O movimento conhecido como Primavera Árabe iniciou-se em 2011 na Tunísia, onde foi afastado do poder o ditador Zine El Abidine. Alastrou-se rapidamente para a Argélia, Líbia, Jordânia, Iêmen, Egito, Síria, Iraque e Barein, além de outras regiões menos importantes. Caracterizou-se a partir daí por manifestações populares que tinham como propósito de fachada a democratização dos países afetados.
Como consequência, na Líbia, foi derrubada a ditadura de Muamar Kadafi, no poder desde 1969, substituída por um sistema caótico vigente onde muitos mandam e ninguém comanda e, na Síria, do ditador Bashar al- Assad , eclodiram revoltas populares que evoluíram para uma terrível guerra civil que perdura até hoje, sem previsão de solução e que já ceifou a vida de milhares de pessoas e tornou as dos habitantes insuportável.
Tendo em vista o objetivo anunciado de democratização dos países atingidos, as iniciativas rebeldes contaram inicialmente com o apoio da ONU, dos Estados Unidos de Obama e das potências ocidentais europeias, as mesmas cujos governos hoje se engalfinham com problemas gerados por deslocamentos de verdeiras hordas de refugiados.
No entanto, advertências a respeito das verdadeiras constituição e metas dos insurgentes, sugeridas como sendo originárias de ações de terroristas radicais islâmicos que almejavam o poder, sem relação alguma com a propalada democratização, ecoaram a partir do governo Sírio, mas sempre foram ignoradas pelo ocidente, o que permitiu a convergência para a deplorável situação que a Síria vive hoje, além de manter várias outras regiões em permanente estado de conflagração.
Algo semelhante só não ocorreu no Egito, o que seria desastroso para o equilíbrio estratégico e econômico de toda a Europa, graças à reação de sua sociedade, liderada por segmentos militares.
Sem medo de errar muito no diagnóstico, pode-se concluir então que a crise migratória que hoje atormenta a Europa atingiu o presente estágio em virtude da falta de visão de seus líderes que não conseguiram enxergar as motivações reais e as consequências da Primavera Árabe, iludindo-se com cantos de sereia anunciando a chegada da democracia.
17 de setembro de 2015
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e Guerra, reformado.
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