"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

CASTELO, EM SUA COLUNA NO JB, DAVA O TOM DA POLÍTICA BRASILEIRA

 


                       Castelo Branco é biografado pelo jornalista Carlos Marchi
 
Ainda não li, mas – claro – vou ler “Todo Aquele Imenso Mar de Liberdade”, título que o jornalista Carlos Marchi deu à biografia que escreveu sobre Carlos Castelo Branco, o maior comentarista político de toda uma era da história do Brasil. O livro de Marchi foi destacado por Ricardo Noblat, no Globo, e Bernardo Melo Franco, na Folha de São Paulo, ambos os artigos nas edições de domingo.

Carlos Castelo Branco, em sua famosa coluna no Jornal do Brasil, durante várias décadas, deu o tom da política brasileira, em seus rumos, suas dúvidas, suas interpretações sempre claras produzidas no estilo leve, aberto, objetivo que marcava suas crônicas. Um tradutor de tendências e realidades, um sinalizador de roteiros, um antevisor de consequências.
 
O seu espaço, hoje, é ocupado por Élio Gaspari no Globo e na Folha de São Paulo, aos domingos e quartas-feiras, e também por Noblat na coluna de O Globo de segunda-feira. Castelinho, entretanto, tornou-se um historiador do país porque a história também é o presente.
Definição, aliás, do grande historiador inglês Arnold Toynbee. Castelo Branco, no fundo era um analista do comportamento humano no palco da ação política.
Seus impulsos, suas fraquezas, seus interesses, suas vontades e, portanto, suas frustrações.

Ninguém como ele entendeu o jogo da política, suas mutações repentinas, seus deslocamentos. Tudo isso dentro do imenso mar da liberdade, título de sua biografia por Marchi e também síntese da própria vida do biografado.
 
IDEAL DA LIBERDADE
 
No fundo, o ideal da liberdade estava sempre presente em seus textos nas suas críticas, nas entrelinhas que oferecia elegantemente a interpretação dos leitores.
Eram muitos esses leitores, tantos em seu conjunto, que mantiveram sua coluna nos momentos em que surgiram no velho Jornal do Brasil divergências entre ele, colunista, e o proprietário do JB, Manuel Francisco do Nascimento Brito.
 
Segundo Marchi, e de acordo com Noblat, Nascimento Brito tinha assumido o compromisso de apoiar o movimento militar de 64, porém na visão do grande Castelinho tal compromisso não podia estender-se a ele, cuja visão projetava-se num mar da liberdade inspiração de sua vida. Castelo Branco, por vezes liberava seu espaço para Dora Kramer, também brilhante articulista, que hoje escreve no Estadão.

Período houve em que o espaço tradicional do JB foi preenchido por Ricardo Noblat e Carlos Marchi. Mas é preciso assinalar que a coluna nunca mudou de nome e sempre teve como título ao mesmo tempo forte e simbólico Coluna do Castelo.
Ele a escreveu por mais de trinta anos, produzindo segundo a biografia cerca de 9.000 textos. Todos em estilo impecável e dentro da leveza de suas teclas e de seu pensamento.
 
ASSESSOR DE JÂNIO
 
Somente uma vez ocupou cargo no governo. Foi quando desempenhou a função de assessor de imprensa de Jânio Quadros, episódio que o tornou assim testemunha direta dos bastidores alucinados que fomentaram e culminaram com o gesto da renúncia.
Uma renúncia que o surpreendeu e contradizia com o princípio democrático do jornalista, pois se tratava de tentativa fracassada de um golpe de Estado.

Voltou, assim à coluna que tornou famosa, da qual na verdade não deveria ter se afastado durante os dramáticos sete meses de 1961, uma vez que Jânio assumiu a primeiro de fevereiro e deixou o Planalto a 25 de agosto, esperando ser aclamado por uma multidão que não houve e que esperava vê-la clamando por seu retorno.

A espera ficou no passado, a crise da posse de João Goulart começava. Castelo Branco voltava então a interpretar, analisar e traduzir os fatos sob a lente do historiador do presente.
 
Para isso, como afirmou Ricardo Noblat no Globo de domingo, recorria a acontecimentos do passado, para reforçar suas análises comparativas. As comparações fazem parte do dinamismo que impulsiona a história. Membro da Academia Brasileira de Letras, Castelinho foi um grande historiador.

O conjunto de sua obra fica para sempre, eternizado no imenso mar de liberdade, de Carlos Marchi para todos os que amam o jornalismo e o sinuoso processo da história.
Mas a obra não deve ficar restrita apenas a estes, mas a todos que vivem os acontecimentos, o que significa dizer todos nós.

22 de abril de 2015
 

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