Por que motivo os políticos não pedem a aposentadoria? Conversava tempos atrás com um amigo sobre um conhecido político português. Que, apesar de idade respeitável, continua à solta, debitando inanidades atrás de inanidades.
Ele, com bonomia, replicou: ser político não é diferente de ser músico, pintor ou escritor. Uma questão de paixão. Ninguém espera que um artista deixe de pintar ou escrever só porque atingiu uma qualquer idade. Quem ama o que faz, ama até ao fim.
E, apesar da política partidária ser (para mim) caminho interdito, é preciso compreender as paixões alheias, tão legítimas (ou ilegítimas) quanto as minhas.
Falou e disse. Calei e fui-me. E agora, na Tate Modern, é impossível não lembrar a conversa. Nos últimos 14 anos de vida, Henri Matisse (1869 – 1954) já tinha idade (e doença) para pendurar as chuteiras. O trabalho estava feito: a pintura moderna é incompreensível sem ele, ou seja, sem entender a continuidade que o francês deu a Gauguin (na planificação antinaturalista das formas) e, claro, a Cézanne, pai de todos os “fauves”.
Mas Matisse não pendurou as chuteiras. Com a ajuda de assistentes, em especial de Lydia Delectorskya, começou a usar tesouras quando já não conseguia usar tintas e pincéis. O resultado são os famosos “gouaches découpés”, ou seja, recortes em papel colorido aplicados sobre a tela.
Todas as composições valem a pena – a começar pelas colagens que fez para o seu estúdio em Vence. Mas a exposição tem o bónus de vermos em filme o próprio Matisse, nos últimos tempos de vida, recortando um lençol de papel com um gesto só – uma energia infantil, habilidosa, audaz, própria de quem acredita ter o futuro inteiro à sua espera.
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