Dando continuidade ao esforço de desfazer o mito de que a Escandinávia é o “socialismo que deu certo”, segue mais um artigo apresentando dados que refutam tal tese:
“O melhor lugar para achar uma mão que ajude é no final do seu braço.” (Provérbio Sueco)
Muitos são os que utilizam o relativo sucesso escandinavo para defender o modelo do Estado de bem-estar social. Essas pessoas argumentam que elevados impostos e um extenso “welfare state” são benéficos para a economia e a população, ignorando a relação causal entre as coisas. Na verdade, os países com pesado “welfare state” ficaram ricos a despeito desse modelo, não por causa dele.
Se replicarmos tal modelo na África miserável de hoje, teremos apenas mais miséria. O economista Stefan Karlsson, que trabalha na Suécia, escreveu para o Mises.org um artigo chamado “The Sweden Myth”, visando a derrubar certas falácias sobre o modelo escandinavo. Veremos expor em tradução livre os principais pontos do autor.
Até a segunda metade do século XIX, a Suécia era bem pobre. Mas reformas de livre mercado adotadas nos anos 1860 permitiram que o país se beneficiasse da crescente revolução industrial. A economia rapidamente se industrializou durante os séculos XIX e XX, vendo aumentar bastante o número de empreendedores e inventores.
Surgiram empresas como a Volvo, Saab e Ericsson. Além disso, um fator que muito contribuiu para a prosperidade sueca foi o seu afastamento de ambas as guerras mundiais, que destroçaram a Europa. Desde 1809, a Suécia não participa de guerra alguma. Juntando tudo isso, a Suécia teve o maior crescimento de renda per capita do mundo entre 1870 e 1950, tornando-se uma das nações mais ricas do globo.
Porém, as sementes de grandes problemas já haviam sido plantadas em 1932, quando os social-democratas subiram ao poder por conta da Grande Depressão. A expansão do governo na economia foi assustadora, mas vindo de uma base bem pequena. Os gastos estatais eram inferiores a 10% do PIB. Mesmo nos anos 1950, a Suécia ainda tinha uma das economias mais livres do mundo, e os gastos estatais eram menores que o dos americanos.
Mas entre 1950 e 1975, os gastos subiram de 20% para 50% do PIB. As mudanças tornaram o país menos competitivo em termos globais, e a moeda, o krona, acabou sendo desvalorizada. A inflação começou uma escalada contínua. A insatisfação era grande, e uma coalizão de centro-direita chegou ao poder em 1976, quebrando 44 anos de gestão ininterrupta dos social-democratas.
Entretanto, os partidos de centro-direita não estavam dispostos a levar adiante reformas liberais mais radicais. Quando privilégios são concedidos, dificilmente um governante enfrenta sua retirada impopular. A inflação continuava incomodando e a moeda foi novamente desvalorizada.
Em 1986, o mais pragmático Ingvar Carlsson tornou-se Primeiro Ministro, e implementou várias reformas de livre mercado. Aboliu os controles de moeda e reduziu impostos. Como quase todo remédio, o impacto imediato foi amargo. No começo dos anos 1990, a economia estava em queda, enfrentando certos ajustes necessários por anos de irresponsabilidade do governo.
A crise do petróleo causada pela invasão ao Iraque agravou a situação. Somando tudo, a economia sueca estava em recessão no começo da década de 1990, com o emprego caindo mais de 10% e o déficit fiscal subindo para mais de 10% do PIB. Em termos de renda, a Suécia ficou perto da vigésima posição no mundo, uma queda que jamais foi recuperada.
Novas reformas foram adotadas, privatizações foram feitas e vários setores foram desregulamentados. O déficit fiscal foi eliminado. Essas reformas liberais permitiram uma certa recuperação da economia sueca. O Banco Central sueco, Riksbank, adotou uma meta inflacionária de 2% ao ano. Ainda assim, a renda per capita da Suécia, perto de US$ 30 mil [hoje é US$ 40 mil], está bem aquém da americana, perto de US$ 40 mil [hoje é US$ 50 mil].
A renda de Cingapura, que não contava com o acúmulo de riqueza da Suécia nem com seus recursos naturais, já colou na sueca [hoje, já ultrapassou a americana e está em US$ 60 mil], graças ao modelo de ampla liberdade econômica.
Até mesmo em uma nação que já era rica e com apenas 9 milhões de habitantes, o peso do “welfare state” tem sido duro de carregar. Os incentivos – e indivíduos reagem a incentivos – não encontram-se no lugar adequado. Quando o “papai” Estado oferece tudo “grátis”, há menos incentivos para o trabalho e o sustento por conta própria. A epígrafe no começo do artigo mostra que nem sempre os suecos ignoraram esta obviedade.
Usar a Suécia como ícone de sucesso do modelo de “welfare state” é, como vimos, uma falácia. Na verdade, a Suécia enriqueceu por conta do liberalismo, e o inchaço estatal plantou as sementes do relativo fracasso. Reformas liberais têm sido implementadas para reduzir o estrago causado pelo tamanho do Estado. A Suécia desfruta de boa qualidade de vida a despeito do “welfare state”, não por causa dele.
E o mais lamentável de tudo é que, pela ótica brasileira, a Suécia seria considerada “ultraliberal”. O índice de liberdade econômica do Heritage coloca a Suécia em 19º lugar no ranking [hoje 18º], enquanto o Brasil está em 81º lugar [hoje caiu para 100º]. Para o Brasil chegar ao modelo sueco, teria de adotar inúmeras reformas liberais.
Infelizmente, aqui muitos ainda consideram até mesmo o PSDB como um partido liberal. Ou seja, não só não foi o “welfare state” que gerou o relativo sucesso sueco, como estamos muito longe até mesmo desse modelo, tachado injustamente por aqui de “neoliberal”.
18 de novembro de 2013
Rodrigo Constantino
Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário