"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA CARLOS BRICKMANN

Malévola e os inocentes

carlos_brickmann_16Na época em que o Palmeiras tinha um dos melhores times do mundo, o goleiro Leão saiu de campo reclamando por ter perdido um jogo nos pênaltis. “O goleiro deles se adiantou”, queixou-se.
O técnico do Palmeiras, Filpo Núñez, um mestre, disse que a reclamação não tinha sentido: se o goleiro deles se adiantou, é porque o juiz estava deixando. Leão deveria ter-se adiantado também.

Isso vale para a eleição. A campanha do PT é sempre agressiva. Lula já disse que fazia bravatas; e inventou que Alckmin iria privatizar a Petrobras. É espantoso que PSDB e PSB se queixem da baixaria de campanha, como se Dilma fosse a Loba Má. Se não sabiam, são desinformados. Se sabiam, despreparados.

Não é só o PT. Há mais de 60 anos o brigadeiro Eduardo Gomes ficou com a fama de rejeitar o voto de “marmiteiros” – operários que levavam marmita para o serviço.
Lula era acusado de planejar a divisão das casas (outras famílias iriam morar com os proprietários) e o confisco das contas bancárias – que, aliás, aconteceu, só que promovido por seu então adversário, Fernando Collor.
É jogo bruto. E quem prefere o chororô à preparação adequada está condenado à derrota.

Urnas fraudadas? São as mesmas que funcionavam quando o tucano Fernando Henrique foi presidente; as mesmas que eram boas quando Marina Silva era ministra de Lula. Crimes eleitorais? Apontem alguém que tenha sido afastado das eleições por esse motivo. Roubalheira? OK, mas como diria um notável líder de dois mil e poucos anos atrás, quem não tiver pecado que atire a primeira pedra.
Os cordeirinhos
Pois não é que agora um importante dirigente tucano lamenta que muitos eleitores tenham dificuldade para falar o nome de Aécio? Pode ser – e que é que Aécio e seu partido fizeram, nos últimos anos, para resolver esse problema?
E, cá entre nós, ninguém precisa falar o nome do candidato. Basta teclar seu número.
Alegria, alegria
Quando as coisas vão mal, o PT também entra no chororô. A moda é culpar “a zelite paulista” pelo pífio desempenho do candidato petista Alexandre Padilha – um político sem voto que não morava nem votava em São Paulo e foi importado só para ser candidato. As reclamações se espalham: o conservadorismo paulista freia o projeto petista de implantar o Paraíso brasileiro. Não votar no PT é como se fosse um crime.
Mas citemos o ótimo poeta português Manuel Alegre a respeito da posição do eleitorado paulista: “Mesmo na noite mais triste, em tempo de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”.
Tudo errado
Frase de Dilma Rousseff: “Humildemente, peço seu voto”. A frase não tem sentido: a ala bolivariana do petismo não sabe o que é voto. Os petistas militantes não sabem o que é “pedir”. E Dilma não sabe o que é “humildemente”.
O truque que deu certo
Levy Fidelix chegou lá: depois de muitos anos defendendo o aerotrem, sem qualquer repercussão, virou assunto nacional ao falar mal de gays no debate da Record. Foi esperteza explícita (alguém que há tantos anos vive dos dividendos de um partido nanico certamente não é burro). Sabe que a população não vai decair devido a leis que consagrem direitos de homossexuais. Júlio César gostava de homens e aumentou o poderio de Roma. Alcibíades teve um caso com o filósofo Sócrates e foi o mais vitorioso general de sua época. Fidelix lançou a isca e virou assunto.
E conseguiu até que gente inteligente lhe desse importância.
O verde errado
Responda sem consultar o Google: qual o ator que faz o papel do Incrível Hulk? Este colunista responde: é Mark Ruffato. Ruffato gravou vídeo de apoio a Marina Silva, cheio de elogios à candidata. Menos de 24 horas depois, retirou seu apoio a Marina: “Não posso apoiar um candidato que tem uma abordagem dura em relação a questões como casamento entre homossexuais e os direitos reprodutivos”. Direitos reprodutivos, no dialeto utilizado, significa “aborto”.
Hulk apoiou Marina e retirou seu apoio. Não é nada, não é nada… não é nada.
Os mais iguais
O juiz baiano Sérgio Rocha Pinheiro Heathrow foi condenado por crime de peculato – desvio de dinheiro público – pelo Tribunal de Justiça da Bahia. Segundo a acusação, o juiz libertou duas pessoas, com o pagamento de fiança, e se apropriou das quantias. Coisa pequena, aliás (para quem acompanha o Petrolão, é dinheiro de troco): R$ 1.085,00 e R$ 3.400,00. Mas, enfim, houve desvio de dinheiro público, segundo o entendimento do Tribunal que o condenou.
Qual foi a pena? Não, caro leitor. Prisão é para os fracos. Para o juiz Sérgio Rocha Pinheiro Heathrow, a pena é outra: aposentadoria, com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço. Foi condenado a receber sem trabalhar.
Hábitos e costumes
O tratamento ao juiz Sérgio Heathrow não foi mais benévolo que o habitual. Um juiz condenado por matar a esposa e ocultar o cadáver continua como ocupante do cargo de juiz titular da comarca. Como não pode trabalhar, outro magistrado exerce a função, mas com título e salário de juiz substituto.

01 de outubro de 2014
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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