Acusado de receber propina na Petrobrás, em esquema que envolveria repasses ao PT, o ex-diretor de Engenharia e Serviços da companhia Renato de Souza Duque constituiu, dois dias antes de deixar o cargo, uma empresa que presta consultoria de negócios para fornecedores da estatal.
A 3DTM Consultoria e Participações, com sede no Rio de Janeiro, foi registrada em 25 de abril de 2012 e, de lá para cá, atua nas áreas naval, de logística e de perfuração para clientes que firmaram contratos com a petrolífera. “Quando você sai da empresa, vai fazer o quê? Trabalhar como consultor”, justificou o ex-diretor ao Estado.
Dois dias antes, registrava no Rio o contrato social de sua empresa, formada em parceria com os filhos. Conforme os documentos de constituição, obtidos pelo Estado, o objeto social da 3DTM é a prestação de serviços de representação, assessoria e consultoria nas áreas de energia, petróleo e gás natural, no Brasil e no exterior”. Sócio minoritário, com 10% das cotas, o ex-diretor de Serviços da Petrobrás é o administrador e representante da empresa.
CONSULTORIA
Ao Estado, ele confirmou que a 3DTM presta consultoria de negócios para clientes que incluem fornecedores da estatal.
“Tenho contratos com empresas que prestam serviços para a Petrobrás, sim, porque a minha empresa trabalhava no ramo de energia e a Petrobrás é a maior empresa do Brasil nessa área”, justificou.
Ele se nega, no entanto, a indicar quais são os clientes, alegando que os contratos têm cláusulas de confidencialidade. “Não posso nominar.”
Em depoimento à Justiça Federal, após firmar acordo de delação premiada para obter redução de pena, Paulo Roberto Costa apontou o ex-diretor de Engenharia e Serviços como beneficiário de pagamentos de fornecedores da Petrobrás. Segundo ele, o PT ficava com 3% do valor de contratos.
O esquema, afirmou, teria também o envolvimento do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.
Questionado se Duque recebeu “valores”, o delator reagiu:
“A resposta é sim”. “Dentro da Área de Serviços, tinha o diretor Duque, que foi indicado pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu. E ele tinha essa ligação com o João Vaccari dentro desse processo do PT”, afirmou.
Além de Duque, Paulo Roberto apontou o ex-diretor Internacional, Néstor Cerveró, como um dos dirigentes que receberam recursos ilegais. O delator foi preso pela Polícia Federal em março, acusado de desviar recursos de contratos da companhia com empreiteiras.
Assim como Duque, também abriu uma empresa de consultoria, a Costa Global, na mesma época em que deixou o cargo. Ele vem colaborando com as investigações, em troca de eventual redução de pena.
14 de outubro de 2014
FABIO FABRINI E ANDREZA MATAIS
O ESTADO DE S. PAULO
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