Há 20 dias, Aécio Neves (PSDB) não alimentava mais que uma tênue esperança de avançar ao segundo turno da disputa presidencial. Agora, porém, faltando somente quatro dias para a eleição, o tucano passou a ter fortes motivos para acreditar em uma virada.Marina ainda é favorita para enfrentar
Dilma no 2º turno, mas já não será surpresa
se ela terminar mais uma vez na terceira posição
O senador nem registra, nas pesquisas de intenção de voto, o que poderia ser classificado como uma disparada. Tendo chegado a um piso de 14% das preferências um mês atrás, cresceu vagarosamente até voltar, no levantamento concluído ontem (30) pelo instituto Datafolha, aos mesmos 20% que teve de maio a meados de agosto.
Mas o tucano se beneficia do constante, e mais acentuado, desgaste de sua adversária direta. Marina Silva (PSB), que chegou a empatar com a presidente Dilma Rousseff (PT) na liderança da corrida --ambas com 34%--, perdeu eleitores em todas as pesquisas realizadas no mês de setembro.
A ex-ministra do Meio Ambiente tem agora 25%. Viu, com isso, sua vantagem em relação a Aécio cair de 20 para apenas cinco pontos.
Verdade que o tucano, nos levantamentos feitos pelo Datafolha, jamais esteve acima desse patamar --embora tenha alcançado 23% no Ibope divulgado uma semana antes da morte de Eduardo Campos. Dois fatores, ainda assim, jogam a seu favor nesta reta final.
Primeiro, a queda de Marina é grande também nas simulações de segundo turno. Há poucas semanas a candidata do PSB, e somente ela, vencia Dilma com folga. No atual cenário, o desempenho da ex-ministra é igual ao de Aécio.
Com isso, a parcela da população disposta a endossar qualquer postulação habilitada a derrotar o PT já não terá o mesmo estímulo para dar seu "voto útil" a Marina. Cada eleitor que migrar do PSB para o PSDB terá impacto dobrado na distância entre as candidaturas.
Além disso, a sigla que hospeda Marina não tem nem sombra da estrutura de que dispõe a legenda de Aécio. Não se conhece ao certo o peso que a máquina partidária tem no dia da votação, mas é inegável que as "colas" auxiliam diversos eleitores --ainda mais quando o candidato e o número de sua agremiação são desconhecidos.
Guardadas as devidas proporções, lembre-se o caso de Celso Russomanno na eleição municipal de 2012. Concorrendo pelo PRB, tinha, em 20 de setembro, 20 pontos de vantagem sobre Fernando Haddad (PT), então em terceiro lugar. A quatro dias do pleito, seis pontos os separavam. Como se sabe, o petista foi ao segundo turno e derrotou José Serra (PSDB).
Claro que a situação é outra, a começar do fato de Marina Silva não ser Russomanno. A candidata do PSB ainda desponta como favorita para enfrentar Dilma Rousseff no segundo turno, mas já não será nenhuma surpresa se ela terminar mais uma vez na terceira posição.
01 de outubro de 2014
Editorial Folha de São Paulo
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