O resultado da pesquisa divulgada nesta segunda-feira pelo Datafolha valeu manchete: “Apoio à esquerda sobe e repõe empate ideológico”, grita a primeira página da Folha. A crescente adesão a “idéias próximas da esquerda” é reiterada por três quintos da página 4, que detalha a fórmula usada para chegar-se à histórica descoberta. Espalhados por 194 cidades, os pesquisadores do instituto pediram a 2.771 entrevistados que escolhessem uma de duas opções sobre 16 temas. Pena que dois exemplos bastem para demonstrar que a sopa de porcentagens é intragável para paladares capazes de distinguir os sabores do sal e do açúcar.
No primeiro exemplo, o Datafolha decidiu que é de esquerda quem acha que a pobreza “está ligada à falta de oportunidades iguais”. Essa é a resposta que identifica um “progressista”. São de direita os 21% que imaginam que o fenômeno “está ligado à preguiça de pessoas que não querem trabalhar”. Essa resposta exibe a face escura de um “conservador”.
MIGRANTES – No item que trata de migração, a maioria de esquerdistas (70%) entende que “pobres que migram contribuem para o desenvolvimento da cidade. Os 24% de direitistas acreditam que “pobres que migram acabam criando problemas para a cidade”. Haja reducionismo.
A soma das opções disponíveis garante que, no país imaginário do Datafolha, bondosos progressistas lutam para salvar a nação dos brucutus conservadores. No Brasil real, até os doidos de hospício sabem que a corrupção impune foi institucionalizada pelos vigaristas do PT fantasiados de guerreiros do povo brasileiro, e mantida por delinquentes do PMDB que nunca foram de esquerda, nem de centro e nem de direita. Esses ajuntamentos de ladrões jamais perderam tempo com reflexões ideológicas. O que eles sempre quiseram foi roubar sem perigo de cadeia.
Dividir um país como o Brasil de 2017 em esquerda e direita é maluquice de viúva da Revolução Francesa. Os devotos de simplificações indigentes fariam melhor se separassem os moradores da Terra em duas tribos: a dos homens honrados e a dos corruptos sem cura.
08 de julho de 2017
Augusto Nunes
Veja
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