Artigos - Globalismo
E se o presidente russo estivesse pensando em duas bombas atômicas táticas contra um membro da NATO – a Polônia ou a Lituânia, por exemplo?
CLIQUE PARA AUMENTAR |
Características do projeto do míssil Bulava recentemente testado mais uma vez, segundo a agência moscovita RIA-Novosti.
E se o presidente russo estivesse pensando em duas bombas atômicas táticas contra um membro da NATO – a Polônia ou a Lituânia, por exemplo?
O pesadelo nuclear com a possibilidade de represálias poderia encerrar uma era histórica. Porém, segundo o correspondente na Rússia do The Atlantic, a enlouquecedora perspectiva não está longe de ser adotada pelo Kremlin.
Num foro da juventude realizado no final de agosto ao norte de Moscou, Vladimir Putin lembrou, em tom ameaçador, que “a Rússia é um dos países mais poderosamente nuclearizados do mundo. É uma realidade, não é um jogo de palavras”, enfatizou.
No mesmo mês, em Yalta, Putin confidenciou aos líderes partidários da Duma – a Câmara dos Deputados – que ele pretendia em breve prazo “surpreender o Ocidente com nossos novos desenvolvimentos no campo de armas nucleares ofensivas que nós conservamos em segredo no momento”.
O jornal lembra que, simultaneamente, bombardeiros nucleares e caças estratégicos russos violavam – ou ameaçam violar – o espaço aéreo americano, europeu e do Mar da China. E que no fundo dos oceanos submarinos nucleares russos e americanos se enfrentavam como nos piores dias da Guerra Fria.
A Rússia também teria violado o Tratado sobre as forças nucleares de alcance intermediário, que proíbe aos signatários possuir mísseis capazes de serem utilizados contra alvos europeus.
Obama entrou na Casa Branca prometendo reduzir essas armas para fazer do mundo um lugar mais seguro. Mas, de fato, ele se prepara para despedir-se da mansão presidencial deixando atrás de si uma Rússia dotada de um arsenal nuclear mais mortífero do que nunca.
A escalada, comenta o jornal, não pressagia nada de bom.
Putin se atreveria a apertar o botão a partir do qual não haveria mais volta atrás?
Para Andrei Piontkovski, ex-diretor do Centro de Estudos Estratégicos de Moscou e analista político do BBC World Service, ele seria perfeitamente capaz disso.
Ele até acha que Putin entrou numa enrascada com o Ocidente a propósito da Ucrânia e que, para sair como vencedor e ao mesmo destruir a OTAN e o resto de credibilidade dos EUA como guardião da paz planetária, ele não hesitaria na mais alucinante das alternativas.
O cenário entrevisto por Piontkovski reveste-se de uma aterrorizadora pertinência, diz The Atlantic. Pior, postas certas circunstâncias, poderá parecer lógico e talvez inevitável.
Serguei Karaganov, diretor da Escola de Altos Estudos Econômicos de Moscou, representante do “campo da paz”, pede que Putin proclame unilateralmente que já ganhou na Ucrânia e encerre de vez o conflito. Mas essa posição não convence o Kremlin.
No mesmo mês, em Yalta, Putin confidenciou aos líderes partidários da Duma – a Câmara dos Deputados – que ele pretendia em breve prazo “surpreender o Ocidente com nossos novos desenvolvimentos no campo de armas nucleares ofensivas que nós conservamos em segredo no momento”.
O jornal lembra que, simultaneamente, bombardeiros nucleares e caças estratégicos russos violavam – ou ameaçam violar – o espaço aéreo americano, europeu e do Mar da China. E que no fundo dos oceanos submarinos nucleares russos e americanos se enfrentavam como nos piores dias da Guerra Fria.
A Rússia também teria violado o Tratado sobre as forças nucleares de alcance intermediário, que proíbe aos signatários possuir mísseis capazes de serem utilizados contra alvos europeus.
Obama entrou na Casa Branca prometendo reduzir essas armas para fazer do mundo um lugar mais seguro. Mas, de fato, ele se prepara para despedir-se da mansão presidencial deixando atrás de si uma Rússia dotada de um arsenal nuclear mais mortífero do que nunca.
A escalada, comenta o jornal, não pressagia nada de bom.
Putin se atreveria a apertar o botão a partir do qual não haveria mais volta atrás?
Para Andrei Piontkovski, ex-diretor do Centro de Estudos Estratégicos de Moscou e analista político do BBC World Service, ele seria perfeitamente capaz disso.
Ele até acha que Putin entrou numa enrascada com o Ocidente a propósito da Ucrânia e que, para sair como vencedor e ao mesmo destruir a OTAN e o resto de credibilidade dos EUA como guardião da paz planetária, ele não hesitaria na mais alucinante das alternativas.
O cenário entrevisto por Piontkovski reveste-se de uma aterrorizadora pertinência, diz The Atlantic. Pior, postas certas circunstâncias, poderá parecer lógico e talvez inevitável.
Serguei Karaganov, diretor da Escola de Altos Estudos Econômicos de Moscou, representante do “campo da paz”, pede que Putin proclame unilateralmente que já ganhou na Ucrânia e encerre de vez o conflito. Mas essa posição não convence o Kremlin.
O “campo da guerra” propõe duas saídas, a primeira das quais é “um cenário romântico e edificante: o mundo russo ortodoxo desataria a Guerra Mundial contra o mundo anglo-saxão podre e decadente”.
Essa Guerra Mundial seria uma guerra convencional contra a OTAN. Mas não funcionaria bem, diante da superioridade tecnológica ocidental e do atraso russo, acabando em derrota para o Kremlin.
Só ficaria a segunda opção: o ataque nuclear. Não uma ofensiva maciça contra os EUA e a Europa, mas uma ou duas “pequenas” bombas contra um ou dois membros da OTAN pelos quais os ocidentais não estariam dispostos a dar a vida.
Qual seria o pretexto? Qualquer um, montado em laboratório do Kremlin, aproveitando as experiências ucranianas.
Piontkovski imagina que o Kremlin poderia soprar um plebiscito, por exemplo, na cidade estoniana de Narva, de maioria russófona. Então, para ajudar os cidadãos a “exprimir livremente sua vontade” nas urnas, a Rússia enviaria uma brigada de “pequenos homens verdes” – na verdade armados até os dentes, como fez na Criméia.
A Estônia invocaria o artigo 5 da Carta da OTAN: “um ataque armado contra um ou vários [membros da OTAN]… será considerado como um ataque contra todos os outros membros”. Precisamente após o presidente Obama ter declarado semanas atrás que “a defesa de Tallinn, Riga e Vilnius é tão importante como a defesa de Berlim, Paris e Londres”.
De repente o mais terrífico dos pesadelos se tornaria realidade: a OTAN estaria diante da eventualidade de fazer a guerra contra a Rússia.
Piontkovski acha que a OTAN não atacaria Moscou para defender uma nação tão longe do coração dos países membros. O mesmo bradariam muitos americanos que nessa hora agiriam como colaboracionistas do pior inimigo.
Putin lançaria então um ataque nuclear limitado contra uma ou duas capitais europeias – nunca Paris ou Londres – mas cidades pequenas. Talvez até Varsóvia, contra a qual a Rússia já realizou manobras de simulação de um ataque nuclear. Ou contra a capital lituana, Vilnius.
Neste cenário hipotético, Putin visaria a uma capitulação real da OTAN. E então ficaria livre para fazer o que bem entende com a Ucrânia e a Europa.
À primeira vista, o cenário parece ser puxado pelos cabelos, reconhece The Atlantic.
Só ficaria a segunda opção: o ataque nuclear. Não uma ofensiva maciça contra os EUA e a Europa, mas uma ou duas “pequenas” bombas contra um ou dois membros da OTAN pelos quais os ocidentais não estariam dispostos a dar a vida.
Qual seria o pretexto? Qualquer um, montado em laboratório do Kremlin, aproveitando as experiências ucranianas.
Piontkovski imagina que o Kremlin poderia soprar um plebiscito, por exemplo, na cidade estoniana de Narva, de maioria russófona. Então, para ajudar os cidadãos a “exprimir livremente sua vontade” nas urnas, a Rússia enviaria uma brigada de “pequenos homens verdes” – na verdade armados até os dentes, como fez na Criméia.
A Estônia invocaria o artigo 5 da Carta da OTAN: “um ataque armado contra um ou vários [membros da OTAN]… será considerado como um ataque contra todos os outros membros”. Precisamente após o presidente Obama ter declarado semanas atrás que “a defesa de Tallinn, Riga e Vilnius é tão importante como a defesa de Berlim, Paris e Londres”.
De repente o mais terrífico dos pesadelos se tornaria realidade: a OTAN estaria diante da eventualidade de fazer a guerra contra a Rússia.
Piontkovski acha que a OTAN não atacaria Moscou para defender uma nação tão longe do coração dos países membros. O mesmo bradariam muitos americanos que nessa hora agiriam como colaboracionistas do pior inimigo.
Putin lançaria então um ataque nuclear limitado contra uma ou duas capitais europeias – nunca Paris ou Londres – mas cidades pequenas. Talvez até Varsóvia, contra a qual a Rússia já realizou manobras de simulação de um ataque nuclear. Ou contra a capital lituana, Vilnius.
Neste cenário hipotético, Putin visaria a uma capitulação real da OTAN. E então ficaria livre para fazer o que bem entende com a Ucrânia e a Europa.
À primeira vista, o cenário parece ser puxado pelos cabelos, reconhece The Atlantic.
Os riscos são imensos. O mundo inteiro poderia ficar contra Putin.
A isso se acresce que o sentimento nacionalista pró-guerra na Rússia está muito misturado com o sentimentalismo e a contrainformação oficial, que anuncia vitórias russas dignas de cinema.
Quando a realidade da morte e da destruição atingisse a Rússia, Putin poderia perder o controle de seu próprio país.
Mas, de outro lado, a moleza do Ocidente – por exemplo, diante do massacre dos cristãos no Oriente Médio – estimula uma aventura louca.
Os apelos inconsistentes à paz, ao diálogo e ao ecumenismo vindos da diplomacia vaticana e de altos prelados católicos aplaudidos pelo coro da mídia pacifista, sinalizam que o espírito de reação ocidental está sendo desarmado desde os púlpitos, eclesiásticos e/ou midiáticos.
Na hora de Putin tomar a decisão fatídica, as hesitações de Obama e dos dirigentes de potências nucleares europeias falariam no sentido de que eles não vão apertar qualquer botão em represália.
Poderia ainda haver não poucos cenáculos ou sacristias mais insuspeitados onde se torceria pelo “novo Carlos Magno” que vem do Oriente, pelo “cavaleiro do Norte” e “líder cristão” contrário à corrupção da família.
Se essas condições se derem, Putin poderá julgar chegada a hora de desatar o holocausto nuclear.
E então o sombrio chefe do Kremlin poderia levar a melhor.
A isso se acresce que o sentimento nacionalista pró-guerra na Rússia está muito misturado com o sentimentalismo e a contrainformação oficial, que anuncia vitórias russas dignas de cinema.
Quando a realidade da morte e da destruição atingisse a Rússia, Putin poderia perder o controle de seu próprio país.
Mas, de outro lado, a moleza do Ocidente – por exemplo, diante do massacre dos cristãos no Oriente Médio – estimula uma aventura louca.
Os apelos inconsistentes à paz, ao diálogo e ao ecumenismo vindos da diplomacia vaticana e de altos prelados católicos aplaudidos pelo coro da mídia pacifista, sinalizam que o espírito de reação ocidental está sendo desarmado desde os púlpitos, eclesiásticos e/ou midiáticos.
Na hora de Putin tomar a decisão fatídica, as hesitações de Obama e dos dirigentes de potências nucleares europeias falariam no sentido de que eles não vão apertar qualquer botão em represália.
Poderia ainda haver não poucos cenáculos ou sacristias mais insuspeitados onde se torceria pelo “novo Carlos Magno” que vem do Oriente, pelo “cavaleiro do Norte” e “líder cristão” contrário à corrupção da família.
Se essas condições se derem, Putin poderá julgar chegada a hora de desatar o holocausto nuclear.
E então o sombrio chefe do Kremlin poderia levar a melhor.
01 de outubro de 2014
Luis Dufaur
Nenhum comentário:
Postar um comentário