Ao longo desses quase onze anos, o PT nos proporcionou a oportunidade ímpar de testemunharmos a introdução de sua renovada visão democrática, tese defendida desde a sua fundação e que acelerou seu desembarque na presidência da República. Com o objetivo alcançado, durante esse tempo todo quis nos impor a democracia dele, parida no solo árido da egolatria e consubstanciada no desmesurado apego ao poder.
Candidato a latifundiário da política nacional, seu governo exercita um perverso e seletivo modelo de defesa dos direitos humanos, indignando-se apenas quando os direitos ultrajados dos humanos ocorrem em hostes inimigas. Quando os excessos acontecem nos seus quintais ou nos de seus aliados, dentro ou fora do Brasil, dá às costas aos direitos e não consegue definir como humanas as pessoas que padecem sob a violência de governos autoritários e ferozes. Prepotente por natureza, mostra-se impermeável à vergonha ao tentar justificar o modus operandi de sua polícia que fere e cega, como aconteceu em plagas nordestinas não faz muito tempo.
Buscando a qualquer custo uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, jamais demonstrou o menor vestígio de pudor ao bajular ditaduras cruéis e andar de braços dados com governos corruptos e autoritários. Perfeitamente à vontade, visitou os porões da inconsequência ao tramar a suspensão do Paraguai dos quadros do Mercosul para substituí-lo pela Venezuela, parceira de desmandos e desvarios. Na visão vesga de seu ministro das Relações Exteriores, a Venezuela é só um tipo diferente de democracia. Ele precisa saber que para os brasileiros de bem, qualquer tipo de democracia diferente é a versão mais ordinária de ditaduras iguais, exercido apenas por democratas de fachada e aplaudido somente por lacaios disponíveis.
Coerente com o seu ideário, sempre defendeu com veemência a pureza democrática de Fidel Castro, um dos mais truculentos ditadores da história recente da América Latina e mostrou-se confortável, também, ao patrocinar uma das páginas mais desprezíveis da política internacional brasileira qualificando o ativista Orlando Zapata Tamayo, que morreu em decorrência da greve de fome em protesto à tirania da família Castro, como um bandido comum. Mostrou a dimensão de sua cumplicidade ao calar-se sobre a investida descaradamente absolutista de Cristina Kirchner contra a imprensa e o Judiciário argentinos.
Definitivamente, a prudência manda que jamais subestimemos a capacidade de acanalhar-se do PT. Com os olhos voltados para as eleições do próximo ano, determinado em reeleger Dilma Roussef presidente da República e eleger o governador do Estado de São Paulo, mergulhou de vez nas águas revoltas da irresponsabilidade. Preocupado com o resultado das urnas, demorou mais de uma década para se dar conta da excepcional incompetência de seus gestores em oferecer um serviço de saúde digno aos brasileiros. Maquiavélico, fez o que sabe fazer de melhor: terceirizou seu fracasso escolhendo os médicos brasileiros como os vilões da vez responsabilizando-os pela retumbante ruína de sua política de saúde pública representada na espera angustiante dos pacientes por exames laboratoriais que degrada, no calvário das filas nos hospitais que avilta e na perda de 41 mil leitos do SUS nos últimos oito anos, que revolta.
A indigência moral se concretiza nesse asqueroso convênio compactuado com o governo cubano agilizando a importação de milhares de médicos para, entre outras atribuições, especula-se, prestar atendimento às populações mais vulneráveis. É bom esclarecer que nada tenho contra a vinda desses profissionais. Seria até mesmo um fato corriqueiro se eles viessem motivados por decisão pessoal e soberana, se submetessem às leis do país que escolheram para fixar residência e, depois de aqui instalados, gozassem da prerrogativa da igualdade e da plenitude das liberdades individuais, ambas garantidas pela Constituição. No entanto, a legitimidade se definha ao guardar na sua concepção o apelo eleitoreiro, trazer no seu viés a desconfiança da doutrinação ideológica e tratar seres humanos como mercadoria de propriedade do estado. Aí, estanca-se a razoabilidade e manifesta-se a mais inescrupulosa forma de degradação.
Eu estaria agredindo o princípio da honestidade se não considerasse a hipótese de que esses profissionais se apresentaram voluntariamente para a missão em terras brasileiras. No entanto, a presunção do fulgor ideológico se desmantela no sequestro de suas famílias que permanecerão reféns do governo cubano como moeda de troca de sua lealdade e a garantia de que a propalada devoção a Fidel Castro não vire fumaça no primeiro voo para Miami. Desgraçadamente, a ditadura castrista usa essa mão de obra como fonte de divisas. Sua commodity mais valorizada é gente. Seus produtos de importação mais bem cotados no mercado internacional são pessoas. Sem o menor trauma de consciência as oferece a quem estiver disposto a comprá-las. O PT estava. E foi às compras.
Por mais que se queira, é praticamente impossível para o cidadão que tem um mínimo de autonomia intelectual permanecer insensível à incompetência testada e comprovada ao longo de mais de uma década do governo federal eleito pelo PT e à vocação para o desonesto – escancarada na memorável decisão da maioria dos ministros do STF no julgamento do mensalão –, do petista. Raro é o bem feito que persevere na administração do PT. Pouco é o que não se corrompa no contato com o petismo. Torna-se difícil até mesmo recorrer à máxima da excepcionalidade. A denúncia mais recente envolvendo o deputado federal paulista Vicente Cândido, afirmando que ele teria oferecido propina a agentes da Anatel para resolver a dívida de 10 bilhões de reais da Oi, resultado de multas aplicadas pela agência, é cabal.
Na democracia perseguida com obstinação pelo PT, a exceção é o código de regras que respeitam e o pilar de sustentação do estado que aspiram. A devoção à hegemonia é de sua natureza e está gravado em alto-relevo no seu DNA. Só acreditam na sua castidade democrática os crédulos vocacionados, os políticos cumpliciados e os oportunistas atocaiados. Ninguém além deles.
28 de novembro de 2013
Mauro Pereira
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