OK, Mensalão, prisões, corrupção – chega! Noticiário político virou noticiário policial e esta coluna cansou.
O mais importante é o que a fumaça da ladroeira encobre: que um assalto muito maior esfola o cidadão.
O total de impostos pagos neste ano já superou R$ 1,4 trilhão.
Esse monumental volume de dinheiro entregue aos governos reduz a capacidade de investimentos das empresas e a possibilidade de compra dos indivíduos; desestimula a iniciativa individual – pois, num bom número de casos, ganhar mais significa receber menos, já que o imposto dá um salto.
É tanto dinheiro que permite gastos públicos injustificáveis – dos milhares de funcionários do Congresso à gigantesca frota de carros para governantes e políticos em geral, de recursos para o Mensalão às mordomias oficiais.
No ano passado o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo levou 12 dias a mais para atingir R$ 1,4 trilhão. São os impostos crescendo, ano a ano.
Corrupção? Café pequeno, mesmo sendo muita.
No excelente Blog do Noblat do dia 15, além do Mensalão, há cinco casos de corrupção, envolvendo diversos partidos, diversos Estados e Municípios, diversos níveis de poder.
O ministro Luís Roberto Barroso diz que “a corrupção não tem partidos (…) Nestes poucos meses, explodiram escândalos em um Ministério, em um importante Estado e em uma importante prefeitura”.
É muita corrupção e combatê-la é importante. Mas não tão importante quanto a Grande Esfola Tributária, mãe de todos os casos de ladroeira governamental.
O ex-presidente alemão Christian Wulff está sendo julgado em Hannover. Motivo: um amigo, produtor de cinema, pagou sua visita à Oktoberfest de Munique e sua conta de hotel, no alor total de R$ 2.170 (700 euros).
É pouco? Por isso, Wulff teve de renunciar à Presidência e abandonou os planos de candidatar-se a primeiro-ministro, na sucessão de Angela Merkel.
Os promotores lhe ofereceram um acordo, desistindo da acusação se admitisse a culpa e pagasse € 20 mil de multa.
Wulff recusou: disse que preferia ser julgado e defender sua honra.
Sete deputados federais brasileiros, para cumprir três compromissos em Nova York nesta segunda, 18, viajaram na última quarta, recebendo diárias pelo período integral. Henrique Alves (PMDB) tem direito a US$ 550 por dia; Fábio Faria (PSD), Márcio Bittar (PSDB), Esperidião Amin (PP), André Figueiredo (PDT), Danilo Fortes (PMDB) e Eduardo da Fonte (PP) recebem US$ 428 de diária.
Os sete pegaram jatinho da FAB de Brasília para São Paulo, seguindo então, sempre por conta da Câmara, para Nova York. Todos foram com as esposas – estas sem diárias. Dois assessores viajaram antes, para preparar tudo.
E quais os compromissos tão importantes? Na segunda, encontrarão o presidente da Assembléia Geral da ONU, John Ashe, e o presidente do Conselho de Segurança, Liu Ji-ey.
E darão entrevista à Rádio ONU. Cada passagem custa R$ 19 mil, ida e volta.
A exumação do corpo do ex-presidente João Goulart foi preparada como uma festa política (a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, é candidata ao Senado no ano que vem, pelo PT).
Uma empresa de promoção de eventos, a Capacitá, de Porto Alegre, foi contratada para organizar as cerimônias em São Borja, onde estava o corpo, e Brasília, para onde foi levado; cinco cerimonialistas prestaram serviços.
A ministra exigiu a montagem de um palanque e pediu à Prefeitura a decretação de feriado. Doze peritos foram designados para exumar e examinar o corpo, em busca de indícios de assassínio. O neto de Goulart, João Marcelo, estuda Medicina em Havana (sem vestibular, indicado pelo PDT); e fez questão de trazer um professor cubano de quem gosta, Jorge Perez, para ajudar.
Deu tudo errado: num jazigo com oito corpos, por duas vezes os peritos do Governo retiraram caixões errados.
Procuraram então o coveiro que fez o enterro; já tinha morrido. Mas tinha contado ao filho os detalhes do sepultamento. Foi o filho do coveiro que indicou à comissão internacional de peritos qual o caixão certo.
E foi o dono de uma funerária local que emprestou as ferramentas para retirar o caixão, já que a comissão internacional de peritos não as tinha levado.
Decidida a exumação, o Ministério Público e o Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul convocaram a PUC para retirar o corpo e examiná-lo.
A ministra Maria do Rosário os afastou do caso: queria porque queria comandar a cerimônia.
E a comandou do seu jeito, de cima do palanque. Pois é.
Eduardo Gaievski, primeiro-assessor da ministra Gleisi Hoffmann, cotadíssimo para coordenar sua campanha ao Governo do Paraná pelo PT, preso pela acusação de pagar meninas pré-adolescentes para sessões de sexo, contratou um advogado famoso, Elias Mattar Assad. Assad tenta, na quinta, liberar seu cliente para passar Natal e fim de ano em casa, ao lado da família.
Ou de parte da família: seus irmãos Edmundo e Francisco foram presos preventivamente, acusados de pressionar testemunhas para obrigá-las a retirar suas denúncias.
18 de novembro de 2013
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação.
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