"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

CRISE DE CONFIANÇA

O escândalo da Petrobras revela o desvirtuamento das empresas estatais e aumenta a indignação com a velha política

A confissão da roubalheira na Petrobras é mais uma contundente evidência da vergonhosa degeneração de nossas práticas políticas. A delação de importantes lideranças políticas, grandes empreiteiros e partidos da base de sustentação do governo que estariam envolvidos em bilionário esquema de corrupção é uma bomba eleitoral a atingir a candidatura de Dilma Rousseff. "É um novo Mensalão. Estamos disputando estas eleições contra um grupo que usa o dinheiro sujo da corrupção e assalta nossas empresas públicas para se manter no poder", acusa o candidato Aécio Neves.
Há uma enorme crise de confiança no establishment. Essa crise se desdobra em duas dimensões. A primeira é a dimensão política, a perda de confiança e a indignação com as práticas de governabilidade que alimentam uma interminável sucessão de escândalos. O Supremo tribunal Federal, sob a presidência de Lewandovski, afirmará nesta crise da Petrobras a independência do Judiciário exercida por Joaquim Barbosa no episódio do Mensalão? A indignação dos eleitores com a velha política derrubará um establishment que perdeu a decência no trato da coisa pública, buscando a regeneração pelas urnas? 
A segunda dimensão desta enorme crise de confiança já se instalou há tempos na economia. A ponto de o candidato tucano ter indicado antecipadamente Armínio Fraga como seu futuro superministro da área econômica. O que levou Dilma a garantir a não permanência de Guido Mantega. Marina Silva, ainda surfando na onda de desconfiança na velha política, não precisou se comprometer com nomes específicos, mas teve de assegurar a estabilidade monetária, a responsabilidade fiscal e a flutuação cambial.

Em meados do ano passado, em meio à inflação elevada e ao baixo crescimento, examinei um corolário da insatisfação dos eleitores de uma sociedade aberta com a perspectiva de anos de estagflação: "Ou a equipe econômica muda sua política, ou a presidente muda a equipe, ou o país vai mudar de presidente." O escândalo da Petrobras agudiza a crise de confiança na velha política. Agrava também a crise de confiança na economia ao revelar o desvirtuamento da atuação das empresas estatais. Malfeitos nas dimensões da ética e da economia podem derrubar as intenções de voto em Dilma nesta reta final.

11 de setembro de 2014
Paulo Guedes, O Globo
 

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