"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 8 de julho de 2017

SEM TV AL-JAZEERA, TODA A IMPRENSA SERÁ ESTATAL, DIZ O EX-DIRETOR DO CANAL


Chanceleres dos países do Golfo se reúnem no Cairo para discutir crise com Qatar
Chanceleres árabes se reúnem para boicotar o Qatar
Ao apresentar sua lista de exigências ao Qatar para encerrar a atual crise diplomática, que inclui boicote político e comercial, os países árabes incluíram uma de suas antigas reivindicações: o fechamento da TV Al-Jazeera, financiado pelo governo qatariano. A Arábia Saudita e o Egito têm ojeriza à rede, o veículo de imprensa mais influente do Oriente Médio, que em 2011 apoiou as manifestações populares pelo fim dos regimes autocráticos na região.
A Al-Jazeera é acusada de dar voz a islamitas, como a Irmandade Muçulmana, e de servir como um braço da política externa do Qatar, que os países do Golfo acusam de financiar o terrorismo –razão dada para cortarem os laços diplomáticos em junho.
PELA LIBERDADE – São denúncias que o palestino Wadah Khanfar, 48 anos, ex-diretor do canal, refuta em entrevista à Folha.”A última instituição que ainda defende a liberdade no Oriente Médio é a Al-Jazeera”, diz. Ele comandou a rede de 2006 a 2011 e é visto como o grande responsável por sua projeção global.
“Se a Al-Jazeera fechar, isso significa que jovens na região estarão satisfeitos com seus regimes autoritários? Não. Haverá uma nova onda de protestos e violência.”
O prazo dado ao Qatar expirou nesta quarta-feira (dia 5), com sua negativa, e seus rivais se reuniram no Cairo para alinhar sua reação. Khanfar, que vive em Doha, esteve em Madri para participar de um debate sobre a crise do golfo Pérsico organizada pelo Common Action Forum, do qual é presidente.
O Qatar vai concordar com as exigências feitas pelos países do Golfo?
Wadah Khanfar – Não há com o que concordar. As condições impostas ao Qatar são muito parecidas àquelas impostas à Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). É uma humilhação, e essas condições foram pensadas exatamente para não serem aceitas.
A Al Jazeera vai fechar?
O Qatar não está interessado em considerar essa exigência. Houve imenso apoio público depois das sanções, e o canal ganhou mais força. Foi uma imposição estúpida. Ao pedir o fechamento de um canal, os países do Golfo indicaram que o problema deles é a liberdade de imprensa.
Por que a Al Jazeera incomoda tanto na região?
A Al Jazeera incomoda porque o canal esteve no centro da Primavera Árabe, em 2011. A Al Jazeera era pró-democracia, enquanto os sauditas financiavam as forças reacionárias. A última instituição que ainda defende a liberdade no Oriente Médio é a Al Jazeera. Se a destruírem, toda a imprensa será governamental.
Esses países argumentam que a Al Jazeera alimenta a insatisfação popular. Se o canal sumir, o que acontece?
Se a Al Jazeera fechar, isso significa que jovens no Cairo e em Amã e no resto da região estarão satisfeitos com seus regimes autoritários? Não. Haverá uma nova onda de protestos e violência.
Como esse canal ganhou tamanha importância?
Quando entrei, era chocante ver os líderes árabes de oposição, que nunca eram vistos publicamente, falando ao vivo na TV. Ouvíamos todos os lados, como os israelenses ou Osama bin Laden, proibidos de falar em outros canais.
Quando o sr. assumiu a direção, transformou um canal em uma rede influente.
O mais importante é que nós não transmitíamos de longe ou com enviados especiais, mas com bases locais. Nós nos misturamos à população, e as pessoas passaram a nos ver como algo orgânico.
A Al Jazeera é acusada de ser um canal islamita.
Em 2001, a principal corrente política no Oriente Médio era o islã político. Lidamos com isso e fomos acusados de apoiá-los. Em 2006, eram os partidos militantes locais, como o Hizbullah no Líbano, ou a disputa entre sunitas e xiitas no Iraque. Ao cobrirmos isso houve denúncias de que apoiávamos a guerra sectária. Mas nós não criamos tendências, apenas refletimos elas.
Mas o canal deu voz, por exemplo, ao polêmico islamita Yusuf al-Qaradawi, que apoiou atentados palestinos.
O islamismo radical nunca gostou da gente. O Estado Islâmico declarou que eu era um alvo. No Egito, a Irmandade Muçulmana era o principal partido opositor. Precisávamos ouvi-los, não era questão de gostar deles.
Outra crítica é a de que o canal é ferramenta de “soft power”, influência, do Qatar.
Se você tem uma rede de TV com tanto poder, é claro que ganha status, e o Qatar usou isso para aumentar sua presença no mundo. A Al-Jazeera virou uma ferramenta, mas não da maneira com a qual somos acusados. Tínhamos muitas disputas com o governo.
Depois de seu auge durante os anos 2000, o canal tem perdido prestígio, não?
Os ideais do canal sempre foram a liberdade de expressão e a democracia. Depois de 2011, boa parte desses valores se tornou escassa.

08 de julho de 2017
Diogo Bercito

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