"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

AUSÊNCIA DE ESTADO

  

Quem olha o Brasil de hoje e o compara ao país de quatro anos atrás leva um choque. Em vez da euforia de uma economia crescendo ao ritmo alucinante de 7,5%, com consumidores, empresários e investidores comemorando tantas conquistas, o que se vê é uma nação anestesiada, fruto de um apagão institucional. Da inflação alta à violência que tomou as ruas, tudo remete à ausência de Estado.

O reflexo mais claro desse processo é a Copa do Mundo. Para um país que ganhou fama planetária como a pátria do futebol, apostava-se que, faltando pouco mais de um mês para o início dos jogos, a população estivesse totalmente engajada. Mas estamos longe disso. A Copa, já se sabe, não deixará nenhum grande legado. A maior parte das obras que deveriam melhorar as condições de vida nas cidades-sedes sequer saiu do papel.

Não à toa, as ruas têm sido tomadas por constantes protestos, muitos se transformando em batalhas campais, com ônibus incendiados, comércio destruído, tiros e mortes. Cobra-se de tudo. Saúde, educação, segurança, enfim, retorno de uma das maiores cargas tributárias do planeta.

POVO ESTÁ CANSADO

Na avaliação de Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Universidade de Campinas (Unicamp), ao tomar as ruas, a população dá mostras de que se cansou de promessas não cumpridas, a começar pela melhora dos serviços públicos. O governo, que ele define como um gigante de pés de barro, tentou, o quanto poder, manipular as massas por meio de campanhas de marketing muito bem construídas. Mas a realidade se sobrepôs ao não entregar nada que resultasse em avanços para o país.

Com isso, o sentimento de desproteção se disseminou, a ponto de cidadãos decidirem fazer justiça com as próprias mãos.
O caso mais recente envolveu dois jovens em Guarujá, litoral de São Paulo. Eles haviam pintado a inscrição “ABC” numa rocha. Como se recusaram a atender o pedido de turistas e moradores para limpar o local, tiveram os corpos pichados e foram expulsos da praia.
Pode-se dizer que foi um caso menor.

Não se pode esquecer, porém, dos justiceiros do Rio de Janeiro que prendem menores infratores em postes usando travas de bicicletas, depois de espancá-los. O dever de combater os crimes, por menores que sejam, é da polícia. O problema é que a polícia está desacreditada, infestada por bandidos, matando inocentes.

DESEJO DE MUDANÇAS

Romano acredita que as cobranças da sociedade vão aumentar e obrigar os governos a agirem. Para ele, o modelo atual, de uma máquina pública perdulária, inchada, ineficiente e corrupta, esgotou-se. O Estado terá de operar com a menor estrutura possível e dar o melhor resultado.
A população está expressando desejo de mudança por meio das pesquisas de intenção de votos. Infelizmente, até agora, nenhum dos três principais candidatos à Presidência da República — Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) — mostrou um discurso consistente com os anseios da população. Ainda há tempo. Mas que não se venha com marketing. O povo não aguenta mais enganação.
 

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