"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 2 de julho de 2016

POSIÇÃO DO REINO UNIDO FORTALECE RACISMO E XENOFOBIA NA EUROPA E NO MUNDO



Nacionalistas protestam contra imigrantes na Eslováquia
Líder da Frente Nacional, principal partido da extrema-direita na França, a advogada Marine Le Pen, de 47 anos, se acostumou a ser ridicularizada por opositores, artistas e veículos de imprensa, como a revista satírica Charlie Hebdo, pelo discurso ultranacionalista que defende. Não raras vezes, Marine propaga xenofobia, racismo e demagogia, sobretudo contra imigrantes e muçulmanos, dois grupos muito relevantes na atual demografia francesa. Ainda assim, nos últimos anos ela passou de intrusa para uma das vozes mais ressonantes na política do país, entrou para a lista da revista americana Time das 100 pessoas mais influentes do mundo e se tornou forte candidata às eleições presidenciais de 2017.
Na semana passada, quando os líderes europeus ainda tentavam entender as consequências da ruptura do Reino Unido com a União Europeia (UE), decidida por plebiscito na quinta-feira 23, Le Pen foi convidada pelo presidente francês, François Hollande, para debater o tema no Palácio do Eliseu.
PLEBISCITO NA FRANÇA
Para ela, que defende que uma consulta semelhante à britânica seja realizada na França, o gesto foi reflexo de que sua bandeira, afinal, não é assim tão ridícula. “Cada dia que passa, recebemos demonstrações de que estamos certos”, disse Le Pen à Time. “Cada dia que passa valida a análise que apresentamos nos últimos anos, muitas vezes sozinhos, muitas vezes contra todos, muitas vezes menosprezados e insultados.”
Ela não hesita em parecer populista ao declarar que, após a decisão dos britânicos, a “primavera dos povos é agora inevitável” e que esse é apenas o início do fim da UE.
NACIONALISMO – Seguindo essa retórica, a líder francesa evoca a liberdade tão cara aos franceses para dizer que, fora do bloco europeu, o povo recuperaria a autonomia para governar a si próprio, colocando seus interesses em primeiro lugar.
É um discurso muito semelhante ao do magnata Donald Trump, o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, que promete “fazer a América grande outra vez”. Como Le Pen, Trump adora dizer que sempre esteve certo e viu o resultado do referendo britânico como uma “grande vitória”, a despeito do que disseram os principais líderes políticos europeus, os economistas e intelectuais – em suma, o “establishment”.
Por mais absurdas que possam soar as afirmações de conservadores como Marine Le Pen e Donald Trump, é preciso admitir que os dois tiveram a capacidade de captar um sentimento popular que a elite política não teve: a sensação de que, nos últimos 30 anos, mas principalmente depois da crise financeira de 2008, a classe média de países industrializados sofreu com a globalização.
TUDO PIOROU – A classe média perdeu empregos para imigrantes e trabalhadores de países onde a mão-de-obra é mais barata, viu a renda encolher, a segurança piorar. “As pessoas que gostam de Trump pensam que as elites americanas não se importam com elas, as ignoram, e que ele não parece alguém que apoiaria alguns cidadãos às custas dos outros”, disse à IstoÉ Henry Olsen, analista do Centro de Ética e Política Pública, de Washington. “Além disso, Trump canaliza o desejo de milhões de americanos que querem ser liderados por alguém que expressa nacionalismo e orgulho por ser americano.”
CHEGA DE IMIGRANTES – Ainda que tenham sido alertados para os riscos que o abandono do mercado único, responsável por metade de suas exportações, poderia causar à economia, os britânicos levaram para as urnas o sentimento de nacionalismo e a frustração com a globalização.
O raciocínio considera que os cidadãos comuns pagam a conta mais salgada pelo recente aumento do fluxo migratório, que sobrecarrega os sistemas públicos de saúde, educação e proteção social. Líder do Partido da Independência do Reino Unido (Ukip, na sigla em inglês) e feroz defensor do rompimento com a UE, Nigel Farage chegou a propor uma lei que permitisse aos empregadores discriminar candidatos estrangeiros para dar a vaga a britânicos. Até a semana passada, ele também era visto como um estranho no ninho, mas agora quer mais espaço no debate público.
MAIOR RESPALDO – Por alienarem – e até ofenderem – fatia importante do eleitorado, Farage, Trump e Le Pen podem não ser os melhores candidatos para eleições gerais. Os sinais recentes, contudo, mostram que suas plataformas têm respaldo maior do que os moderados gostariam e podem ganhar ainda mais relevância nos próximos ciclos eleitorais.
“O mais assustador desse fenômeno é que Trump não é o último candidato americano que incorpora uma personalidade autoritária, um homem forte. Ele é o primeiro”, diz Carl Bogus, professor de Direito na Universidade Roger Williams, de Rhode Island, e autor de livros sobre o conservadorismo americano.
“Ele pode não ser eleito, mas abrirá espaço para outros como ele.”
NA ESPANHA – Como efeito colateral da ressaca britânica, os espanhóis, que foram às urnas no domingo 26 pela segunda vez em seis meses, deram mais espaço para o Partido Popular, do primeiro-ministro conservador, Mariano Rajoy. Embora não tenha a maioria absoluta do Parlamento, Rajoy usou a instabilidade britânica para aumentar o apelo por um consenso urgente em seu país e evitar terceiras eleições e um referendo de independência da Catalunha. Os conservadores, mais uma vez, comemoraram.

02 de julho de 2016
Mariana Queiroz Barboza
IstoÉ

Nenhum comentário:

Postar um comentário