"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

PT NAUFRAGA NO MAR REVOLTO DA CORRUPÇÃO





Reportagem de Andréia Sadi e Marina Dias, Folha de São Paulo, edição de 20 de abril, revela que a direção nacional do PT passou a temer que a operação Lavajato culmine até numa escala capaz de inviabilizar o registro do partido, pois as denúncias que se acumulam são capazes de conduzir até a obrigação de a legenda ter que devolver 200 milhões de dólares (cerca de 600 milhões de reais) aos cofres públicos, uma vez que esse montante representa o que João Vaccari arrecadou durante dez anos de 2003 a 2013.

O PT, assim, praticamente naufraga num mar da corrupção, cujas águas revoltas escolheu cruzar. É claro que a perspectiva não é das melhores. Mas também Andréia Sadi e Marina Dias transmitem a impressão inevitável de que a fonte dos recursos financeiros secou para o partido.

Tanto assim que no final da semana passada a comissão executiva do PT decidiu suspender o recebimento de doações por parte de empresas privadas. A suspensão representa uma figura simbólica, pois na realidade, como no samba de Monsueto, a fonte secou. Assim, a sustação de captar recursos financeiros já havia antecedido o ato de suspender tais ações.

ROUBALHEIRA

A operação Lavajato a cada dia aprofunda as investigações e a partir da prisão de João Vaccari abriu-se um novo horizonte para iluminar e identificar os atores da roubalheira instalada na Petrobrás. Vaccari, preso, torna-se evidentemente muito mais vulnerável do que quando se encontrava solto e ainda acreditava na hipótese de sua impunidade. O encarceramento já está começando a pesar fortemente sobre ele, que tem consigo a chave de um mistério cada vez menos oculto.

Paralelamente à prisão de Vaccari vão se acrescentando os resultados concretos das delações premiadas. São milhões e milhões de dólares e reais que circulavam ao seu redor. Ele, Vaccari, era praticamente o epicentro através do qual eram redistribuídas as parcelas provenientes dos roubos e dos superfaturamentos de obras e serviços, os quais possibilitavam o pagamento em uma escala impressionante de propinas. 
Pois é evidente que para pagá-las as empresas empreiteiras e fornecedoras embutiam seus custos nos contratos. De maneira direta, como acentua a reportagem da FSP terem sido envolvidas 90 contratações que formavam a fonte torrencial do dinheiro emitido ilegalmente.

NAUFRÁGIO

Diante de todo esse quadro verifica-se hoje o naufrágio do Partido dos Trabalhadores. Além da perda que sofreu em sua posição política, ainda por cima encontra-se ameaçado de devolver recursos sobre os quais não tem mais controle, uma vez que foram parar nas mãos de integrantes da sigla que jamais pensaram, e pensam, na hipótese de devolvê-los. Tais recursos, em grande parte, encontram-se depositados no sistema financeiro internacional. 
E qualquer movimentação agora terminará revelando o nome dos correntistas titulares dos depósitos, como aconteceu com o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque, que, na antevéspera de ser preso, transferiu 31 milhões de euros na Suíça para o Principado de Mônaco. Qual a origem desse dinheiro? É claro que se trata de algo fora da lei.

Como Renato Duque existem vários outros personagens, qu7e João Vacari se desejar, os revelará e é esse o temor maior da direção do Partido que iniciou sua jornada tendo como bandeira uma ideia reformista mas que terminou dramaticamente atuando sob a inspiração do conservadorismo que sempre criticou nos outros mas terminou adotando para si próprio. 
O naufrágio do PT era previsível já que sua direção omitiu-se em relação aos fatos que se passavam e terminaram transbordando quaisquer limites existentes até mesmo considerando-se o quadro eterno da flexibilidade política. 

Essa flexibilidade existiu em épocas do passado, existe no presente e existirá para sempre como fator da atividade humana. Porém para tudo existe limites; o PT naufragou porque não levou em conta a sua existência inevitável, ou seja violando-os colidiu com o rochedo que demarcava a linha entre a praia e as ondas domar.

22 de abril de 2015
Pedro do Coutto

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