O governo está usando a política cambial como parte da estratégia anti-inflacionária. Ao contrário do que o Ministério da Fazenda sempre disse — que um dólar alto era bom para a economia —, em menos de um ano, o Banco Central injetou US$ 88 bilhões no mercado de câmbio em operações de swap cambial. O objetivo é impedir a desvalorização do real, que pressiona ainda mais a inflação.
Os exportadores acham que estão sendo prejudicados com essa política. Se o real se valoriza, há estímulo às importações e perda de competitividade das empresas exportadoras. Se, ao contrário, a moeda brasileira perde valor, a inflação, que já está alta, fica ainda mais pressionada, porque sobe tudo: os produtos importados, os componentes usados pela indústria brasileira, a energia de Itaipu e as commodities, porque têm cotação em dólar. Outro efeito negativo é o aumento do prejuízo da Petrobras na importação de gasolina e diesel.
Ao iniciar essa política de intervenção no câmbio, o Banco Central queria evitar a volatilidade provocada pela ameaça da retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos. Mas o estresse com essa retirada já foi reduzido, e a política de intervenção no mercado de câmbio permaneceu. As operações do BC foram anunciadas em meados do ano passado para vigorar até dezembro. Mas depois continuaram. Os exportadores estão achando que ficaram em segundo plano.
— O governo considera hoje que a exportação é algo secundário. A prioridade é o combate à inflação, porque este é um ano de eleição e preços altos vão tirar votos nas urnas. Aumento de vendas para o exterior não vai garantir voto nenhum — disse o presidente da AEB, José Augusto de Castro.
O diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, faz a mesma avaliação. Ele é que fez o cálculo que conclui que o BC já ofereceu US$ 88 bilhões em liquidez ao mercado, por meio de operações de swap cambial, desde agosto de 2013.
— O governo tem um problema maior para resolver que é a inflação. Com isso, o setor exportador ficou em segundo plano. São três forças atuando sobre o câmbio. As operações do BC; a vinda de capital especulativo, atrás de juros altos; e também a captação de empresas no exterior. Elas estão antecipando esse movimento, por medo de uma piora de cenário à frente, com o calendário eleitoral — disse.
A alta do real, segundo José Augusto de Castro, retarda investimentos por parte dos exportadores. Durante muito tempo, os empresários ouviram das principais autoridade que o objetivo do governo era que o real ficasse mais fraco. Diante da mudança brusca de política, cresce a incerteza, o que reduz a propensão para investir.
O presidente da AEB já admite que sua projeção para a balança comercial este ano está defasada. Em janeiro, previa superávit de US$ 7 bilhões. Em junho, vai refazer as contas para uma estimativa próxima de zero.
— Ninguém esperava essa virada no câmbio, nem exportadores, nem economistas. Os juros altos do Banco Central já trazem capital especulativo para o país, e, ainda assim, o BC continua oferecendo dólares em operações de swap — disse.
A balança comercial está com déficit acumulado de US$ 6,4 bilhões até a terceira semana de abril. Esse é um dos motivos para o resultado negativo no balanço de transações correntes registrado até março, um déficit de 4,71% do PIB, no primeiro trimestre. A expectativa era de que o real mais fraco pudesse dar um fôlego às exportações e inibir não só as importações mas também o gasto de turistas brasileiros no exterior.
Ninguém quer inflação alta, e a taxa tem estado alta demais. Os exportadores brasileiros têm que ser competitivos mesmo quando a moeda brasileira está valorizada. O câmbio não pode ser nem instrumento de garantir competitividade de exportador, mas também não pode ser uma parte do arsenal anti-inflacionário. As intervenções do BC se justificam para evitar a volatilidade excessiva dos momentos de crise, mas não podem ser uma forma de buscar um dólar mais barato. Um dos pés do tripé que tem mantido o país com a economia estabilizada é que o câmbio precisa flutuar e o BC só entra para evitar os excessos. Não parece ser isso o que está acontecendo agora.
30 de abril de 2014
Miriam Leitão, O Globo
Os exportadores acham que estão sendo prejudicados com essa política. Se o real se valoriza, há estímulo às importações e perda de competitividade das empresas exportadoras. Se, ao contrário, a moeda brasileira perde valor, a inflação, que já está alta, fica ainda mais pressionada, porque sobe tudo: os produtos importados, os componentes usados pela indústria brasileira, a energia de Itaipu e as commodities, porque têm cotação em dólar. Outro efeito negativo é o aumento do prejuízo da Petrobras na importação de gasolina e diesel.
Ao iniciar essa política de intervenção no câmbio, o Banco Central queria evitar a volatilidade provocada pela ameaça da retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos. Mas o estresse com essa retirada já foi reduzido, e a política de intervenção no mercado de câmbio permaneceu. As operações do BC foram anunciadas em meados do ano passado para vigorar até dezembro. Mas depois continuaram. Os exportadores estão achando que ficaram em segundo plano.
— O governo considera hoje que a exportação é algo secundário. A prioridade é o combate à inflação, porque este é um ano de eleição e preços altos vão tirar votos nas urnas. Aumento de vendas para o exterior não vai garantir voto nenhum — disse o presidente da AEB, José Augusto de Castro.
O diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, faz a mesma avaliação. Ele é que fez o cálculo que conclui que o BC já ofereceu US$ 88 bilhões em liquidez ao mercado, por meio de operações de swap cambial, desde agosto de 2013.
— O governo tem um problema maior para resolver que é a inflação. Com isso, o setor exportador ficou em segundo plano. São três forças atuando sobre o câmbio. As operações do BC; a vinda de capital especulativo, atrás de juros altos; e também a captação de empresas no exterior. Elas estão antecipando esse movimento, por medo de uma piora de cenário à frente, com o calendário eleitoral — disse.
A alta do real, segundo José Augusto de Castro, retarda investimentos por parte dos exportadores. Durante muito tempo, os empresários ouviram das principais autoridade que o objetivo do governo era que o real ficasse mais fraco. Diante da mudança brusca de política, cresce a incerteza, o que reduz a propensão para investir.
O presidente da AEB já admite que sua projeção para a balança comercial este ano está defasada. Em janeiro, previa superávit de US$ 7 bilhões. Em junho, vai refazer as contas para uma estimativa próxima de zero.
— Ninguém esperava essa virada no câmbio, nem exportadores, nem economistas. Os juros altos do Banco Central já trazem capital especulativo para o país, e, ainda assim, o BC continua oferecendo dólares em operações de swap — disse.
A balança comercial está com déficit acumulado de US$ 6,4 bilhões até a terceira semana de abril. Esse é um dos motivos para o resultado negativo no balanço de transações correntes registrado até março, um déficit de 4,71% do PIB, no primeiro trimestre. A expectativa era de que o real mais fraco pudesse dar um fôlego às exportações e inibir não só as importações mas também o gasto de turistas brasileiros no exterior.
Ninguém quer inflação alta, e a taxa tem estado alta demais. Os exportadores brasileiros têm que ser competitivos mesmo quando a moeda brasileira está valorizada. O câmbio não pode ser nem instrumento de garantir competitividade de exportador, mas também não pode ser uma parte do arsenal anti-inflacionário. As intervenções do BC se justificam para evitar a volatilidade excessiva dos momentos de crise, mas não podem ser uma forma de buscar um dólar mais barato. Um dos pés do tripé que tem mantido o país com a economia estabilizada é que o câmbio precisa flutuar e o BC só entra para evitar os excessos. Não parece ser isso o que está acontecendo agora.
30 de abril de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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