O governo vinha comemorando a forte recuperação das ações da Petrobras nas bolsas de valores — desde o fim de janeiro, os papéis subiram quase 60% —, acreditando que o impacto do escândalo da corrupção que tragou a estatal começava a diminuir. Mas foi nocauteado pela prisão de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, pela Polícia Federal, fato que jogou novamente para dentro do Palácio do Planalto a maior crise já enfrentada pela presidente Dilma Rousseff.
A tensão é grande. E há razão de sobra para isso. Por maiores que sejam os problemas econômicos do país, por piores que sejam as relações do governo com o Congresso, nada pode ser mais ameaçador para Dilma do que os desdobramentos da corrupção na Petrobras. A prisão de Vaccari mostra que a Polícia Federal e o Ministério Público estão se aproximando do alto escalão do PT.
Entre auxiliares de Dilma, ninguém descarta a possibilidade de Vaccari optar pela delação premiada. Ainda que, até agora, ele tenha rebatido as acusações de que o PT recebeu caixa dois do esquema de corrupção na Petrobras, na prisão, o discurso pode mudar, sobretudo se ele se sentir pressionado pela família, que também está na mira da polícia. A mulher dele foi interrogada, e a cunhada está presa, por mentir no depoimento.
INQUIETAÇÃO GERAL
A mesma inquietação que domina o governo é percebida no mercado financeiro. Todos se perguntam quando surgirão provas definitivas de envolvimento direto da presidente com o escândalo da Petrobras.
A avaliação dos analistas é de que a PF e o Ministério Público estão dispostos a chegar aos cabeças do maior esquema de corrupção do Brasil. Por isso, voltaram a cogitar a possibilidade de impeachment de Dilma, mesmo com a oposição não demonstrando força suficiente para levar adiante um processo tão doloroso para o país.
GRANDES RISCOS
Na avaliação de João Augusto de Castro Neves, da Eurasia Group, os riscos para o governo são grandes. Ele ressalta que a prisão de Vaccari serve como forte lembrete de que o impacto político e econômico do escândalo da Petrobras pode detonar a presidente e a administração dela. “Além de abrandar o ritmo de investimento nos setores de petróleo e de infraestrutura, derrubando o crescimento do país neste ano, as investigações da Petrobras têm potencial para gerar um racha maior entre Dilma, o ex-presidente Lula e o PT“, diz.
ALÉM DA PETROBRAS
O analista chama a atenção para o fato de as investigações sobre corrupção estarem indo além da Petrobras. Na semana passada, descobriu-se que a quadrilha havia fincado raízes no Ministério da Saúde e na Caixa Econômica Federal. Depois, a polícia começou a desvendar desvios no setor elétrico, mais precisamente na Eletronorte, subsidiária da Eletrobras.
Infelizmente, ao que tudo indica, o país vai se surpreender com novas revelações de corrupção. A sensação que se fica, a cada prisão anunciada pela PF, é a de que o governo se tornou um mar de desvios.
Para onde quer que se olhe, a roubalheira está presente. Não à toa, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, destacou, sem constrangimento, que a corrupção está travando o crescimento econômico do Brasil. Disse isso para jornalistas do mundo inteiro. Uma vergonha.
22 de abril de 2015
Vicente Nunes
Correio Braziliense
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