparou para o PT diziam aos brasileiros que se imagens de pobreza e injustiça os tocassem (e a quem não tocam?) eles também eram “um pouco PT”. O destaque não era mais o enfrentamento com os “agiotas internacionais” de 1998, era o entendimento para o crescimento econômico, conversando com “muitos empresários e os sindicatos de trabalhadores”.

A narrativa do PT era carregada de sentimentalismo. Tínhamos o Lula chorando, crianças abraçando estrelas, grávidas de branco, o Bolero de Ravel, e o Chico Buarque. No entanto, o sentimentalismo era apenas um instrumento para sinalizar que as coisas poderiam melhorar. Que tudo ficaria diferente depois do voto. Que dessa vez havia motivos para a esperança. Que havia vontade política (termo importantíssimo) para mudar.

A oposição tucana jamais conseguiu chegar perto disso. Nas últimas campanhas, e principalmente na campanha de José Serra em 2010, a oposição dizia poder fazer mais e melhor, mas pouco se diferenciava daquilo que defendia o governo. As suas prioridades pareciam as mesmas.
O PSDB só prometia fazer mais, saber “tirar do papel”. Em 2002, quando era governo, a campanha de Serra disputou com o PT a bandeira da mudança. Em 2010, quando era oposição há uma década, a campanha tucana dividia com a campanha petista a afirmação de que o “Brasil tinha melhorado, mas ainda havia muito por fazer”. Até  Lula apareceu na campanha da oposição.

No início desse ano, escrevi que o Brasil vivia um estranho consenso político, com pessoas que lhe olham esquisito se você não defender a transferência de mais poder para o Estado. É esse consenso, benéfico para a situação, que a equipe de Aécio parece querer quebrar. Na parte final do programa do PSDB exibido em setembro, uma jovem pergunta a Aécio por que acreditar que com eles (a oposição, os tucanos etc.) vai ser diferente. Essa foi a sua resposta:

“Eu tenho uma visão de país que é um pouco diferente daqueles que estão no governo hoje, que acham que o Estado faz tudo pra você. Nada. Eu acho que quem muda o Brasil é você. Quem muda o Brasil é você que tá lá estudando, ralando.
O Estado tem que dar condição. Tem gastar menos com a sua estrutura, para gastar mais com as pessoas.
O governo não pode empatar a vida das pessoas, tem que ser um parceiro. Mas quem vai mudar a vida de cada um de vocês, ou de cada um de nós, somos nós mesmos, é quem tiver disposição de ralar e de enfrentar.”

As ideias principais da campanha parecem estar aí. Na resposta de Aécio aparece uma disposição de posicionar a oposição do lado liberal e menos estatista do debate político. O Estado não pode fazer tudo por você; não confie no Estado para fazer tudo por você; o seu futuro é você quem constrói, ralando, batalhando. O Estado não pode empatar a vida das pessoas.

Na campanha tudo pode mudar. Dilma e Serra foram à igreja. Alckmin vestiu a jaqueta com os logos das estatais. Políticos fazem malabarismos pela recompensa de curto prazo. Mas é importante destacar essa abordagem diferente, a tentativa de reposicionar o PSDB em um campo mais liberal.
Uma iniciativa cujos frutos podem demorar um pouco para aparecer, mas com potencial de fazer do partido uma alternativa real às políticas – e ideologias – do PT.

A tentação de sair gritando “Mensalão! Mensalão!” estará presente em 2014, mas o julgamento de políticos corruptos, e a própria corrupção de políticos, parece ter pouca influência no resultado das campanhas.
A oposição parece ter percebido que para vencer o governo é preciso apresentar alternativas às políticas do governo, não apenas se oferecer para realiza-las, para tirá-las do papel. Pode não ser suficiente para derrotar uma presidente bem avaliada, mas já é um bom começo.

28 de novembro de 2013
Magno Karl

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