"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 5 de junho de 2016

ALERTA 05 JUN


Catiripapo na Bisteca


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos Maurício Mantiqueira

Há poucos dias, Sua Santidade o Papa Francisco, chamou ao Vaticano, vários juízes e promotores argentinos. Parece que os havia de outras nacionalidades.

Com a linguagem mais gentil e carinhosa, o Sumo Pontífice os lembrou de seus deveres para com a causa da justiça.

Tentarei reproduzir a sua fala na língua corrente de nossa juventude:

“Olha aqui putada (coletivo eufemístico) quem chafurdar na merda, quando morrer vai direto falar com o chifrudo.

Não tem essa de Eu não sabia!. Não sou bobinho; sou argentino, jesuíta e conheço todas as manhas.

Sugiro aos desavisados que vejam o filme “Las nueve reinas” [As nove rainhas].

Ao contrário de muitos de meus predecessores, não tenho a menor intenção de ser canonizado.

Vou terminar com esse farisaísmo do politicamente correto.

Padre pedófilo, babau!

Padre corrupto, idem.

Gente que ama um cão mais que a outro ser humano, é idiota ou egoísta.

Enfim, que sair da linha terá sua alma lavada; à jato.”

Se non è vero, è ben trovato.


Carlos Maurício Mantiqueira é um livre pensador.

Traição contra o Brasil


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Antônio José Ribas Paiva

A INTERVENÇÃO CÍVICA CONSTITUCIONAL  ocorre, inexoravelmente, em caso de vácuo político institucional. O sinal mais evidente disso é a RELATIVIZAÇÃO DO PODER DO ESTADO, com a consequente perda de legitimidade dos representantes do povo.

Após 1985, o Poder do Estado se estilhaçou em guetos. Esse foi o fato gerador do Vácuo de Poder, que está se instalando, rapidamente. Compete aos cidadãos, através dos seus instrumentos de força: as suas FFAA, intervir, constitucionalmente, para forjar o NÚCLEO MONOLÍTICO do PODER do ESTADO, sob pena de, não o fazendo, colocar em risco a UNIDADE NACIONAL.

A CBMM de ARAXÁ fornece 97% do NIÓBIO mundial, através de suas subsidiárias em todos os continentes. Exporta para suas coligadas  a US$ 48 dólares o Kg e revende as ligas por até 2000 dólares o Kg.

Essa operação criminosa causa prejuízos à nossa economia de 100 bilhões de dólares por ano, ou seja, três vezes a arrecadação com o IR pessoa física. E o Meireles e o Temer ainda querem aumentar impostos!!!

Todos os presidentes brasileiros nos últimos 50 anos estão envolvidos nessa traição. Os que estiverem vivos, estão sujeitos às penas dos artigos 142 e 357 do Código Penal Militar.

INTERVENÇÃO CÍVICA CONSTITUCIONAL JÁ!!!


Antônio José Ribas Paiva, Advogado, é Presidente do Nacional Club.

Temer foi a emenda pior que o soneto?


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Sérgio Alves de Oliveira

Não foi por falta de aviso que o tal de impeachment seria um desastre. Nem passou um mês de governo provisório e já deu para ver essa realidade. A  facção da quadrilha governamental que venceu a batalha do impedimento, afastando  Dilma temporariamente por até 180 dias, formada  pelo PMDB e seus comparsas, nem conseguiu sentar a bunda direito no poder e já demonstrou a que veio, provando que estavam certos os que afirmavam a perspectiva que se avizinhava e acabou se confirmando.

A probabilidade da oposição ao PT não conseguir no Senado 1/3 (um terço) dos votos dos senadores para o afastamento definitivo de Dilma é imensa. Porém essa “pretensa” oposição não fez por merecer resultado diferente, ou seja, a confirmação do impedimento de forma definitiva. Na prática aconteceu o que muitos já diziam, no sentido de que a troca de Dilma por Temer seria só a substituição das “moscas”,permanecendo  a mesma “m...”.

O que não estariam pensando, a esta altura dos acontecimentos, aqueles  milhões de “babacas” que saíram às ruas protestando e pedindo  o impeachment de Dilma? Porventura eles não conseguiram perceber a tempo que estavam sendo manipulados e enganados por gente e organizações sem moral e sem preparo para liderar um pleito dessa magnitude? E que poderiam estar a serviço até de governistas que desejavam tomar o lugar de Dilma?

Agora dá para compreender bem os motivos pelos quais esses urubus do poder nunca  cogitaram e sempre repeliram a fórmula prevista no artigo 142 da Constituição, que trata da intervenção do poder instituinte e soberano do povo, em  parceria com as Forças Armadas, que  no caso serviriam meramente como instrumento de força para as mudanças necessárias ao restabelecimento do Estado de Direito, hoje abandonado, cedendo seu lugar ao Estado-do-(anti)Direito.

A legitimidade da intervenção do artigo 142 da CF tem o mesmo tamanho da legitimidade do impeachment, uma  vez que ambos estão ao abrigo da Constituição. Neste sentido as Forças Armadas foram omissas e se acovardaram, traindo o  povo brasileiro, mesmo  porque em duas das quatro hipóteses de intervenção do artigo 142 da CF elas teriam poder de avaliação e decisão própria, independentemente  da convocação de qualquer dos Poderes do Estado (Executivo, Legislativo ou Judiciário).

Porém o mais grave de tudo é que a eventual rejeição do impeachment  de Dilma pelo Senado, onde a acusação de crime de responsabilidade se limita a uma “bobagem” contábil qualquer (pedaladas fiscais), terá como consequência “apagar” todos os crimes de corrupção ocorridos no Governo de Dilma Rousseff, onde  centenas de bilhões comprovadamente foram desviados em benefício de partidos políticos, políticos, autoridades e administradores públicos.


Sérgio Alves de Oliveira é Advogado e Sociólogo.

Falta Prudência


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Merval Pereira

A redução dos prazos para a definição final do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Roussef não prejudica em nada sua defesa, pois não são necessários 15 dias para se apresentar uma defesa ou uma acusação por escrito de um assunto que não tem novidades. Mas é uma proposta no mínimo inábil, pois dá margem a que a acusação de golpe parlamentar ganhe contornos de veracidade.

Na verdade, os dois lados deveriam estar interessados em apressar o processo, pois não serve de nada alongar o prazo, e o país precisa andar para a frente. A presidente afastada não melhora sua atuação pretérita, nem emite sinais futuros de mudança de mentalidade, para oferecer esperanças a senadores que possam mudar de posição.

São raros os que se encontram em dúvida sobre a decisão a tomar, pois não há muito a pensar nesse assunto. O crime de responsabilidade cometido pela presidente Dilma está caracterizado, e não é possível relativizar essa má conduta, a não ser para aqueles que consideram uma bobagem o equilíbrio fiscal.

Além do mais, diante do descalabro do país, não há nada que indique que o retorno da presidente afastada vá trazer algum tipo de mudança na sua visão de mundo ou na sua maneira de governar. Portanto, além do fato criminoso passível de impeachment em si, há o conjunto da obra que, se não pode ser imputado oficialmente, influencia naturalmente a decisão dos senadores.

E seria uma grande irresponsabilidade trazer de volta ao governo aquela que foi afastada num longo processo decisório que não recebeu nenhum fato novo que possa modificá-lo. Nem mesmo os críticos do início do governo Temer têm razão suficiente para preferir Dilma a ele, a não ser os ideológicos ou os que têm, por razões específicas, simpatia pela presidente afastada.

Esse grupo anda fazendo muito alarde, mas creio que os petistas mais conseqüentes sabem que é impossível a Dilma recuperar a capacidade de governar que nunca teve. Tanto que o melhor que podem oferecer em troca do apoio é a garantia de que ela renunciará ao mandato e convocará novas eleições.

Ora, se é para tal, porque não faz isso agora mesmo, abrindo caminho para que o governo Temer estabilize-se? Claro que o que move a presidente afastada e seus poucos seguidores (?) é um espírito de vingança contra o vice que consideram traidor. Mas em política esse sentimento de revanche tende a não ser duradouro, e para o PT o melhor mesmo é se livrar do fardo que Dilma Rousseff representa e recomeçar seu posicionamento na oposição, torcendo para que Temer erre bastante nesses pouco mais de dois anos.

Nesse intervalo, alguns senadores buscam se posicionar para troca de favores, de um lado ou de outro. Não parece, no entanto, que existam razões realmente ponderáveis para fazer o cenário político retroceder. Mesmo as críticas ao governo interino têm que ter o sentido de mantê-lo caminhando para frente, evitando novos erros.

O processo de escolha dos assessores mais diretos continua ignorando regras básicas de prudência, quando não descuida da ética pura e simplesmente. Essa nova secretária para política das mulheres, ex-deputada Fátima Palaes, já causara estranhamento ao ser escolhida, pelo posicionamento contrário ao aborto mesmo em caso de estupro.

Não bastasse isso, no entanto, ela é acusada pelo Ministério Público de ter desviado dinheiro de emendas parlamentares para empresas fantasmas, e ficado com parte dele. Mesmo que possa ser uma acusação ainda não comprovada, e fruto de uma disputa política como alega, não é saudável para um governo interino arriscar sua reputação com uma nomeação polêmica como essa.

Também o advogado Torquato Jardim, colocado por Temer no ministério da Transparência em substituição a um nada transparente assessor de Renan Calheiros, deu entrevista recente com comentários céticos em relação à Lava-Jato e com críticas pesadas à classe política. Não parece uma figura que pacifique o cenário do governo interino.

Estranhamente, anda faltando prudência ao presidente Temer, tido e havido como uma político cauteloso e experiente.


Merval Pereira é Jornalista e membro das Academias Brasileiras de Letras e de Filosofia. Originalmente publicado em o Globo em 4 de junho de 2016.

Uma circular não escrita


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Demétrio Magnoli

José Serra terminou a semana em Paris, na OCDE. Na América Latina, as atenções dividiam-se entre a ruidosa confrontação de Luís Almagro, o secretário-geral da OEA, com Nicolás Maduro, o chefe do regime chavista na Venezuela, e o sólido, inexpugnável silêncio do Brasil. Diplomatas argentinos, chilenos e mexicanos esboçaram o plano de enviar uma delegação da OEA a Caracas com a missão de persuadir Maduro a acatar o referendo revogatório –mas congelaram a ideia diante da ausência de uma palavra brasileira. Temer inaugura sua política externa com uma abdicação da responsabilidade de liderar. Haverá consequências.

Uma circular não escrita esclarece a ordem de silêncio. Matias Spektor detalhou seu conteúdo (Folha, 2/6, p. 2). Brasília não só "não liderará o movimento internacional contra a escalada autoritária na Venezuela" como "tampouco será protagonista do processo de denúncias globais dos desmandos" pois teme "os enormes custos embutidos numa empreitada dessa natureza".

O realismo, reza a circular, impõe o reconhecimento de que faltam-nos instrumentos eficazes para conter um regime que "opera em modo de sobrevivência", está pronto "a chegar às últimas consequências" e não se deterá mesmo se confrontado com suspensões do Mercosul ou da OEA. De mais a mais, "nenhuma força política brasileira" atribui ao Brasil "responsabilidades especiais pelo destino da Venezuela". Assim se prepara um desastre: a prudência, que demanda a inação, logo dará lugar à emergência, que solicitará ações desesperadas.

Todos os sinais de uma explosão catastrófica se reúnem na Venezuela. Sobre a paisagem de um colapso econômico, desenvolve-se uma ruptura institucional, na moldura de cisões entre os militares e na presença de milícias chavistas armadas. O país vizinho encara o espectro da guerra civil.

Nenhum ator externo tem o poder de evitar um desenlace trágico, mas a responsabilidade do Brasil é alinhar os atores regionais num esforço derradeiro de mediação. A única saída legal encontra-se no referendo revogatório. A alternativa é a ditadura escancarada, seguida pela violência descontrolada.

Só o Brasil tem a chave de ignição do motor da diplomacia. Obama decidiu, anos atrás, restringir as iniciativas americanas na Venezuela a declarações de princípio, sob pena de adensar o discurso "anti-imperialista" do chavismo, que funciona como ferramenta de intensificação da repressão interna. Hoje, Washington prioriza a abertura para Cuba e a conclusão da paz na Colômbia, objetivos inconciliáveis com um confronto com Caracas.

Os demais atores regionais carecem do peso específico do Brasil, que operou ao longo da era lulopetista como sentinela diplomática da "revolução bolivariana". Almagro, pré-candidato presidencial em seu país, persegue a luz dos holofotes. Sem o Brasil, seu barulho oportunista provocará apenas um estalido, fragmentando a diplomacia regional.

Na circular não escrita de Serra, há um parágrafo implícito, excluído da síntese de Spektor. O "realismo" brasileiro não deriva dos alardeados argumentos de política externa, mas de uma análise de política doméstica. O governo Temer sente calafrios só de pensar na hipótese de abrir uma frente de combate externa enquanto enfrenta o desafio interno posto pelo lulopetismo.

O equivocado raciocínio subjacente é que o processo de consolidação do novo governo desenrola-se em esfera separada da crise regional deflagrada pela implosão do chavismo. Por isso, o Itamaraty escreve cartas à imprensa estrangeira justificando a constitucionalidade do impeachment mas cala-se face à ruptura institucional na Venezuela, onde se instaura uma ditadura para impedir a substituição constitucional do governo.

Temer e Serra procuram o conforto impossível da irrelevância geopolítica externa. É um flerte da prudência com a irresponsabilidade.


Demétrio Magnoli é Doutor em geografia humana, é especialista em política internacional. Escreveu, entre outros livros, 'Gota de Sangue - História do Pensamento Racial' e 'O Leviatã Desafiado'. Originalmente publicado na Folha de S. Paulo em 4 de junho de 2016.

Serviço Federal de Segurança da Federação Rússia

Alexander Litvinenko - morto por envenenamento

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S. Azambuja

O texto abaixo resumido, extraído do livro A EXPLOSÃO DA RÚSSIA, é um devastador ataque do ex-funcionário do KGB, Tenente-Coronel Alexander Litvinenko, a seus antigos superiores. Em parceria com o acadêmico Yuri Felshtinsky, ele denuncia os métodos letais do KGB usados para levar Vladimir Putin ao Poder como um dos dirigentes russos mais populares jamais eleitos – ou melhor: indicados -. Proibido na Rússia e baseado nos bastidores das campanhas secretas russas acumuladas por Litvinenko ao longo de 20 anos, o livro mostra como as organizações que sucederam o KGB conseguiram sobreviver depois de desvinculadas do comunismo. Ao retomar antigos métodos de terrorismo e guerra elas conseguiram impor um “estilo ruusso” de governo.

Litvinenko foi perseguido por Putin, esteve preso, fugiu da Rússia e recebeu asilo político na Grã-Bretanha em 2001, tornando-se cidadão britânico em outubro de 2006. A seguir, no dia primeiro de novembro, foi assassinado com uma dose letal de polônio 210.

O livro foi editado no Brasil em 2007 pela Editora Record.
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“Nós não rejeitamos nosso passado. Dizíamos, sinceramente: “A história da Lubyanka no Século XX é a nossa história”

(N. P. Patrushev, diretor do FSB – ex-KGB -, em entrevista ao Komsomolskaya Pravda de 20 de dezembro de 2000, Dia da Cheka)

A árvore genealógica do Serviço Federal de Segurança da Federação Russa dispensa comentários. Desde os primeiros anos do Poder soviético, os organismos de punição criados pelo Partido Comunista mostraram-se implacáveis e impiedosos. Desde então, os atos dos indivíduos que trabalhavam nesses departamentos passavam ao largo dos princípios e valores da humanidade comum. A partir da Revolução de 1917, a polícia política da Rússia soviética (mais tarde URSS) funcionou como um mecanismo inexorável de aniquilamento de milhões de pessoas. Na verdade, essas estruturas jamais tiveram outras funções, pois o governo nunca lhes atribuiu quaisquer outras atividades práticas ou políticas, nem mesmo em seus períodos mais liberais. 

Nenhum outro país civilizado jamais teve algo comparável com as agências de segurança de Estado na URSS. Excetuando o caso da Gestapo na Alemanha nazista, nunca houve qualquer outra polícia política que dispusesse de suas próprias divisões operacionais e investigativas ou seus centros de detenção, como, por exemplo, a prisão do FSB em Lefortovo.

Os acontecimentos de agosto de 1991 - quando uma onda de indignação popular derrubou o sistema comunista – demonstraram claramente que a liberalização das estruturas políticas da Rússia inevitavelmente levaria ao enfraquecimento e talvez até à proibição do KGB (Comitê de Segurança do Estado).

O pânico entre as agências coercitivas do Estado, nesse período, traduziu-se em numerosos e não raro incompreensíveis casos de desmantelamento de antigas agências de serviços especiais e criação de novas. Já no dia 6 de maio de 1991, era criado o Comitê de Segurança de Estado da República da Rússia, tendo V. V. Ivanenko na presidência, paralelamente ao KGB de toda a Federação, nos termos do protocolo assinado pelo presidente russo, Boris Yeltsin, e o presidente do KGB da Rússia, V. A Kriuchkov.

No dia 26 de novembro, o KGB da Rússia foi transformado em Agência de Segurança Federal (AFB). Uma semana depois, em 3 de dezembro, o presidente da Rússia, Mikhail Gorbachev, assinava um decreto intitulado “Da Reorganização das Agências de Segurança do Estado”. Com base nesse decreto seria criado um novo Serviço Interdepartamental de Segurança (MSB) da URSS, a partir da estrutura do KGB, que era abolido.

Simultaneamente, o velho KGB, como uma hidra vermelha de múltiplas cabeças, subdividiu-se em quatro novas estruturas. O Primeiro Departamento (central), que cuidava da Inteligência Externa, foi reconstituído separadamente como Serviço de Inteligência Central, mais tarde batizado como Serviço de Inteligência Externa (SVR). O oitavo e o décimo sexto Departamentos (encarregados das comunicações governamentais, codificações e reconhecimento eletrônico) foram transformados no Comitê de Comunicações Governamentais (futura Agência Federal de Informações e Comunicações Governamentais).

O serviço de guarda de fronteiras transformou-se no Serviço Federal de Fronteiras (FPS). O antigo Nono Departamento do KGB transformou-se  em Departamento da Guarda Pessoal do Gabinete do Presidente da RSFSR (República Federativa Soviética da Rússia, nome oficial da Rússia na era soviética). O antigo Décimo Quinto Departamento passou a ser o Serviço de Segurança Governamental e Guarda Pessoal da RSFSR. Estas duas últimas estruturas seriam, posteriormente, transformadas no Serviço de Segurança do Presidente (SBP) e no Serviço Federal de Guarda Pessoal (FSO). Um outro serviço especial super secreto também foi separado do antigo Décimo Quinto Departamento do KGB: o Departamento Presidencial Central de Programas Especiais (GUSP).

No dia 24 de janeiro de 1992, Boris Yeltsin assinou um decreto autorizando a criação de um Ministério da Segurança (MB), a partir das estruturas da AFB e do MSB. Ao mesmo tempo era constituído um Ministério da Segurança e do Interior que, no entanto, logo seria dissolvido. Em dezembro de 1993, o MB (Ministério da Segurança) era, por sua vez, rebatizado de Serviço Federal de Contra-Inteligência (FSK), e em 3 de abril de 1995, Yeltsin assinou o decreto “Da Formação de um Serviço Federal de Segurança na Federação Russa”, pelo qual o FSK era transformado no FSB.
Essa longa seqüência de atos de reestruturação e mudanças de nomes destinava-se a proteger a estrutura organizacional das Agências de Segurança do Estado, ainda que de forma descentralizada, frente aos ataques dos democratas, juntamente com a estrutura para preservar o pessoal, os arquivos e os agentes secretos.

Um importante papel no empenho de salvar o KGB da destruição foi desempenhado por Ievgueni Savostianov, em Moscou, e Serguei Stepashin, em Leningrado, ambos com fama de democratas, nomeados para reformar e controlar o KGB. Na verdade, contudo, os dois foram infiltrados no movimento democrático pelas Agências de Segurança do Estado e só mais tarde foram designados para cargos de direção nos novos serviços secretos para impedir a destruição do KGB pelos democratas. Embora, com o passar dos anos, muitos funcionários que trabalhavam em tempo integral ou como prestadores de serviços no KGB-MB-FSK-FSB tenham se transferido para o mundo dos negócios ou da política, Savostianov e Stepashin conseguiram preservar a estrutura global.

Além disso, o KGB estivera anteriormente sob o controle político do Partido Comunista, que, de certa maneira, funcionava como um freio às atividades das agências especiais, pois nenhuma operação importante era possível sem a autorização do Politburo. Depois de 1991, o MB-FSK-FSB começou a operar na Rússia de forma absolutamente independente e sem controles, à parte o controle exercido pelo FSB sobre seus próprios agentes. Sua disseminada estrutura predatória já não era mais contida nos limites da ideologia ou da lei.

Depois do período de confusão resultante dos acontecimentos de agosto de 1991 e da equivocada expectativa de que os agentes do KGB cairiam no mesmo ostracismo que o Partido Comunista, os serviços secretos deram-se conta de que a nova era, livre da ideologia comunista e do controle do partido, oferecia certas vantagens. O antigo KGB pôde lançar mão de seus amplos recursos de pessoal – tanto oficiais como extra-oficiais – para posicionar seus agentes em praticamente todas as esferas de atividade no vasto território russo.

Antigos elementos de destaque do KGB começaram a surgir  nos mais altos escalões do Poder, não raro sem serem notados pelos não iniciados: os primeiros eram agentes secretos, mas logo viriam também antigos funcionários. Na linha de apoio a Yeltsin, desde o início dos acontecimentos de agosto de 1991, estava Alexander Vasilievich Korjakov, ex-guarda-costas de Yuri Andropov, que havia sido presidente do KGB e Secretário-Geral do PC. O coronel aposentado do GRU, Bogomazov, chefiava o Serviço Secreto do Grupo Mikom, e o vice-presidente do Grupo Financeiro e Industrial era N. Nikolev, que passara 20 anos no KGB e chegara a trabalhar sob as ordens de Korjakov.

Filipp Denizovich Bobkov, general de quatro estrelas e primeiro vice-presidente do KGB da URSS, que na era soviética fora por muito tempo o chefe da chamada “quinta linha” do KGB (investigação política), foi empregado pelo magnata Vladimir Gusinsky. A “quinta linha”contabilizava entre seus maiores êxitos a expulsão do país de Alexander Soljenitsin e Vladimir Bukovsky, assim como a detenção, durante muitos anos, daqueles que pensavam e diziam o que consideravam certo e não o que o partido ordenava o que pensassem e dissessem. Anatoly Sobchak, prefeito de Leningrado (S. Petersburgo), e destacado líder do movimento reformista na Rússia, era apoiado por outro homem do KGB: Vladimir Putin. Nas palavras do próprio Sobchak, isto significava que “o KGB controla S.Petersburgo”.
A forma com que todo esse esquema foi montado veio a ser descrita pelo diretor do Instituto Italiano de Política e Economia Internacional, Marco Giaconi:

“As tentativas do KGB de assumir o controle das atividades financeiras de várias empresas seguem sempre o mesmo padrão. A primeira etapa tem início quando gangsteres tentam vender proteção ou usurpar direitos. Em seguida, agentes especiais dirigem-se a essas empresas para oferecer ajuda na solução de seus problemas. A partir desse momento, a empresa perde a independência para sempre. Inicialmente, uma empresa que cai na armadilha do KGB encontra dificuldades para conseguir crédito, podendo inclusive sofrer graves reveses financeiros. Posteriormente, poderá receber concessões para comercializar em setores como alumínio, zinco, alimentos, celulose e madeira, recebendo um forte estímulo para o seu desenvolvimento. É nesse estágio que vem a ser infiltrada por agentes do KGB, tornando-se uma nova fonte de renda para a organização”.

A língua russa incorporou uma nova palavra – oligarca -embora fosse evidente que nem o mais rico indivíduo do  país pudesse ser considerado um oligarca no sentido literal, pois carecia do componente básico da oligarquia: Poder, pois o verdadeiro poder continuava nas mãos do serviço secreto. 

Gradualmente, com a ajuda de jornalistas que também eram agentes do FSB e do SBP, e de todo um exército de escribas inescrupulosos sedentos de sensacionalismo, os poucos “oligarcas” do mundo dos negócios da Rússia, passaram a ser chamados de ladrões, escroques e até assassinos. Enquanto isso, os criminosos realmente criminosos, assenhoreando-se de um verdadeiro poder oligárquico e embolsando bilhões em dinheiro jamais registrado em contabilidade regular, estavam aboletados em suas mesas de diretores nas agências coercitivas do Estado: o FSB, o SBP, o PSO, o SVR, o Departamento Central de Inteligência (GRU), a Promotoria Geral, o Ministério da Defesa (MO), o Ministério do Interior (MVD), a Alfândega, a Polícia local, e assim por diante.

Esses eram os verdadeiros oligarcas, os cardeais cinzentos e os gerentes das sombras no mundo dos negócios russos e na vida política do país. Detinham o verdadeiro Poder ilimitado e sem controles. Protegidos pelo fato de pertencerem aos serviços de segurança, eram verdadeiramente intocáveis. Abusavam rotineiramente das prerrogativas de seus cargos, levando propinas e roubando, acumulando capital e envolvendo seus subordinados em atividades criminosas.

Finalizando, observa-se que os problemas mais fundamentais da Rússia moderna não decorrem das reformas radicais do período liberal dos mandatos de Yeltsin como presidente, mas sim da resistência declarada ou clandestina às reformas pelos serviços secretos russos. Foram eles que desencadearam a primeira e a segunda  guerras na Chechênia, para desviar a Rússia do rumo da democracia, em direção à ditadura, ao militarismo e ao chauvinismo. Foram eles que organizaram uma série de atentados terroristas em Moscou e outras cidades russas, como parte de suas operações destinadas a criar as condições para essas duas guerras.

Em algum momento, quando forem abertos os arquivos do Ministério da Defesa russo, será aberto o acesso a esses documentos militares: mapas, planos, diretivas, ordens do dia para ataques aéreos e a mobilização de forças terrestres. Neles, haverá datas. Surgirão, então, em que medida terá sido espontânea a adesão do governo russo de dar início às operações terrestres na Chechênia, e se o Estado-Maior já concluíra o planejamento das operações militares antes do primeiro atentado.

Então, perguntaremos a nós mesmos porque os atentados ocorreram ANTES da campanha eleitoral e da incursão na Chechênia, e cessaram depois da elevação de PUTIN à presidência e do início da guerra total contra a República da Chechênia – no exato momento em que os chechenos poderiam querer vingar-se de seus invasores -. Respostas completas e definitivas para essas questões somente virão à tona quando o Poder tiver mudado de mãos na Rússia.

Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

sábado, 4 de junho de 2016


Lava Jato de olho na Cultura da Corrupção


Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

Excetuando as velhinhas de Taubaté, que acreditam até na revogação da lei da gravidade por ordem do Supremo Tribunal Federal, qualquer cidadão que não raciocine com o intestino sabe que o Brasil paga um altíssimo preço e, função da cultura da corrupção. Agora, o ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Torquato Jardim, tem um pepino para descascar: terá de escancarar, de forma transparente, como funciona o submundo do financiamento de iniciativas culturais por meio da Lei Rouanet.

A pedido da Força Tarefa da Operação Lava Jato, no último dia 30 de maio, o delegado da Polícia Federal Eduardo Mauat mandou um ofício ao Ministério da Transparência pedindo detalhes sobre os 100 maiores recebedores e captadores, via lei de incentivo cultural, nos últimos dez anos. O pedido da PF inclui até os nomes dos pareceristas que aprovaram projetos por meio de incentivos fiscais para pessoas físicas e jurídicas. A turma da "República de Curitiba" quer dar uma olhada na prestação de contas dos projetos. Também quer saber a origem do dinheiro que financiou projetos em troca do abatimento de pagamentos de impostos.

Além de cobrar detalhes da turma chefiada agora por Torquato Jardim - que enxerga com ceticismo resultados que a Lava Jato possa produzir -, seria fundamental fazer a mesma cobrança ao Tribunal de Contas da União. Todos os processos da famosa Lei Rouanet (criado no governo de Fernando Collor, em 1991) são obrigados a passar pelo crivo posterior do TCU. É fundamental, em nome da transparência, uma devassa na aplicação dos recursos do Fundo Nacional de Cultura e dos diferentes fundos de Investimento Cultural e Artístico. Não importa se isso vai causar caganeira nos empresários e nos melhores e mais famosos artistas do Brasil.   

Enquanto Torquato e sua equipe "se viram nos 30" para responder à turma da Lava Jato, nada custa chamar a atenção para uma boa polêmica. No dia 18 de maio, talvez sem nem cogitar que ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Torquato Jardim deu uma interessantíssima entrevista ao jornal "Diário do Povo do Piauí", na qual chama atenção, de forma sincera e transparente, para aspectos da cultura da corrupção no Brasil. As reflexões do Torquato merecem ficar anotadas como temas para debates:

"Nada aqui é relevante para a história da humanidade. Estamos sempre imitando o modelo de alguém a todo tempo, e não chegamos a lugar nenhum. Nunca paramos para pensar quem nós somos".

"Vivemos num país em crise. Não sei qual a esperança que temos. O Brasil vive da ração e não da razão. O estado de São Paulo reelegeu todos que eram réus no Mensalão, menos um deputado federal. Qualquer programinha social onde se distribua bônus disso, bônus daquilo, se ganha a eleição".

"O que mudou com o impeachment de Collor? O que mudou no Brasil depois da CPI do Orçamento quando os sete anões foram cassados? O que mudou com o mensalão? O que vai mudar com a Lava-Jato? Enquanto o mensalão estava sendo condenado, a Lava-Jato estava sendo operada. Eles aconteceram ao mesmo tempo".

"Partido político hoje é uma central de negócios, todos com o mesmo programa, todos querem a mesma coisa. Você tem 35 partidos políticos no TSE, 28 no parlamento, 28 fazendo manobra para ganhar dinheiro, ganhar cargo público. Já se formou um novo centrão, com quase 20 partidos, 350 deputados para fazer pressão no presidente Michel Temer para conseguir mais cargos. É isso que é o partido político hoje no Brasil, um balcão de negócios. Isso não é governabilidade, é em nome da corrupção e da safadeza".

Torquato Jardim mandou bem... No cargo que já começou criando problemas para a imagem do governo provisório de Temer - já que o ex-ministro Fabiano Silveira acabou vitimado pela participação especial nas conversinhas indiscretas gravadas pelo delator premiado Sérgio Machado -, Torquato Jardim tem o desafio complexo de tentar promover a transparência em meio ao mesmo "balcão de negócios" que criticou antes de ser nomeado.

O primeiro grande pepino será divulgar para a Lava Jato como funciona o nada transparente e refinado processo de corrupção na área cultural - o que pode arrasar com a imagem de muitos artistas campeões de audiência. Se tal transparência em excesso prejudicar contratados a peso de ouro pela Rede Globo corre o risco de não ganhar uma divulgação tão transparente em nossa mídia de mérdia...   

Recado inteligente

Vale alertar por 13 x 13: Tornou-se um consenso de que não dá mais para o Brasil ficar refém da desgovernança do crime organizado. As mudanças profundas virão. O processo é irreversível. Tem apoio de fora para dentro. A inteligência do mercado financeiro norte-americano anda trabalhando pesadamente por aqui. Tudo se vê e tudo se sabe sobre os submundos de nosso Capimunismo.

As instâncias do judiciário comprometidas com as coisas corretas nunca receberam tanto apoio e incentivo para cumprirem seu dever institucional, como nos últimos tempos pós-Lava Jato. Nesta guerra do fim dos imundos, de todos contra todos, é preciso ficar atento ao movimento de depuração entre a turma do judiciário e a do "judasciário"...

As esfinges de capa preta, com apoio estratégico e operacional inteligente, estão prontas para devorar muitos corruptos. Se Michel Temer der apoio efetivo e concreto ao movimento pode se dar bem. Do contrário, pode planejar a aposentadoria forçada para breve...

Releia o artigo: As Esfinges de Capa Preta vão detonar os corruptos

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O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos. 

A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento.

© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 4 de Junho de 2016.

Encheção de Linguiça


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos Maurício Mantiqueira

Até o fim da novela dANTesca haverá muita encheção de linguiça.

“Os acontecimentos se precipitam...” Uma ova, só o molusco está com o pé na cova.

No empiche, cada dia novas intrigas e empurração com as barrigas.

A classe política já percebeu que a mamata se termina; vai até o afastamento da mina.

Haverá uma romaria de chantagistas de última hora.

Mas na “H” liquidam a Anta pois sua volta representaria uma hecatombe.

Aí dona Onça acordaria pra tirar essa gente calhorda.

Se ela atravessar o Rubicão do “politicamente correto”, é o fim da novela e dos poderosos de hoje encherá primeiro o reto.

Não se salvarão nem capa-pretas nem batinas. Cardeais, bispos ou padrecos. Frei analfabeto ou só beto. Sem anal, sem fá, “ bééé !”; só top, top. O bom cabrito não berra; sabe que perdeu a guerra.

Após o empalamento de alguns intelectuais, bagunça e mentiras neste país nunca mais.

Chororôs, Buás ou buarquis , tremelique à la fernandenrique, sarnentos que não sabem mais sentir os ventos, verme que ainda pulula, Anta pior que manca mula e coloridos já fud.... erguerão a mão ao céu. É tarde; já terão ido pro beleléu.


Carlos Maurício Mantiqueira é um livre pensador, desde os tempos em que se amarrava cachorro com linguiça.

O Burguês e a Burguesia

Engels e Marx, em foto de família burguesa, no século XIX

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S. Azambuja

“Burguês” e “Burguesia” têm, na linguagem marxista, um sentido especial. “Burguês” é sinônimo de detentor do capital; de capitalista. Segundo Marx, esse burguês, esse membro da classe capitalista, surgiu, dialeticamente, da decomposição da sociedade feudal, trabalhada por contradições internas.

Em conseqüência das grandes descobertas, do surgimento de novos mercados, do acréscimo de mercadorias e dos meios de intercâmbio, cresceu a contradição entre a extensão das necessidades e o modo antiquado de produção: a oficina corporativa foi substituída pela manufatura. O processo manufatureiro tornando-se, por sua vez, insuficiente ante a ininterrupta ampliação dos mercados e das necessidades, deu lugar à grande indústria moderna, à máquina a vapor. E o burguês moderno surgiu no lugar da classe média industrial.

A burguesia moderna, classe atualmente dominante, é, pois, o produto de uma série de revoluções operadas no modo de produção, cada vez que as relações de produção existentes cessaram de corresponder ao desenvolvimento das forças produtivas, tornando-se, assim, entraves e cadeias que era forçoso quebrar.

Não será isso que ocorre, hoje, na URSS e países do Leste, de economias centralizadas, com as forças produtivas emperradas pelas relações de produção?

E, como a história política nada mais faz do que refletir as mudanças na diferenciação social, cada um desses estágios de desenvolvimento da economia é acompanhado do correspondente progresso político, modificando a superestrutura da sociedade. Nesse sentido, segundo o Manifesto Comunista, “o governo moderno é apenas uma delegação que rege os negócios comuns de toda a classe burguesa”.

O Manifesto não poderia condenar – como, aliás, não condenou – essa ávida ascensão da burguesia à supremacia econômica e política, pois tal condenação seria anti-dialética...

Um revolucionário dialético, científico, deve saber reconhecer a “necessidade histórica” da ascensão da burguesia, e mesmo aplaudir essa classe social pelo papel eminentemente revolucionário que desempenhou desde a Idade Média. Papel revolucionário em matéria econômica,  bem entendido. Isso está claro no Manifesto Comunista:

“Por toda a parte aonde chegou ao Poder, a burguesia destruiu todas as condições feudais, patriarcais, idílicas. Dissolveu impiedosamente os vínculos feudais, complexos e variados que uniam o indivíduo ao seu superior natural, não deixando subsistir, de homem a homem, outro vínculo que não o interesse descoberto, o impossível pagamento em dinheiro (...) Despojou de sua auréola todas as atividades até então respeitadas e consideradas com piedosa veneração. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio, fez meros assalariados. Arrancou das relações familiares o véu do doce sentimentalismo, reduzindo-as a simples relações financeiras (...).”

E mais ainda: sua centralização econômica e demográfica conduziu-a, necessariamente, à centralização política. Províncias independentes, que mal se achavam federadas, tendo cada uma os seus interesses, as suas leis, os seus governos, as suas alfândegas, condensaram-se em uma Nação única, um só interesse nacional de classe, uma só fronteira alfandegária.

Tornou cosmopolitas, pela exploração do mercado mundial, a produção e o consumo de todos os países. As nações mais bárbaras, ou da mais obstinada xenofobia, foram arrastadas na corrente da civilização. Isto é, tiveram que adotar os sistemas burgueses de produção, de comércio e de pensar.

Assim, a burguesia criou um mundo à sua própria imagem. Tudo perfeitamente lógico do ponto de vista do materialismo histórico.
Finalmente, devemos recordar a frase com a qual Engels dá a definição de materialismo histórico, que é o fundamental postulado em que se baseia o marxismo:
     
“A produção econômica e a organização social que dela resulta necessariamente para cada época da história constituem a base política e intelectual dessa época”.

Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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