"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

CRISE É RESPONSÁVEL POR ENORME RETROCESSO SOCIAL

Famílias fazem o caminho de volta à pobreza, devido aos erros de política econômica do lulopetismo, que se vangloriava de ter criado uma ‘nova classe média’

O PT soube usar de forma competente como propaganda político-eleitoral os avanços sociais que, na verdade, vinham desde a estabilização da economia, com o lançamento do Plano Real, em 1994, no governo Itamar, e implementado nos oito anos de poder dos tucanos, com o ministro da Fazenda responsável pelo plano, Fernando Henrique Cardoso, na Presidência da República.

Como já ocorrera por um curto momento no Cruzado, a derrubada da inflação, por si só, provocou um salto no poder de compra em especial da grande massa da população, sempre a mais prejudicada na subida dos preços.

Com o PT, programas sociais lançados na era FH ficaram mais robustos — embora menos focados —, foram ampliados, e ainda houve, com apoio lulopetista, a indexação de benefícios sociais e previdenciários pelo salário mínimo.

Este, com aumentos bem acima da inflação, ampliou o crescimento de renda nas famílias de estrato social mais baixo — embora tenha dado contribuição fundamental à tendência de quebra do Tesouro, contra a qual o governo tenta aprovar a PEC do teto.

Em mais uma ironia da História, porém, o mesmo lulopetismo que robusteceu programas sociais e se vangloriou de ter criado uma “nova classe média” patrocinou a derrocada desses “ex-pobres”, com a política irresponsável de crescimento lastreado em enorme desequilíbrio fiscal.

E assim, como esquadrinhou estudo da Tendências Consultoria Integrada, divulgado pelo GLOBO no domingo passado, os 3,3 milhões de brasileiros que, de 2006 a 2012, subiram das classes D e E para a C fazem o caminho de volta desde 2014, e com muitos outros mais.

Não seria outro o resultado da combinação de inflação com enorme queda na produção de bens e serviços. Tudo começa com a imperícia de Dilma, ao decidir cortar os juros na marra, de meados de 2011 a outubro de 2012. Não havia condições técnicas para a decisão — pois os gastos primários cresciam acima da inflação e da evolução do PIB —, e por isso a inflação mudou de patamar, fixando-se na fronteira do teto da meta, de 6,5%. Depois, desgarrou e foi para dois dígitos.

Mas reza a fé dos desenvolvimentistas que um pouco de inflação é o preço a pagar para um crescimento mais rápido. Balela, como se viu. O desarranjo fiscal, em meio a manobras contábeis que levaram ao impeachment da presidente, destruiu a credibilidade do país, levou ao corte de investimentos e à aceleração do desaquecimento, convertido em dois anos de séria recessão (2015 e este ano). Os 12 milhões de desempregados — por enquanto, pois serão mais — denunciam o tamanho dos erros cometidos pelo lulopetismo.

O estudo projeta que, até 2025, mais 1 milhão de famílias farão o mesmo percurso do empobrecimento. Há estimativas de que o país poderá voltar a crescer em 2017. Porém, será necessário muito tempo para cicatrizar essas feridas sociais.



19 de outubro de 2016
Editorial O Globo

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