"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 30 de agosto de 2014

MÃOS QUE EMBALAM MARINA (ALÉM DO DESTINO)

 



Inúmeras mãos - visíveis a olho nu ou ainda submersas nas profundezas do imaginário nacional – embalam a ex-senadora e ex-ministra ambientalista Marina Silva.

"Esse vulcão" humano e eleitoral avassalador em que se transformou a acreana aparentemente frágil de 50 quilos e 1.65 metro de altura, substituta do jovem e vigoroso ex-líder pernambucano nesta formidável corrida presidencial em curso no Brasil

A metáfora telúrica do vulcão tomei por empréstimo da biografia referencial sobre o cineasta Glauber Rocha, escrita e publicada há mais de uma década – e mais atual que nunca - por João Carlos Teixeira Gomes: jornalista, poeta, culto ensaísta literário e indomável polemista da Academia de Letras da Bahia.

Glauber, só para lembrar aos de memória curta, foi um bravo e genial criador de cinema. Figura com reconhecimento mundial. Revolucionário e inflexível santo guerreiro em permanentes batalhas contra diabos sociais e pessoais: do atraso político, da miséria econômica e cultural, da mendicância ideológica, defensor imbatível do pensamento crítico e livre.

Demolidor de preconceitos de todos os tipos, declarados ou dissimulados sob quaisquer disfarces, incluindo os culturais e religiosos de que ele próprio foi vítima até a morte.

Não custa lembrar, mesmo ciente que muitos irão considerar uma comparação tola e despropositada: Glauber Rocha, a exemplo da evangélica Marina, era um crente da Igreja Batista que jamais abdicou dos sentimentos religiosos e éticos.

E o que tem isto a ver com o fenômeno Marina Silva e os acontecimentos extraordinários da política e da campanha eleitoral destes dias finais de agosto de 2014? Das entrevistas de vozes ásperas, dedos em riste, acusatórias ou quase condenatórias? Das guinadas abruptas dos programas eleitorais no rádio e TV? Dos ataques e insinuações quase inimagináveis (pela invencionice e grosseria) que grassam nas conversas, "informações" e comentários nas redes sociais?

Não sei e prefiro deixar as respostas para os leitores.

O que faço é repetir aqui o estafeta, no seu diálogo inesquecível com o poeta Pablo Neruda, no paraíso imaginário do exílio, criado no livro do chileno Antonio Skármeta, "O Carteiro e o Poeta", transformado em filme antológico e que faz pensar: "A poesia não pertence a quem a escreve, mas a quem precisa dela".

Mas que ninguém se engane - nem os mais crentes, nem os incrédulos mais empedernidos. Além daquelas invisíveis e imponderáveis, outras mãos e braços fortes sustentam, embalam e ajudam a explicar e entender esse vulcão chamado Marinha Silva. Forças e pessoas bem mais explícitas e objetivas, ao lado de outras não totalmente declaradas ou impossíveis, ainda, de ver com clareza sem uso de instrumentos que ajudem a enxergar mais longe ou no escuro.

As palmas mais numerosas e decisivas que sustentam a agora candidata socialista, na espantosa aprovação revelada nas pesquisas, são aquelas que silenciosamente (mas aos borbotões) ressurgem em cada ponto do País dos gritos das ruas e dos protestos de junho do ano passado.

Os jovens, principalmente, somados aos descrentes nos políticos em geral, e no governo petista de Dilma em particular.

"A Dilma e seu governo fizeram cinco pactos para atender às vozes das ruas e não cumpriu nenhum", diz Marina. Ou como disse Eduardo Campos, na entrevista a Bonner e Patrícia Poeta no Jornal Nacional, na véspera de sua morte: "Dilma é a única presidente, da história, que vai entregar o país a seu sucessor pior do que encontrou". 

Preferiu apostar na velha política da dicotomia PT x PSDB, no mito que o marketing resolve tudo na hora H, nas conversas de confessionário com o Bispo Macedo, no suporte "imutável" do poder econômico ou na força eleitoral dos homens e mulheres do agronegócio. Ou da "incompatibilidade" de Marina (que chamam de xiita da floresta) com outras religiões ou com os poderosos do sistema financeiro e da "grande mídia".

Tudo parece desmoronar agora como castelo de areia.

Relata o jornal espanhol El País, em reportagem destacada de sua sua edição para o Brasil: "Se nas redes sociais se estabeleceram os debates contra e a favor do avanço da ambientalista, na Bolsa de Valores de São Paulo ela já é tida como a próxima titular no Palácio do Planalto.

A bolsa fechou nesta quarta-feira em 60.950 pontos, seu melhor resultado desde janeiro de 2013. Os analistas atribuem o desempenho à divulgação da pesquisa eleitoral, que colocou Marina num movimento ascendente, com capacidade de bater Rousseff no segundo turno. “

A Marina é o nosso Obama”, diz Tony Volpon, chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes da Nomura Securities”.

Ontem, sexta-feira, 29, Dilma baixou de surpresa em Salvador, com seus coordenadores de campanha e de marketing.

Em suas novas vestes de modéstia e de freqüentadora de “bandejão”, a petista, ocupante do Palácio do Planalto em disputa da reeleição, veio tentar reacender, no Pelourinho, a chama de antigos pactos de Lula com as lideranças da cultura negra e dos cultos afro-brasileiros dos terreiros de candomblé.

Enquanto isso, Aécio, do PSDB, só faz minguar.

O resultado, o tempo, o povo e o destino dirão.

30 de agosto de 2014
Vitor Hugo Soares é jornalista

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