MEGATENDÊNCIAS

Nós não estamos conscientes da extrema gravidade pela qual está passando o nosso país e o mundo; nunca na sua história - ou na história que a gente conhece - a humanidade esteve tão perto do colapso. A razão desta falta de consciência se deve ao fato de que seria insuportável saber o que realmente está acontecendo e para onde está marchando a humanidade.  O mecanismo de defesa que a sociedade humana está adotando  para fugir desta realidade se chama NEGAÇÃO. 

 

Por exemplo, o sistema de segurança no Brasil e o sistema presidiário estão literalmente falidos  e sem solução à vista. Vários problemas nacionais graves estão sem solução à vista, como é o caso da  "escravidão moderna" que se manifesta nos transportes coletivos em São Paulo e também na circulação dos automóveis.  O Brasil é um dos campeões mundiais da violência e nenhum governo seja ele do PT ou do PSDB ou de qualquer outro partido tem solução para essa tragédia à qual a população vai se adaptando de forma resignada. Diante disso se impõe um ALERTA TOTAL para conscientizarmos a nós mesmos, à sociedade em geral e aos governantes em particular. 

 

Estados Unidos, Europa, China, Russia, Brasil, etc. só pensam numa coisa: crescimento econômico, recusando-se a admitir que esse crescimento tende a agravar a crise ao invés de atenuá-la. Com o desenvolvimento da tecnologia está ocorrendo o mesmo processo de deterioração: quanto mais a tecnologia se desenvolve, mais a sociedade  se desumaniza. 

 

Resta agora a difícil  tarefa de demonstrar que esta síntese corresponde aos fatos. 

Vamos  ter que enfrentar este desafio, porque a única chance de a humanidade se salvar é tomando conhecimento do grave risco que está correndo. 

 

Mesmo que a salvação seja um mito, como propõe o consagrado filósofo inglês John Gray, temos que recorrer a ela. É quando até o mito se justifica e se torna necessário, para alimentar a esperança, que é a última que morre. 

 

Voltando ao Brasil: 

 

Não há maior ilusão do que pensar que a salvação do Brasil depende da morte do PT. É dupla essa ilusão: primeiro porque não é possível acabar com um partido deste tamanho. A única maneira de isso acontecer seria através de um golpe militar mais radical que o de 64, o QUAL ESTÁ COMPLETAMENTE FORA DAS COGITAÇÕES DE NOSSAS FFAA. Elas já decidiram que não vão em hipótese alguma tomar o poder, ainda que temporariamente. O fato de alguns militares falarem que estariam dispostos a tomar o poder SE O POVO SAIR AS RUAS revela uma vontade que está devidamente reprimida. É um desejo inconsciente reprimido. O segundo elemento da ilusão é que mesmo que o PT morresse estaria aí o PSDB para continuar na mesma trajetória suicida do PT. É óbvio que a solução dos problemas do Brasil está muito além da (in) competência dos partidos, sejam eles de esquerda, liberais ou de direita. 

É inútil pretendermos agir contra as megatendências. Se elas são mega é porque são irreversiveis. Uma das irreversibilidades atuais é da democracia, seja ela falsa ou não. O falso sempre ocupou espaço na história da humanidade e vai continuar ocupando! Existe hoje um falso comunismo ou socialismo que está sendo ALIMENTADO pelos seus opositores, quando estes os supervalorizam. Na China, por exemplo, fala-se hoje em socialismo de mercado que não passa de uma abertura da ditadura chinesa em relação ao capitalismo, que envolve  maior participação das empresas privadas no mercado chinês. 

 

Um bom exemplo de adaptação resignada às megatendências é a atitude de tolerância do Papa Francisco em relação aos gays, como parte de uma estratégia para recuperar o prestígio da Igreja Católica, que passa pela maior crise de sua história. 

 

Para pensar na solução dos problemas é necessário ter deles uma visão correta, o que requer um diagnóstico que vai muito além do que está se fazendo no Brasil e no mundo. Os problemas chegaram a tal nível de gravidade que ninguém tem uma solução eficaz e viável. Existem porém, problemas insolúveis. Um deles é o da eufêmica mobilidade urbana.

 

No caso da cidade de São Paulo a única solução é a redução do número de habitantes, o que ninguém cogita, embora mais de 50% dos moradores desta cidade já tenham declarado que mudariam daqui se pudessem. A própria população apontou o caminho, mas ninguém quis saber. 

 

17 de novembro de 2013
Mtnos Calil, Psicanalista, é Presidente do Instituto Mãos Limpas.