A antiga capitania dos Sarney e o feudo dos Calheiros disputam a liderança do campeonato nacional do atraso
Um mês depois da despedida de José Sarney, no Senado desde 1991, Renan Calheiros foi eleito pela quarta vez presidente da Casa do Espanto, igualando o recorde do colega que se apossou nos anos 60 da capitania hereditária do Maranhão e, mais recentemente, passou a tapear também o eleitorado do Amapá. Enquanto o chefe da Famiglia tenta adiar o adeus definitivo criticando Dilma Rousseff nas páginas do seu O Estado do Maranhão e garantindo o emprego de afilhados, Renan controla Alagoas sem rivais visíveis.
Depois de oito anos dando ordens a Teotônio Vilela, um obediente governista disfarçado de governador tucano, o presidente do Senado dispensou-se de intermediários. O sucessor de Vilela é Renan Filho ─ e o antigo patrão Fernando Collor agora é agregado da família que manda no feudo. É compreensível que os dois Estados nordestinos disputem em condições de igualdade a liderança do campeonato nacional do atraso político, econômico e social.
Alagoas, por exemplo, está na frente em homicídios (64,4 assassinatos por 100 mil habitantes), Índice de Desenvolvimento Humano (0,677 numa escala que vai até 1), analfabetismo (19,66% da população) e mortalidade infantil: a cada mil nascidos vivos, 30,2 morrem antes de completar o primeiro ano de vida. O Maranhão é o segundo colocado em IDH (0,683), analfabetismo (18,76%) e mortalidade infantil (29 para cada mil nascidos vivos). Mas supera o concorrente em dois quesitos relevantes: tem o pior PIB per capita do país (R$ 6.888 mil por ano) e o menor contingente de médicos do país (1 para quase 1.300 habitantes).
O resultado da sucessão presidencial informou que, nas duas unidades da Federação, a maioria do eleitorado estava satisfeita com o governo federal pelo menos até o fim de outubro: Dilma Rousseff conseguiu no segundo turno 78,6% dos votos no Maranhão e 63,6% em Alagoas. Mas só os alagoanos acharam uma boa ideia continuar sob o domínio dos Calheiros-Collor. Depois de meio século no poder, a Famiglia Sarney teve de engolir já no primeiro turno a derrota de Edison Lobão Filho, herdeiro do ex-ministro (e ainda senador), atropelado por Flávio Dino (PCdoB).
Para não transmitir o cargo ao vitorioso, a governadora Roseana Sarney simulou uma doença e caiu fora do Palácio dos Leões um mês antes do prazo. Enquanto Flávio Dino assumia o trono abandonado, Renan Calheiros festejava em Maceió a sagração do filho. Eleito no primeiro turno com 52,16% dos votos, Renanzinho cuidará de manter o feudo como está com a orientação do pai e de Fernando Collor, reconduzido ao Senado pela vontade dos alagoanos. O ex-presidente da República vai ficar na Casa do Espanto, no mínimo, mais oito anos. Renan já está pronto para disputar outro mandato em 2018. Os maranhenses parecem esperançosos. Em Alagoas, não há perigo de melhorar.
12 de fevereiro de 2015
PEDRO COSTA
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