O advogado de Michel Temer apresentou sua defesa à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. A peça parece inspirada no vocabulário barroco do presidente. Recorre a mesóclises e a adjetivos de antanho para rebater a denúncia que o acusa de corrupção.
Antônio Cláudio Mariz de Oliveira descreve Temer como um “homem público probo e digno, com uma imaculada trajetória”. Ele sustenta que o presidente não cometeu crimes. Foi apenas vítima de “cerebrinas elucubrações”, feitas de forma “malévola” pelo Ministério Público Federal.
CRIAÇÃO FICCIONAL – Nas palavras do causídico, as acusações são “assertivas gratuitas, jogadas ao léu, fruto de admirável esforço intelectual para a criação ficcional”. “Mostrar-se-á a inconsistência desses fatos”, promete o advogado. Algumas páginas adiante, ele sustenta que ligar Temer à mala de dinheiro entregue a seu assessor não passa de uma “infamante acusação”.
Para o doutor Mariz, a denúncia que pode afastar seu cliente do cargo é “chocha e capenga, carente de imputações sérias e substanciosas”. Ele diz que Temer não fez mal em receber Joesley Batista nos porões do Jaburu, tarde da noite, sem registro na agenda. “Jamais suporia tratar-se também de um criminoso do colarinho branco”, alega o advogado.
MANIPULAÇÕES – A defesa insiste na tese de que a gravação sofreu “manipulações fraudulentas”, embora a Polícia Federal tenha afastado essa hipótese. Mariz prefere confiar no perito Ricardo Molina, que foi contratado por Temer.
Por fim, o advogado critica os jornalistas que cobrem o escândalo. Ele diz que o presidente é “vítima de torpe e infame tratamento dispensado por parte de uma imprensa irresponsável e leviana”. Após entregar a defesa, ele procurou os mesmos jornalistas para dar uma entrevista. “Essa acusação não é contra um cidadão comum. É contra o presidente da República e contra o Brasil”, declarou.
Segundo o Datafolha, 83% dos brasileiros acreditam que Temer teve envolvimento direto em corrupção.
08 de julho de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha
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