A oportunidade foi excelente. As centrais sindicais – todas elas, sem exceção – desta vez se uniram para protestar e investiram pesado na convocação, gastando recursos próprios para bancar transporte, estadia e alimentação de dezenas de milhares de militantes, que viajaram a Brasília com objetivo específico de botar para quebrar, como se dizia antigamente. Em alguns ônibus que interceptou, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu facões, barras de ferro e bastões de madeira a serem usados na balbúrdia. Os manifestantes levaram até coquetéis molotov e explosivos, e um jovem ativista perdeu os dedos quando a bomba explodiu prematuramente.
Tudo isso é grave, gravíssimo, porque prenuncia uma guerra civil que está só começando e vai se agravar nos próximos dias, se o inconsequente governo de Michel Temer insistir nessa política suicida de misturar problemas trabalhistas e questões sindicais, como se fossem a mesma coisa, pois na verdade são muito diferentes.
IRRESPONSABILIDADE – O bom senso recomendava que o governo mandasse retirar da pauta as reformas da Previdência e da CLT, para acalmar os ânimos. Mas o presidente Temer fez justamente o contrário, ao pressionar as lideranças da base aliada a aprovar logo as propostas, ambas altamente controversas.
Com o poder desmoronando sob seus pés, cercado de ministros e assessores corruptos, mesmo assim o governo Temer sonha em seguir em frente. Sem criatividade, o presidente adota a mesma estratégia de seus antecessores Lula da Silva e Dilma Rousseff, alegando estar sendo vítima de perseguição política, quando todos sabem que as verdadeiras vítimas são as instituições brasileiras e o interesse público.
Agarrando-se na simulação, Temer procurou se aproveitar do estrago que os sindicalistas fizeram em Brasília nesta quarta-feira , com apoio dos movimentos sociais, dos petistas e de seus aliados. E para se fazer de vítima, o presidente então convocou as Forças Armadas para patrulhar a Praça dos Três Poderes e justificar sua permanência no poder.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – As aparências enganam. Não cabe às Forças Armadas esse tipo de policiamento, não têm condições nem verbas para fazê-lo. Quem dispõe de escudos, máscaras, coletes, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo e spray de gás de pimenta é a Polícia Militar. A convocação das Forças Armadas é apenas figurativa, uma fugidia demonstração de força, pois o próprio ministro da Defesa Raul Jungmann logo anunciou que os militares só devem ficar por 48 horas, vejam a que ponto chega a desfaçatez dessa gente.
O pior é que Jungmann atribuiu a decisão de convocar os militares a um pedido que teria sido feito pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que imediatamente deu entrevista desmentindo. Não pediu nada. Foi decisão do Planalto, em manobra de objetivo meramente político.
Mas isso já não interessa. O importante é que o grave problema seja enfrentado de frente para ter solução, mas ninguém nem se preocupa sequer em equacioná-lo.
O GRANDE DESAFIO – No momento, a reforma da CLT não é mais a questão a ser abordada. O grande problema é a República Sindicalista que foi se consolidando através dos tempos e se tornou um braço do PT, financiado pela contribuição anual obrigatória dos trabalhadores e pelos repasses do Sistema S (Sesc, Senai etc.). É a República Sindicalista que está em jogo, por isso todas as centrais sindicais estão unidas nesta guerra.
Se o governo mirasse o interesse público, se apressaria em separar as questões, sem querer resolvê-las simultaneamente. A reforma da CLT é uma coisa e já está parcialmente feita, com a terceirização radical, enquanto a questão sindical é outro departamento. Misturar as estações é uma política explosiva, que ameaça a democracia, mas Temer e sua gangue não estão nem aí.
MISSÃO PRINCIPAL – Nesse aspecto, o maior desafio brasileiro é derrubar a República Sindicalista, e as Forças Armadas realmente devem ser convocadas com esta finalidade. E, por ora, é preciso esquecer a reforma da CLT terceirizada e concentrar esforços na derrubada da contribuição anual e dos repasses obrigatórios do Sistema S.
O pior problema nacional é este, mais grave até do que o crescimento da dívida pública, passível de ser solucionado sem a ocorrência de uma guerra civil, que as centrais sindicais já estão declarando, com apoio dos exércitos do Stédile, do Boulos, dos Black Blocs, da UNE, do PT, da Mídia Ninja e do Fora do Eixo, entre outros supostos movimentos sociais, se é que podemos chamá-los assim.
###
PS – A convocação das Forças Armadas recebeu apoio imediato em Brasília, porque o governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) é totalmente omisso, em termos de Saúde, Educação e Segurança, conforme informou nesta quarta-feira José Carlos Werneck aqui na Tribuna da Internet, ao destacar que o ministro Jungmann não teve nem mesmo a delicadeza de consultar o governo do Distrito Federal, antes de Temer baixar o decreto. Ou seja, Rollemberg é um governador inteiramente desprestigiado. (C.N.)
25 de maio de 2017
Carlos Newton
Nenhum comentário:
Postar um comentário