Governo dá uma mãozinha à “bancada da bola”, à CBF e a empreiteiros — e a CPI sobre o futebol e os gastos da Copa vai para o ralo. É o governo campeão da “transparência” em ação
Pouca gente saber dizer o que faz, realmente, no dia a dia, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Ela aparece menos do que outros ministros. E, volta e meia, aparece mal.
Vejam só: o senador Mário Couto (PSDB-PA) apresentou, no Senado, projeto de constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para, hipoteticamente, ir fundo na questão do futebol no Brasil. A ambição da CPI era provavelmente excessiva para um Congresso onde existe, há anos, uma “bancada da bola” que faz o possível e o impossível para impedir que as bandalheiras do futebol e, especialmente, da CBF, sejam trazidas à tona.
A intenção declarada do senador era investigar não somente a penca de suspeitas pendentes sobre a CBF mas também problemas em federações estaduais e — aí 0 bicho pega — a montanha de dinheiro público enterrada na construção de estádios para a Copa de 2014.
Quer dizer, além de esbarrar nos interesses escusos do futebol, a CPI poderia afetar empreiteiros de obras, também detentores de poderoso lobby no Congresso.
A coisa na caixa-preta que é a CBF, como se sabe, é tão feia que, chegada a um ponto, o que parecia seu presidente perpétuo, Ricardo Teixeira, acabou sendo ejetado — embora para um doce e milionário exílio em Miami, nos Estados Unidos. A caixa preta, contudo, não foi aberta, e parece que nem será.
O Regimento Interno do Senado exige que 27 senadores — um terço do total — apoiem a formação de uma CPI para que ela possa existir. O senador Mário Couto arrebanhou 33 assinaturas, folgadas sete mais do que o necessário.
Antes da CPI ser instalada, porém, o Planalto mandou correndo a ministra Ideli ao Congresso, com a gloriosa missão de articular a retirada de assinaturas para barrar as investigações.
Deu certo. A ministra baixou no Congresso, conversou com muita gente e, no final das contas, nove senadores da base de apoio parlamentar do governo retiraram suas assinaturas.
A CPI morreu antes de nascer.
E este é o governo que fala, de boca cheia, em “transparência”.
Este é o governo que alega ser o campeão da luta contra a corrupção.
06 de novembro de 2013
Ricardo Setti - Veja
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