CONTRA A PETIZAÇÃO DO ESTADO, EU VOTO AÉCIO 45
Correção na Pnad é apenas um sintoma de uma doença que se alastra pela máquina do Estado
Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) teve de fazer uma humilhante “errata” sobre os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Os dados divulgados originalmente apontavam aumento na desigualdade no país em 2013, mas os números revisados indicavam uma queda mínima. Questionada sobre o assunto, a presidente Dilma Rousseff saiu-se com mais uma de suas recentes pérolas que fazem pensar na avaliação do ex-centroavante e agora deputado federal Romário – “Pelé calado é um grande poeta”, disse, uma vez, sobre o Rei do Futebol. No domingo passado, Dilma, que já tinha tentado consertar uma declaração infeliz sobre o papel da imprensa, objeto de nosso editorial de terça-feira, disse que o erro do IBGE era “banal”.
É de se questionar: é realmente “banal” tal engano em uma que é das mais importantes pesquisas desenvolvidas pelo instituto? Ora, a Pnad não é algo feito da noite para o dia, no improviso. Ainda que por “banal” a presidente quisesse dizer que não se tratava de erro intencional, mas um acidente (logo após usar a expressão, Dilma disse: “Não tem uma conspiração de alguém que queria... Pelo menos é o que parece”), seria “banal” um erro de leitura do termômetro que levasse o médico a aplicar doses maiores ou menores num paciente necessitado de um antitérmico? Supõe-se que o IBGE, ao aferir e dimensionar os êxitos ou as carências socioeconômicas, deva suprir as autoridades de dados confiáveis e capazes de direcionar as políticas públicas mais adequadas. Portanto, leituras erradas da situação ou mesmo a insegurança que passou a viger no âmbito do instituto não podem ser classificadas de “banais” – a menos que o organismo já nem mais seja levado em conta para a tomada de decisões cruciais para a vida da população.
O IBGE, no entanto, não é a única instituição cuja tradicional excelência do trabalho e da independência política com que o exercia está em xeque nesses últimos anos – só em 2014 houve greves e acusações de interferência política no órgão. Infelizmente, o IBGE é apenas mais um no rol de tantas outras instituições sobre as quais repousavam os mais altos índices de confiança e cuja decadência acelerada coincide com os tempos de aparelhamento político iniciados há 12 anos – verdadeiro câncer a provocar metástases de consequências fatais.
Da Petrobras, maior estatal brasileira e uma das maiores petrolíferas do mundo, já se falou muito ao longo deste ano, e nunca parece ser suficiente, tanta a corrupção instalada em seus desvãos e a perda de eficiência nas suas atividades-fins. Mas também é possível incluir na lista o Itamaraty: nosso serviço diplomático, que um dia já foi referência mundial de equilíbrio e sensatez, hoje vive subordinado a conveniências ideológicas (isso quando não se torna mero coadjuvante do assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, a ponto de muitos se perguntarem se ele não estaria acima do ministro das Relações Exteriores); não surpreende que o país tenha recebido a alcunha de “anão diplomático” semanas atrás. Também antigamente sempre colocados no topo dos indicadores de confiança, os Correios hoje sofrem do mal do descrédito – já não se sabe se a correspondência chegará no prazo, nem quanto tempo durará a próxima greve dos carteiros.
De eficiente mesmo, atualmente, na máquina pública, se encontra quase que tão-somente a Receita Federal, o órgão arrecadador que garante alimento cada vez mais abundante para que tudo o mais funcionasse a contento. Não é o que acontece. E isso, para quem paga impostos e espera receber do Estado os melhores serviços, não é nada banal.
Correção na Pnad é apenas um sintoma de uma doença que se alastra pela máquina do Estado
Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) teve de fazer uma humilhante “errata” sobre os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Os dados divulgados originalmente apontavam aumento na desigualdade no país em 2013, mas os números revisados indicavam uma queda mínima. Questionada sobre o assunto, a presidente Dilma Rousseff saiu-se com mais uma de suas recentes pérolas que fazem pensar na avaliação do ex-centroavante e agora deputado federal Romário – “Pelé calado é um grande poeta”, disse, uma vez, sobre o Rei do Futebol. No domingo passado, Dilma, que já tinha tentado consertar uma declaração infeliz sobre o papel da imprensa, objeto de nosso editorial de terça-feira, disse que o erro do IBGE era “banal”.
É de se questionar: é realmente “banal” tal engano em uma que é das mais importantes pesquisas desenvolvidas pelo instituto? Ora, a Pnad não é algo feito da noite para o dia, no improviso. Ainda que por “banal” a presidente quisesse dizer que não se tratava de erro intencional, mas um acidente (logo após usar a expressão, Dilma disse: “Não tem uma conspiração de alguém que queria... Pelo menos é o que parece”), seria “banal” um erro de leitura do termômetro que levasse o médico a aplicar doses maiores ou menores num paciente necessitado de um antitérmico? Supõe-se que o IBGE, ao aferir e dimensionar os êxitos ou as carências socioeconômicas, deva suprir as autoridades de dados confiáveis e capazes de direcionar as políticas públicas mais adequadas. Portanto, leituras erradas da situação ou mesmo a insegurança que passou a viger no âmbito do instituto não podem ser classificadas de “banais” – a menos que o organismo já nem mais seja levado em conta para a tomada de decisões cruciais para a vida da população.
O IBGE, no entanto, não é a única instituição cuja tradicional excelência do trabalho e da independência política com que o exercia está em xeque nesses últimos anos – só em 2014 houve greves e acusações de interferência política no órgão. Infelizmente, o IBGE é apenas mais um no rol de tantas outras instituições sobre as quais repousavam os mais altos índices de confiança e cuja decadência acelerada coincide com os tempos de aparelhamento político iniciados há 12 anos – verdadeiro câncer a provocar metástases de consequências fatais.
Da Petrobras, maior estatal brasileira e uma das maiores petrolíferas do mundo, já se falou muito ao longo deste ano, e nunca parece ser suficiente, tanta a corrupção instalada em seus desvãos e a perda de eficiência nas suas atividades-fins. Mas também é possível incluir na lista o Itamaraty: nosso serviço diplomático, que um dia já foi referência mundial de equilíbrio e sensatez, hoje vive subordinado a conveniências ideológicas (isso quando não se torna mero coadjuvante do assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, a ponto de muitos se perguntarem se ele não estaria acima do ministro das Relações Exteriores); não surpreende que o país tenha recebido a alcunha de “anão diplomático” semanas atrás. Também antigamente sempre colocados no topo dos indicadores de confiança, os Correios hoje sofrem do mal do descrédito – já não se sabe se a correspondência chegará no prazo, nem quanto tempo durará a próxima greve dos carteiros.
De eficiente mesmo, atualmente, na máquina pública, se encontra quase que tão-somente a Receita Federal, o órgão arrecadador que garante alimento cada vez mais abundante para que tudo o mais funcionasse a contento. Não é o que acontece. E isso, para quem paga impostos e espera receber do Estado os melhores serviços, não é nada banal.
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