Artigos - Globalismo
Então a Rússia está se unindo com China, Índia, Irã, Coréia do Norte, Vietnã, Venezuela, Nicarágua, África do Sul, Angola, Congo, Brasil, Bolívia e Equador? O que você supõe que tudo isso significa?
Quando Putin visitou Cuba alguns anos atrás, perguntaram-lhe se ele era comunista.
Ele disse: “se for, não preciso ficar dizendo”.
Ele disse: “se for, não preciso ficar dizendo”.
“Há um considerável montante de opiniões descrevendo o anticomunismo como sendo uma obsessão de pessoas que estão incapacitadas de pensar em categorias “sensíveis” e “realistas”, escreveu Josef Mackiewicz em O Triunfo da Provocação; “elas estão, por assim dizer, afetadas por uma doença incurável, sendo, portanto, perda de tempo tratá-las. Podemos apenas descartá-los com uma encolhida de ombros”. E assim, após a queda da União Soviética, não há mais espaço para se dar à posição anticomunista. O último ponto de apoio foi destruído. A União Soviética se foi.
Será mesmo?
E se a União Soviética continuou a existir após 1991 escondida atrás da “nova” fachada democrática da Rússia? E se Rússia e Ucrânia estiverem agora aplicando a “estratégia das tesouras” contra o Ocidente? Metade dos oficiais do governo da Ucrânia têm caráter soviético. Isso é fato bem conhecido! Metade foi educada em escolas da KGB ou em outras instituições comunistas linha-dura (segundo a pesquisa de Boris Chykulay). Seria possível que eles não mais estariam recebendo ordens de Moscou?
O que quer que as pessoas em cargos de responsabilidade na Ucrânia queiram transparecer, eles todos têm armas apontadas para suas cabeças – e eles sempre saberão disso. Agora o mundo todo vê a arma engatilhada e pronta para disparar.
O analista coça a cabeça. Como podemos entender um conflito entre Rússia e Ucrânia? Teria o patriotismo ucraniano tentado lidar definitivamente com as estruturas soviéticas? Será que Moscou de fato perdeu o controle? Isso pode ser verdade, embora não possamos saber ao certo.
A Rússia e as ex-repúblicas soviéticas não são “transparentes” na organização política ou econômica. Esse tem sido um dos motivos de frustração para os homens de negócio e políticos do ocidente nos últimos 20 anos. Na melhor das hipóteses a situação se mantém obscura.
Talvez o movimento clandestino ucraniano tenha recursos e disciplina suficientes para bater os russos em seu próprio jogo. Leve em conta os protestos recentes em Moscou com cidadãos russos agitando bandeiras ucranianas.
E então vemos os russos enviando bombardeiros carregados ao Ártico. Vemos eles mobilizando em busca de suporte político ao redor do mundo. É o caso de perguntar: estamos lidando com uma agenda?
Os analistas da grande mídia estão chocados com o reinício da Guerra Fria; enquanto isso, alguns de nós concluímos há tempos que a Guerra Fria jamais acabou. Os comunistas soviéticos continuam a governar usando a “espada e o escudo” da KGB no meio das sombras. Eles continuam a apoiar os comunistas mundo afora. Após 1991,
Moscou fomentou o esforço militar comunista em Angola (contra Jonas Savimbi) e obteve sua vitória definitiva em 2002. Mesmo agora os russos continuam a apoiar os comunistas angolanos (v. Surfing Russia’s Military Cooperation With Angola). Moscou também continua a dar apoio à tomada da Venezuela por Cuba, além de ter ajudado a Nicarágua a construir sua força militar (v. Russia plans to add military bases in Nicaragua, Venezuela, other countries). Além disso, existe a aliança da Rússia com a China comunista (v. Why a Russia-India-China alliance is an idea whose time has come).
A Rússia tem apoiado a causa comunista na África, América do Sul e Ásia desde 1991 sem que qualquer um no Ocidente fizesse qualquer objeção. Por que eles fazem isso então? Seria porque eles desistiram do comunismo em 1991?
Isso soa engraçado se for verdadeiro – além de completamente absurdo.
Enquanto isso acontece, devemos saber que não estamos lidando com a Federação Russa. Não, não, não e não. A dita Federação Russa é uma fachada do Partido Comunista da União Soviética para ganhar confiança dos seus inimigos – para depois providenciar a destruição deles. As palavras de Josef Mackiewicz mantêm-se verdadeiras hoje tanto quanto trinta anos atrás quando foram escritas. É um erro capital, disse Mackiewicz, tomar a União Soviética como a velha Rússia. E isso é exatamente o que estamos sendo encorajados a fazer.
Os eventos de 1989 foram uma provocação. Os eventos de 1991 foram uma provocação. Os eventos de 2014 são uma provocação. “O comunismo internacional, cujo quartel general está em Moscou, não é um ‘imperialismo’ dentro das definições comuns da palavra, mas um esforço para dominar o globo, o mundo inteiro, todas as nações, para assim forçar o mundo a adotar o sistema totalitário comunista”, escreveu Mackiewicz. Se não entendermos isso, não entenderemos nada. Lênin não foi enterrado; os comunistas na África recebem suprimentos militares da Rússia e da China enquanto estas palavras são escritas.
Os comunistas latino-americanos também têm recebido assistência de Moscou. Quando Putin visitou Cuba alguns anos atrás, perguntaram-lhe se ele era comunista. Ele disse: “se for, não preciso ficar dizendo”. (N.T.: Na mídia em inglês o termo usado foi “Call me a pot, but heat me not”. Algo como “Me chame de panela, mas não me aqueça”, uma charada.)
Que tipo de político dá esse tipo de resposta a uma pergunta direta? “O comunismo internacional em sua presente forma é um tipo de PESTILÊNCIA psicológica”, escreveu Mackiewicz, “e nenhum fator econômico ou nacional tem a ver com isso. Liberdade, a verdadeira, aparece apenas quando se derruba o comunismo e se destrói seu sistema, independente da língua que ele adota”.
Não importa se a KGB é chamada de FSB ou se a URSS é chamada de Comunidade dos Estados Independentes ou se Putin prefere ser chamado de Panela – desde que não esquentem ele. Putin é um comunista e a Federação Russa é uma formação comunista.
As estruturas governamentais da ex-União Soviética são comunistas, seus objetivos ainda são comunistas e seus métodos ainda são comunistas.
Os desafortunados contrarrevolucionários da América que estão perante a probabilidade de uma imposição comunista em seu próprio solo não fazem ideia do que estão lidando. Mesmo que eles tomem Putin por ditador, dificilmente eles podem esperar conseguir entender as armadilhas comunistas nas quais eles todos caíram.
Então a Rússia invadiu a Crimeia? Então a Rússia está levando 30 bombardeiros nucleares até Voronezh? Então a Rússia está posicionando suas forças na Bielorússia? Então a Rússia está se unindo com China, Índia, Irã, Coréia do Norte, Vietnã, Venezuela, Nicarágua, África do Sul, Angola, Congo, Brasil, Bolívia e Equador? O que você supõe que tudo isso significa?
Um único punho cerrado é o que significa. Os comunistas estão juntando suas forças, pressionando por domínio em campo aberto, pois sabem que o Ocidente é fraco demais para oferecer séria resistência.
Por acaso imaginamos que a falseada morte do comunismo – essa mentira de 22 anos – foi motivo de risadas? Por acaso esperamos um comunista saindo pelado de dentro do bolo e dizendo “Ha, Ha, éramos comunistas o tempo todo! Não foi incrível nossa artimanha?” Ou a mentira acaba de modo mais realista com uma arma na mão e uma saraivada de mísseis? Está na hora também de eles trazerem abaixo o sistema financeiro ocidental, quebrar o dólar americano e quebrar os mercados ocidentais. Os russos e os chineses usarão ouro para quebrar as moedas de papel? Já estamos para ouvir falar de um suposto colapso do sistema de “shadow banking” chinês, dado que o premiê chinês alertou que devemos nos preparar para uma “onda de falências”. Estaríamos julgando a floresta pelas árvores que estamos vendo?
Conforme escrevi para um amigo na semana passada, está muito cedo para dizer qualquer coisa sábia sobre a Ucrânia. A política do país está atolada numa disputa bizantina pela posse do poder em uma república soviética que teve uma leva de lacaios expurgados que deram lugar a outros, com a complicação adicional da agitação pública. Talvez estejamos vendo a execução de um plano B onde o exército russo entra no jogo após terem falhado as “estruturas soviéticas” que supostamente deveriam manter o país em ordem. Ainda assim, algo indica que tudo o que aconteceu fora previsto muito tempo atrás.
Não é acidental, por exemplo, que a Transnístria foi formada como um Estado pró-Rússia não reconhecido entre a Moldávia e a Ucrânia (similar aos casos da Abecásia e Ossétia do Sul na Geórgia). Também parte dos desígnios era a união militar total entre Bielorússia e Rússia (assinado por Boris Yeltsin em 1999). Não obstante há a manutenção de uma frota russa no Mar Negro. Por qual motivo essa frota, com toda as despesas que gera, está sendo mantida?
Tal disposição não poderia ser casual, mas sim, como eu gostaria de sugerir, todo elemento faz parte de um desígnio; isto é, para manter um semicírculo de posições militares em volta da Ucrânia (com a Transnistria a sudoeste, Minsk ao norte, Sevastopol ao sul e a própria Rússia no leste).
Em todos esses atos os russos deixaram claro que querem manter firmemente a Ucrânia sob seu domínio com ou sem agentes exercendo estrito controle no governo de Kiev. A Ucrânia está cercada e pode receber o golpe de misericórdia a qualquer momento. As preparações para um duplo invólucro do país tiveram início em 1991 quando foi ostensivamente dada à Ucrânia a independência. Isso basicamente mostra, antes de tudo, qual foi o espírito e a intenção da “independência” então cedida.
Por conta do governo de Kiev ser em grande parte uma charada desde 1991 e a política da Ucrânia ter sido a política da intriga e da maquinação russa, não é de se estranhar que Putin insista que a Ucrânia não é um “país de verdade”.
O colapso de toda a União Soviética foi uma charada em que fomos todos ludibriados. Em toda nossa ingenuidade, nós de alguma formas viemos a pensar que a Ucrânia é algo que pode e deve ser defendido – embora não tenhamos os meios e tampouco tenhamos feito qualquer preparação séria. Fomos pegos agora de guarda baixa. Queremos ajudar o povo ucraniano.
Queremos fazer com que o estado marionete da Ucrânia se desvencilhe de seu titereiro da KGB. Talvez, com efeito, a história dos fracassados agentes provocadores em Kiev não seja tão estranha, pois a história dos agentes provocadores são notáveis pelos seus “Domingos sangrentos” e Revoluções de Março. É totalmente possível que falsas revoluções possam vir a se tornar reais, pois como ensina o conto de fadas, até mesmo Pinóquio queria ser um garoto de verdade.
Então nós esperamos pelos eventos, talvez sabendo que toda a coisa foi designada para ser uma provocação. E mesmo se esses eventos não forem uma provocação, ainda assim eles são provocação, pois Moscou não pode deixar de usá-los como tais e nós não podemos deixar de nos enganar.
19 de março de 2014
Jeffrey Nyquist
Tradução: Leonildo Trombela Junior
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