Defesa diz que Genoino passou mal na Papuda e pede prisão domiciliar. Ex-presidente do PT está em cela em complexo penitenciário de Brasília. Mensagem da conta do Twitter de petista é apagada
O advogado do ex-presidente do PT José Genoino, Luiz Fernando Pacheco, informou que seu cliente passou mal durante a madrugada deste domingo. Em sua cela no Complexo Penitenciário da Papuda, para onde foi transferido na noite de ontem, Genoino teria sentido fortes dores no peito.
Ainda segundo o advogado, o petista está prostrado e não está se alimentando devido às dores. Genoino foi condenado a uma pena de 4 anos e 8 meses de prisão em regime semiaberto por corrupção ativa.
Na petição que apresentaram neste domingo ao Supremo Tribunal Federal (STF), seus advogados argumentam que o estado de saúde do petista se agravou e que, portanto, ele deve voltar para casa e cumprir a pena em sua residência.
— Ele teve fortes dores no peito, à noite, e foi necessário atendimento médico. Ele toma uma série de medicamentos, uns cinco ou seis, e um deles causa uma alteração no tempo de coagulação do sangue. Por isso ele tem que passar por exames médicos periódicos, porque pode sofrer uma hemorragia interna fatal — afirmou Pacheco.
O advogado também reclama das instalações "infectas" em que seu cliente se encontra e pede agilidade do presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, em analisar seu pedido de prisão domiciliar:
— Minha expectativa é que Joaquim tome a decisão ainda hoje. Ele é responsável pela saúde e integridade física do preso custodiado sob sua ordem.
De acordo com Claudio Alencar, outro advogado de Genoino, a alimentação fora da dieta e a emoção de todo o processo do mensalão contribuem para o mal estar de seu cliente.
Na próxima quarta-feira, disse Alencar, Genoino terá que fazer um exame de sangue para saber como está a dosagem dos medicamentos que utiliza para o problema cardíaco.
- Ele sofre de uma cardiopatia grave e foi esta uma das razões que nós entramos com o pedido de aposentadoria na Câmara e de prisão domiciliar - disse o advogado Claudio, lembrando que o petista sofreu em agosto uma isquemia cerebral e passou recentemente por intervenção cirúrgica.
Atendimento em voo da PF
No sábado, Genoino já havia passado mal durante o voo do avião da Polícia Federal. Antes de chegar a Belo Horizonte, onde o avião fez uma parada, o petista sofreu de pressão alta. Na capital de Minas Gerais, bombeiros foram acionados e uma ambulância foi levada até a pista. A pressão dele estava 13 po 9 e, por essa razão, o voo decolou para Brasília com pequeno atraso.
Advogados de José Dirceu e José Genoino reclamaram da decisão de manter os petistas em regime fechado e de transferi-los para Brasília. Os defensores dos dois petistas pretendem apresentar à Vara de Execuções Penais de Brasília solicitação para que ambos cumpram pena em São Paulo, onde ambos residem, um direito garantido pela Lei de Execução Penal.
— Há uma ilegalidade tanto na transferência (para Brasília) como no regime fechado. Vou peticionar ainda hoje um documento para registrar essa ilegalidade contra José Dirceu — disse o advogado José Luiz de Oliveira Lima, que defende José Dirceu.
O coordenador do setorial jurídico do PT em São Paulo, Marco Aurélio Carvalho, informou que também questionará formalmente a Polícia Federal e a Justiça federal sobre "atos de ilegalidade" na prisão dos petistas.
— Há um constrangimento que foge à questão legal (das prisões). Em princípio, vão (para Brasília), mas há uma sequência de atos à margem do que se previa na condenação dos dois — criticou.
Tweet da conta de Genoino é apagado
Em conta do Twitter administrada pela assessoria de Genoino foi publicada, na tarde deste domingo, a seguinte frase, entre aspas: "Se morrer aqui, o povo livre deste país que ajudamos a construir saberá apontar meus algozes". Pouco mais de quatro horas após a publicação, a mensagem foi apagada. Veja o Tweet:
Na prisão, biografia de Vargas
De um Getulio Vargas jovem — aluno brilhante, ávido leitor de Charles Darwin e líder de uma revolução democrática — a outro Getulio Vargas — o chefe de uma ditadura que se manteve no poder por décadas. Parecem ser dois os personagens na biografia de Vargas, que foi o presente de José Dirceu lido por Genoino na primeira noite na prisão.
Assinada pelo jornalista e biógrafo Lira Neto, a obra terá ao todo três volumes, dois já lançados (o terceiro deve sair em 2014). Laureado com dois prêmios Jabuti, pelos perfis do escritor José de Alencar e de Padre Cícero, Lira Neto usou de sua veia jornalística para o trabalho. Checou documentos do Rio Grande do Sul a Minas Gerais, por exemplo, para investigar suspeitas de dois assassinatos que rondavam (ao menos segundo seus inimigos) a figura de Getulio. O trabalho ganhou o aval de acadêmicos como Boris Fausto, que assina a contracapa, e Gunter Axt, ambos ligados à USP.
A biografia amarra a figura do homem natural de São Borja (RS) à imagem do ditador e presidente que se tornaria um dos mais célebres políticos brasileiros do século XX.
— Normal, natural. Sem entrar no mérito da prisão, é um leitor — disse Lira Neto, ao saber que Dirceu e Genoino são seus leitores. — Quero ser lido. Soube que ele já emprestou para Genoino. Espero que eles leiam os outros volumes.
OAB demonstra preocupação com saúde de Genoino
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, divulgou nota neste domingo demonstrando preocupação com as condições de saúde de Genoino.
Segundo a nota da OAB, a prisão de Genoino em regime fechado configura uma ilegalidade e uma arbitrariedade, pois seus advogados já chamaram a atenção da Justiça para os riscos de sua condição de saúde, mas o pedido ainda não foi apreciado.
“O estado de saúde do deputado José Genoino requer atenção. A sua prisão em regime fechado por si só configura uma ilegalidade e uma arbitrariedade. Seus advogados já chamaram a atenção para esses dois fatos mas, infelizmente, o pedido não foi apreciado na mesma rapidez que prisão foi decretada. É sempre bom lembrar que a prisão de condenados judiciais deve ser feita com respeito à dignidade da pessoa humana e não servir de objeto de espetacularização midiática e nem para linchamentos morais descabidos”, afirma a nota.
18 de novembro de 2013
Catarina Alencastro, Gustavo Uribe, Mônica Tavares e Martha Beck - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário