"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

"O ALUCINANTE FIASCO FISCAL"



Com as contas em mau estado e sem perspectiva de melhora significativa, o governo continua menos empenhado em resolver os problemas fiscais do que em responder às críticas e em buscar meios para disfarçar a piora das finanças públicas. Um dos mais ativos participantes desse jogo, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, acaba de inventar um "ataque especulativo" à política fiscal brasileira, conduzido, segundo ele, pela imprensa.
 
O governo jamais perdeu o controle de seus gastos e "o conjunto das versões sobre a política fiscal" é incompatível com a realidade, garantiu o secretário numa entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
 
O resultado de outubro foi muito bom, acrescentou Augustin, e a meta fiscal de 2013 será alcançada. Para o governo central, essa meta corresponde a R$ 73 bilhões de superávit primário, o dinheiro posto de lado para o pagamento de uma parte dos juros da dívida pública. De uma parte, somente, porque o resultado geral - incluídos os compromissos financeiros - deve ser, como de costume, negativo.
 
 
Num dueto meio desafinado com o secretário do Tesouro, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, defendeu a adoção de um regime de bandas para o superávit primário. Com essa mudança, o compromisso fiscal seria formalmente cumprido, se o resultado ficasse dentro de um intervalo determinado, segundo é razoável supor, pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). O regime de bandas daria mais previsibilidade à gestão do gasto público e permitiria evitar a austeridade excessiva, segundo declaração citada pela Folha de S.Paulo.
 
Na mesma entrevista, a chefe da Casa Civil negou a existência de um problema fiscal decorrente da despesa. O problema, acrescentou, "é o baixo crescimento, conjugado com uma política agressiva de desonerações ao setor privado".
 
O quadro fiscal fica mais preocupante do que aquele mostrado pelos números quando altos funcionários do governo começam a negar os problemas, a inventar explicações sem pé nem cabeça e a apresentar propostas como a do regime de bandas.
 
Esta é uma ideia particularmente infeliz, por causa do currículo econômico do atual governo. Segundo vivem repetindo a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a inflação tem ficado normalmente dentro da meta. Essa afirmação é falsa.
 
A meta é 4,5%. A banda de 2 pontos para mais ou para menos (na prática, quase sempre para mais) é apenas um espaço de tolerância para acomodar situações excepcionais. Não houve no Brasil, nos últimos anos, nenhum fato excepcional, além da tolerância à inflação, para justificar uma alta de preços muito maior que a observada, em média, nos demais países emergentes e no mundo desenvolvido.
 
Esse frouxo conceito de meta é suficiente para desmoralizar, de imediato, qualquer proposta de um regime de banda para a meta fiscal. Além disso, a política fiscal já se tornou amplamente desacreditada pelos truques adotados para o fechamento das contas no fim de cada exercício. A chamada contabilidade criativa é apenas o grande final do espetáculo de mágicas. A parte menos inventiva da arrumação, como o recurso crescente a receitas excepcionais, já bastaria para desmoralizar a política.
 
Sem dúvida, os números do bimestre final de 2013 devem ser melhores que os de setembro, quando até o resultado primário ficou no vermelho. O ingresso dos R$ 15 bilhões do bônus do leilão do Campo de Libra deve contribuir significativamente para essa melhora.
 
Quanto à ministra Gleisi Hoffmann, ela passa longe da verdade quando nega a ocorrência de problemas do lado da despesa. Os números acumulados até setembro mostram uma expansão maior do gasto que da receita. Quanto à referência às desonerações, vale mais como confissão do que como justificativa. Na maior parte mal concebidos e mal dirigidos, esses benefícios fiscais acabaram incentivando mais o consumo do que a produção e resultaram em fiasco e desperdício, como comprova a mistura de baixo crescimento, inflação alta e contas externas em deterioração. Estará a ministra interessada em doses maiores dessa mistura tóxica?

06 de novembro de 2013
Editorial do Estadão

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