"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

MARIA ANTONIETA

Sem nenhuma criatividade, a campanha da reeleição apela, mais uma, vez para o discurso do medo. Totalmente previsível. Como o roteiro é o mesmo há anos, as ameaças não surtem mais efeito. Um governo que desmontou a Petrobras insinuar que a oposição vai privatizar a empresa chega a ser patético.

O terrorismo do momento é a volta ao passado. Mas frente à realidade da estagnação econômica e a certeza de empobrecimento da população, o presente é o verdadeiro perigo real e imediato.

Interessante que a obsessão de Dilma com o passado termina em Fernando Henrique. A memória deve ser curta. Sua fixação no ex-presidente é curiosa, explicável talvez pela enorme admiração que sente. Dilma já registrou em carta aberta seu apreço ao afirmar que FHC foi "o ministro-arquiteto de um plano duradouro e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica". Como candidata ignora o que disse como presidente.

Apesar da insistência da campanha, o que está em discussão nesta eleição não são os oito anos de FHC ou Lula, mas o mandato de Dilma. De qualquer forma, não há por que temer o passado. Ele traz lições que ajudam na construção do futuro. É bom retroceder para além de FHC se quisermos especular sobre a política econômica em caso de reeleição.

O modelo atual é semelhante ao dos anos de ditadura militar. Como hoje, havia intervenção na economia e subsídios para setores industriais, que eram poupados da competição externa, faltava transparência nas contas públicas e os preços eram administrados. O resultado é conhecido. Os anos 80 foram de recessão e hiperinflação, período que ficou conhecido como "a década perdida".

Também vêm do passado os aliados de hoje. Suas políticas podem indicar o que esperar em caso de reeleição. Com Sarney o país quebrou de verdade, não é mentirinha. E, como hoje, preços foram controlados artificialmente e, quando liberados, após as eleições, é claro, a inflação voltou com força. Qualquer semelhança com a defasagem nos preços da gasolina e a intervenção no setor elétrico não é mera coincidência.

Outro aliado de peso da candidata é Collor. Esse não precisa de muitas credenciais, mas, em períodos de memória seletiva, é bom lembrar o que ele fez com nossa poupança.

Milhares de eleitores não viveram essas experiências terríveis. E isso é muito bom. Um futuro melhor é a grande herança dos anos de FHC.

Infelizmente Dilma interrompeu um ciclo de estabilidade e crescimento iniciado há 20 anos atrás. Até os vilões da inflação estão de volta. Ao invés do chuchu, a culpa agora é da carne. E como no passado, a recomendação é a mesma: "Ao povo, ovos".
 
14 de outubro de 2014
Elena Landau, Folha de SP



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