"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 9 de agosto de 2014

GOVERNO BRIGA COM OS NÚMEROS



 
Qualquer analista independente, olhando os números da economia e das finanças públicas do Brasil percebe que, enquanto estão caindo os indicadores que deveriam subir, estão subindo os que deveriam cair. Sobram gráficos desse tipo nas telas de qualquer perito. Quando situações assim ocorrem é impossível querer revogar a regra de gestão segundo a qual são cumulativas as consequências dos erros não admitidos e não corrigidos.

Foi o que o analista do Banco Santander percebeu e expôs no relatório encaminhado aos clientes preferenciais da instituição, ou seja, àqueles com maior interesse em aplicações financeiras. Deu chabú. O presidente do partido do governo bradou que se tratava de “terrorismo eleitoral”. A presidente Dilma proclamou ser “inadmissível o mercado interferir na política”. Como é que é? A presidente parece imaginar que o mercado seja uma pessoa com maus sentimentos.
No entanto, o leitor destas linhas sabe que entre as várias dimensões da pessoa humana se incluem a dimensão política e a econômica. Portanto, falar mercado e falar eleitorado é falar dos mesmos. O mercado não é formado por um conjunto de seres abstratos, mas por pessoas que trabalham, compram, consomem e votam.

Estranho, muito estranho, foi perceber que a bronca do governo surtiu efeito. A direção do banco desculpou-se, afirmou ter havido um erro, que aquela era a opinião de um funcionário e explicitou sua convicção no sentido oposto: a economia brasileira seguirá bem sucedida trajetória de desenvolvimento. Falar mal dizendo a verdade não pode. Falar bem ocultando a verdade pode.

“CRESCIMENTO ESPETACULAR”

Se tudo isso lhe parece muito, aguarde que tem mais. No dia 27, à mesma entrevista coletiva em que o banco reagiu e virou pelo avesso o relatório do seu analista (isso sim é que foi impróprio), o presidente da Telefónica se manifestou confiante em que “o Brasil vai ter um crescimento espetacular” e que “os governantes deste país fizeram um trabalho espetacular” e que “os brasileiros têm que estar orgulhosos”.
Espetacular, mesmo, é que ninguém, no governo ou na mídia, considerou inadequada tal declaração, emitida por cidadão estrangeiro, presidente de uma empresa multinacional operando no Brasil. Arre!

Na terça-feira, foi a vez do FMI, em análise do setor externo das 28 maiores economias do mundo, afirmar que a brasileira apresenta sinais de moderada fragilidade, sendo uma das economias emergentes mais vulneráveis a mudanças no cenário mundial. Guido Mantega não acusou o FMI de fazer política, mas desqualificou o relatório. Sendo assim, os erros persistirão e as consequências, permanecerão cumulativas.

09 de agosto de 2014
Percival Puggina

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