O mundo passa por uma revolução energética, e o gás proveniente do xisto irá alterar a matriz energética dos combustíveis fósseis
De volta ao Brasil, após duas reuniões internacionais, refletimos sobre temas atuais da maior presença da América Latina no contexto mundial. Dentre os assuntos recorrentes abordados nesses encontros, envolvendo países da região, destacou-se, em primeiro lugar, a educação, em todos os níveis. Sem a melhoria do ensino nos nossos países, os grandes desafios do desenvolvimento não serão superados.
O segundo tema é o investimento em inovação. É necessário para a melhoria da competitividade e, consequentemente, da produtividade.
No caso do Brasil, as parcerias público-privadas são fundamentais para vencer os déficits de infraestrutura, como também aumentar a taxa de investimentos. Na XIV reunião do Foro, o depoimento dos representantes deixou claro seu comprometimento com a diminuição da desigualdade social e combate à pobreza. Alguns obviamente com melhores resultados que outros.
1) Apesar de termos hoje uma América Latina fragmentada por concepções diferenciadas de como desenvolver política e economicamente nossos países, seguimos perseguindo objetivos comuns na busca de um melhor entendimento.
2) A América Latina não é mais responsável pela crise, mas entendemos que seus desafios continuam enormes. Compartilhamos (com exceção do México) estarmos mais ou menos dependentes do futuro comportamento da China.
3) No campo econômico discutiu-se muito a Aliança do Pacifico e seu impacto nas relações do Atlântico-Pacifico. Enfatizou-se a incorporação do Brasil e outros países atlânticos a esse acordo. Doha seria a melhor solução? A pergunta ficou no ar!
4) As mudanças na China podem afetar a América do Sul, particularmente na exportação de “commodities” minerais, além dos ajustes que serão necessários para absorver os excessos monetários dos EUA e Europa.
5) Ficou clara a necessidade urgente da reforma do sistema financeiro mundial.
6) Em maior ou menor escala a volatilidade do câmbio tem afetado países da região, particularmente o Brasil.
7) Se aceitáveis, apontam uma grande preocupação de uma indesejável participação do Estado na economia.
8) Existe em nossa região uma grande desconfiança de nossos eleitores com sua representação política. Não se sentem representados e os políticos estão muito distantes das aspirações populares. Há um certo repúdio à democracia representativa, mas não se propõe nenhuma alternativa melhor!
De volta ao meu cotidiano, surpreendeu-me a discussão sobre o leilão do pré-sal. Acreditava que a questão da exploração do petróleo já fosse assunto superado e que as realidades do mundo globalizado e a necessidade de obter recursos para vultosos investimentos conduziriam a uma realística abordagem de busca de sócios para a escala de recursos que exige o pré-sal.
Não esqueçamos que o mundo passa por uma revolução energética e o gás proveniente do xisto irá alterar a matriz energética dos combustíveis fósseis. É o caso dos Estados Unidos, que vai produzir energia bem mais barata, tornando sua indústria bem mais competitiva.
Será que a melhor alternativa seria a maior participação do Estado, aumentando a sua dívida e consequentemente podendo provocar aumento da inflação? Devemos nos conformar com uma inflação de 6% ao ano, que em padrões mundiais é inaceitável e provoca distorções? Fico com a sensação que nossos parceiros da América Latina devam achar muito estranho essa volta a um passado de triste memória.
O professor Roberto Campos deve estar se mexendo no túmulo e refletindo: se o petróleo é nosso, a inflação também é!
18 de novembro de 2013
ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA, O Globo
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