"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

JUSTIÇA, VERGONHA NACIONAL: MINISTRO DO SUPREMO FALTA A 50% DOS JULGAMENTOS. NADA ACONTECE, E LENTIDÃO É A MARCA REGISTRADA DO TRIBUNAL

      

 

Uma importante pesquisa da Escola de Direito da FGV/Rio acerca da atuação dos membros do Supremo, abrangendo os últimos 25 anos, apontou como excessivamente morosa a produção dos ministros, que consomem em média 180 dias (seis meses) para publicar seus acórdãos, mas deixou de registrar outro fator fundamental e causador dessa  escandalosa demora, que representa uma verdadeira negação do ato de fazer Justiça.

Refiro-me à elevada ausência de alguns ministros às sessões de julgamento das terças-feiras, quando os juízes do STF distribuídos na Primeira Turma e na Segunda Turma, sem televisionamento, julgam várias centenas de processos em não mais do que 4 horas, proferindo centenas de acórdãos, que infelizmente só produzem efeito depois de publicados, ou seja, depois de vários meses ou até anos.

De se recordar que na parte referente à publicação de acórdãos, como relatado recentemente pelo jornalista Elio Gaspari, sob o título “Um retrato do Supremo Tribunal”, o recordista é o ministro Celso de Mello, que leva em média espantosos, inacreditáveis e estarrecedores 679 dias para publicar seus acórdãos julgados pela 2ª Turma e pelo Pleno.

AUSÊNCIAS “JUSTIFICADAS”

Por outro lado, deploravelmente, o mesmo ministro Celso de Mello, um dos maiores constitucionalistas e administrativistas do país e que serve de exemplo para os demais membros da Corte Suprema, também despontou como campeão no quesito “ausências justificadas” em sessões da 2ª Turma, que em 2013 tinha a seguinte composição: ministros Ricardo Lewandowski, Carmen Lúcia, Gilmar Mendes, Teori Zavascki e o decano Celso de Mello.

Nesse contexto, estimulado pela amplitude e seriedade da corajosa pesquisa da FGV/Direito, procurei verificar no site do STF o comparecimento de cada ministro nas sessões de julgamento das duas turmas, tendo-me surpreendido com o que está lá registrado. 
É de não se acreditar. Das cerca de 40 sessões promovidas pela Segunda Turma, entre fevereiro e dezembro de 2013, o ministro Celso de Mello esteve ausente, justificadamente, de 19 sessões de julgamento. Não compareceu a quase 50% delas. Isso é aceitável? Não fere o artigo 37 da Constituição que exige da administração pública, legalidade, moralidade e eficiência?

Se os números apontados no site do STF não estão errados, o citado ministro “esteve ausente, justificadamente” nas sessões de 26 de fevereiro; 12 e 19 de março; 2, 16 e 23 de abril; 7 e 21 de maio; 4 e 18 de junho; 13 e 20 de agosto; 3, 10 e 17 de setembro; 8 e 15 de outubro e 3 e 10 de dezembro.

QUADRO DESALENTADOR

Certamente, os milhares de autores de recursos julgados pela 2ª Turma, em 2013, devem estar imaginando se outro não seria o resultado dos julgamentos se o ministro Celso de Mello, um dos mais destacados membros da mais alta Corte do Poder Judiciário, quem sabe, tivesse participado dessas sessões e emitido seu respeitadíssimo voto.

Há também os pedidos de vista. Cármen Lúcia é quem fica mais tempo com os processos, para simples vista, numa média de 600 dias. E o atual presidente Ricardo Lewandowski, quando pede vista, retém o processo por mais de 200 dias.

Nesse quadro desalentador, é surpreendente que o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, não tenha até agora contestado ou prestado explicações à sociedade sobre essa valiosa contribuição que a FGV trouxe a público com o trabalho “O Supremo e o Tempo”. Quem quiser, poderá ler sua  íntegra no site supremoemnumeros.fgv.br

Essas atitudes de magistrados, que no julgamento de um processo,  permanecem com ele sabe Deus quanto tempo, em nada dignificam o Poder Judiciário.

Isso é abusar do poder de não julgar. Ministro que não respeita prazos precisa ser julgado pelo Senado Federal por crime de responsabilidade. Todos não são iguais perante a lei?
Mas no Brasil essas regras não funcionam.
Há cidadãos de primeiríssima classe (os magistrados) que estão acima da lei e da ética. E a Justiça está cada vez mais apodrecida, ainda mais com os auxílios moradia, alimentação e educação que engordam os contracheques dos magistrados.

DEBATE NA FOLHA

A Folha e a Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas em São Paulo promovem, nesta segunda-feira (29), na sede do jornal, o debate “Lentidão da Justiça brasileira e prejuízos ao cidadão”.
O evento, que visa discutir propostas de maior eficiência ao Judiciário, vai reunir, entre outros palestrantes, o ministro do STF Luís Roberto Barroso, o ministro aposentado do STJ Sidnei Beneti e o colunista da Folha e diretor da FGV Direito SP, Oscar Vilhena.
Vamos conferir o que sairá publicado no jornal.

01 de outubro de 2014
Carlos Newton

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