"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 17 de novembro de 2013

MAU HUMOR DE EMPRESÁRIOS COM O GOVERNO DILMA GANHA CONTORNO POLÍTICO

Acesso de mau humor do setor privado com a política econômica ganha contorno mais político
 
O ACESSO DE BRONCA com a política econômica de Dilma Rousseff que começou no final de outubro ainda não passou. Há gente graúda que quer uma cabeça ou garantias de que o caldo não vai entornar em 2014.
 
Foi no último dia do mês passado que saiu aquele resultado horrível das contas do governo. Apesar do vexame pontual, os números de setembro não mudaram muito a opinião técnica de quem acompanha essas coisas, que decerto já era ruim, mas não ficou descabelada.
 
Pode ter sido uma aleatória gota d'água que fez transbordar o mau humor? Sabe-se lá.
 
Mas desde então a opinião da elite econômica sobre o governo da economia não apenas assumiu um tom de "fim de papo" como também passou a incluir sugestões de que a presidente deveria entregar uma cabeça, como prova de que entendeu o recado. A cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
 
A sugestão não faz muito sentido.
 
Primeiro, porque a política econômica de Mantega é a política de Dilma Rousseff, tanto por afinidade como por decreto, à maneira da presidente. Não se trata de segredo. É o que tem dito a presidente em tantas entrevistas e explicações.
 
Segundo, Dilma por ora não parece inclinada a fazer mudança relevante, pelo menos até a eleição. Não adianta trocar um ministro central de seu governo e ficar na mesma toada. Não vai colar; seria apenas contraproducente.
 
Para convencer, tomar alguma medida eficaz e, pois, amarga, Dilma teria de correr riscos eleitorais. Improvável. Por ora, a presidente parece disposta a evitar estragos maiores, tais como as "bombas fiscais" de black blocs do Congresso.
 
Isto posto, ainda assim há um chiado de fritura na praça do mercado, não na praça dos Três Poderes.
 
O mau humor pegou carona no mais recente faniquito do dólar, problema que em última análise vem dos EUA, mas que serviu para amplificar a sensação midiática de "dias de crise". Além do mais, houve reações irritadas, espantadas ou derrisórias mesmo às entrevistas que os ministros de Dilma deram para "disputar a versão do mercado" sobre o problema fiscal.
 
A seguir, apareceram notas esparsas na mídia sugerindo (com fundamento, aliás) que gente graúda da finança e mesmo do empresariado (ex)amigo do governo se cansou de Dilma, de sua política econômica e de seu ministro.
 
A gente pode ouvir de fato gente graúda da finança a dizer que Mantega tem de cair (ou ligando para perguntar se é verdade que ele está enfim caindo, coisa em geral rara, esse tipo de ligação, vindo de quem vem).
 
Pode se tratar de uma onda de rumores que "pegaram", dados o clima ruim, a proximidade da eleição (com o "realinhamento de lealdades") e a reforminha eleitoral que virá. Mas "pegaram" porque o filme político do governo queimou de vez em parte boa da elite econômica.
 
Parece quase impossível Dilma entregar um ministro a pedido de empresários ou da banca. Porém, o clima da última quinzena foi este: cortem uma cabeça ou ao menos apareçam com uma garantia de que o desarranjo fiscal não vá desandar em descontrole e crise em 2014.
 
No governo, mesmo, nenhum sinal de mudança. Mantega fica até o final de Dilma 1, bate o recorde de permanência de Pedro Malan no cargo e depois sai para cuidar da vida.

17 de novembro de 2013
Vinicius Torres Freire - Folha de São Paulo

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