"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

A VER ESTRELAS

A sonda indiana que ingressou na órbita de Marte no mês passado já entrou em operação, com as primeiras análises da atmosfera do planeta em busca de metano, gás ligado à atividade biológica.

A Índia torna-se, assim, o primeiro país asiático a realizar tal feito. Não é pouco. Basta dizer que China e Japão tentaram, sem sucesso, chegar ao planeta vermelho.

Batizada de Mangalyaan (nave marciana, em sânscrito), a missão impressiona também pelo custo: US$ 74 milhões, quantia modesta nos padrões astronáuticos. A missão americana que alcançou Marte recentemente, se bem que mais complexa, custou US$ 671 milhões.

Importante em si, o feito da Índia amplia ainda mais o prestígio do programa espacial do país. Desde 1963, produziu 74 satélites para diversas aplicações, fez 41 lançamentos de três tipos de foguete e pôs duas sondas na órbita da Lua.

Vale comparar com o programa brasileiro. Embora remonte à mesma época, apresenta trajetória bastante diferente: desenvolveu apenas cinco satélites --dois deles em parceria com a China-- e um microssatélite. Além disso, os artefatos só foram enviados ao espaço graças à ajuda de outros países.

São conhecidas as explicações para o fraco desempenho brasileiro. Primeiro, faltam recursos. Consideradas todas as ações do Programa Nacional de Atividades Espaciais, o Brasil investiu US$ 2,7 bilhões de 1980 a 2011; a Índia destina para esse fim mais de US$ 1 bilhão ao ano --quantia decerto exorbitante para uma nação com gravíssimos problemas sociais.

Além do fator financeiro, não há uma gestão na área com foco em metas e resultados e existe baixo grau de integração com a indústria nacional. Este ponto é decisivo.

Do ponto de vista pragmático, o investimento na corrida espacial se justifica pelo que pode resultar em termos de desenvolvimento da indústria de ponta. Inúmeros avanços tecnológicos tomaram impulso nas pesquisas feitas pela Nasa, a agência espacial norte-americana --da palmilha dos calçados à telecomunicação por satélite.

Há, ademais, uma questão acessória: sucessos nessa área proporcionam projeção internacional, relevante para nações que, como a brasileira, ambicionam exercer maior influência global.

Não são poucas as razões para o Brasil melhorar nessa disputa, que inclui mais de 70 nações. Do contrário, corre o risco de, passe o trocadilho, ficar a ver estrelas.

 
14 de outubro de 2014
Editorial Folha de SP

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