A participação americana na Primeira Guerra marcou o début do país na cena internacional, até então dominada pelos grandes impérios europeus com destaque para Reino Unido e França.
Com sua intervenção decisiva na Segunda Guerra, os EUA reafirmaram sua preeminência bélica, econômica e política. Para que um ganhe, é preciso que outro perca ― assim funciona o mundo. À ascensão dos Estados Unidos, correspondeu forte degradação da influência dos impérios.
Como corolário ao aumento do prestígio dos EUA, a língua inglesa cresceu em importância. A projeção da língua francesa, que reinava solitária nos contactos diplomáticos e comerciais até o início do século XX, começou a definhar. E o inglês foi, pouco a pouco, tomando seu lugar.
Os anos 1960 ― e a descolonização da África ― cuidaram de dar o golpe de graça na antiga preferência pelo francês. De lá pra cá, a língua inglesa se firmou como veículo de comunicação internacional em todas as áreas.
Até no campo diplomático, onde, durante séculos, teria sido inimaginável exprimir-se em idioma que não fosse o francês. Nosso passaporte é um bom exemplo. Até os anos 1970, vinha escrito em português e em francês. Em seguida, o inglês forçou passagem.
Hoje em dia, o inglês é de facto a língua internacional. Quando duas pessoas não se entendem, é com naturalidade que recorrem ao inglês.
No mundo atual, quem não conhece a língua dominante está arriscado a passar ao largo de muita coisa interessante. De tanto perder capítulos, periga não entender mais a novela.
Tudo o que eu disse aqui acima parece uma evidência, não é mesmo? Não para todos. Alguns anos atrás, a estreita franja ideológica ― um dos componentes da constelação de quereres que nos governa ― «detectou» declínio da potência americana.
Cheios de satisfação, nossos gurus profetizaram então que a língua inglesa sairia logo de cena. Era tremendo erro estratégico, mas a ignorância disseminada entre os medalhões do andar de cima fez que todos dessem de ombros e acatassem o raciocínio.
Ato contínuo, nosso messias anunciou que, daquele momento em diante, o ensino da língua espanhola seria privilegiado em detrimento do inglês.
Quanta ingenuidade! Não se deram conta de que a potência americana não é o único sustentáculo da popularidade mundial da língua de Shakespeare. A simplicidade da gramática, a singeleza da conjugação verbal, a riqueza do vocabulário contam tanto (ou mais) que a força dos EUA para garantir ao inglês um longo reinado.
Equivocou-se quem apostou na derrocada da língua inglesa. Daqui a alguns anos, a juventude brasileira vai-se dar conta do logro. Mas nem tudo é perdido. Tem quem lucrou com essa trapalhada.
A Universidade de Salamanca (Espanha), uma das mais antigas do planeta, acaba de outorgar título de doutor honoris causa a nosso messias. Essa honraria é conferida por merecimento.
A nosso antigo presidente, o colegiado de doutores de Salamanca atribuiu o mérito de ter contribuído para a educação da população brasileira(!). Em particular, foi levado em conta que, sob sua égide, foi implantado o ensino obrigatório da língua espanhola.
Quod natura non dat, Salamantica non præstat.
O que a natureza não dá, Salamanca não empresta.
Refrão enunciado em latim. Sugere que, sem o talento natural, o estudo não tem nenhuma serventia. Quanto a mim, continuo acreditando que estudo faz muita falta.
30 de abril de 2014
José Horta Manzano
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