"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 17 de novembro de 2013

QUINZE DE NOVEMBRO



A chegada da República no Brasil era tão previsível quanto a passagem dos dias, uns após os outros.
 
A alta oficialidade do Exército, em grande parte constituída de ex-combatentes da guerra do Paraguai, se sentia desprestigiada pelo governo.
 
Na sociedade de um país exclusivamente agrário, a distância entre esses oficiais e os proprietários de terras, que detinham o poder econômico e político, era infinita e também com eles os militares não se identificavam. O emprego da tropa na caça aos escravos fugidos, ou seja, na defesa de interesses daquelas oligarquias, era duplamente humilhante. O Exército se recusou a continuar a fazê-lo e, em outubro de 1887, foi liberado dessas atividades pela Princesa Regente, o que o indispôs mais ainda com os barões da lavoura.
A questão abolicionista ganhava mais e mais adeptos entre os militares e a República era discutida abertamente na Escola Militar. Resolvida a abolição em 1888, o próximo passo seria inexoravelmente a solução do desafio republicano.
 
A chamada Questão Militar, quando oficiais foram punidos por discutir assuntos políticos em público, provocou um longo desgaste no relacionamento entre o Exército e o governo. As punições foram anuladas e o Imperador determinou que elas fossem apagadas das alterações dos punidos.
 
O gabinete do Visconde de Ouro Preto, ao qual o Exército estava subordinado de fato, recusou-se a fazê-lo. O Ministro da Guerra concedeu que elas poderiam ser apagadas, desde que os atingidos o requeressem, e chegou-se a novo impasse: eles se recusaram a fazê-lo, pois não admitiam que haviam cometido algum erro e exigiam que a providência fosse tomada ex-oficio.
Malgrado todos os alertas de Deodoro ao Imperador, o somatório desses atritos e a falta de diálogo entre as partes colocaram o Exército e o gabinete em campos opostos e irreconciliáveis.
Na manhã do dia 15 de novembro, o Marechal, à frente da tropa, sitiou o quartel-general do Exército, onde o gabinete havia se refugiado, e anunciou sua deposição, deixando a cargo do Imperador a designação de um outro.
 
O velho oficial, cansado e adoentado, estava sendo insistentemente assediado pelos republicanos, liderados por Benjamin Constant. Durante o dia 15, no decorrer das
negociações, surgiram rumores de que o Imperador escolheria o senador Silveira Martins para liderar o novo gabinete.
Silveira Martins era sabido inimigo de Deodoro, que viu em sua nomeação a intenção de desgostá-lo. Irritado, e instigado pelos republicanos, ele transformou o movimento para depor um gabinete na deposição do próprio Imperador.
 
O Clube Militar havia nascido em junho de 1887 e, desde seu nascimento, foi a agremiação mais envolvida na defesa e propagação das ideias republicanas e o principal incitador do desfecho do dia 15 de novembro de 1889.
Malgrado o fato de que muitos pormenores daquele dia permaneçam obscuros, é verdade que a República foi implantada em um ambiente político confuso e sem a participação popular. No próprio Rio de Janeiro, a população, em sua grande maioria ignorante e alheada, nem sequer entendeu o que estava ocorrendo. No resto do país sabe Deus quando a notícia chegou, para ser recebida com a mesma passividade autista.
 
Mas aquele era o momento histórico adequado. O querido e respeitado Imperador estava velho e doente. Sua sucessão seria um problema complicado, pois a herdeira do trono era casada com um estrangeiro, o Conde D´Eu, o que desagradava muitos nacionalistas. Além disso, os ideais republicanos representavam uma evolução política e um sonho de liberdade e democracia longamente acalentados.
 
Ainda que altamente positivo, o nascimento confuso da República, em uma sociedade despreparada para recebê-la, resultou em uma infância conturbada e uma adolescência problemática. Hoje, em plena idade adulta, mais que nunca ela se vê ameaçada pela ação dos terroristas de ontem que, valendo-se das liberdades que a própria natureza republicana proporciona, concentram esforços no sentido de destruí-la. Para isso, é importante para eles que grande parcela da população continue tão alheada quanto estava em 1889.
 
E isso se consegue mantendo-a dependente, minando sua disposição de aprender ou trabalhar, concedendo-lhe bolsas a fundo perdido, sem qualquer necessidade de contrapartida e por tempo ilimitado, destruindo sua autoestima e transformando-a em um rebanho, facilmente influenciável, principalmente na hora de votar.
O Clube Militar, berço e casa da República, que a vem apoiando e defendendo por todas essas fases de sua vida, não pode se furtar da obrigação de congregar patriotas na luta para preservar a plenitude republicana. Este dia 15 de novembro de 2013 nos convida a meditar sobre as sombras que pairam no horizonte e sobre os riscos que corre nosso país sob a (des)orientação bolivariana em que vivemos.
No ano que vem, republicanamente, teremos eleições para definir o grupo que dirigirá o destino do Clube nos dois anos seguintes.
Será o momento de escolher aqueles mais preparados para cumprir essa nobre e espinhosa missão.
 
Que Deus apoie, ilumine e oriente, tanto os que escolherão quanto os escolhidos.
 
17 de novembro de 2013
José Gobbo Ferreira é Coronel na Reserva.

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