Eu quero e todos querem que Michel Temer fique cem por cento curado. Que volte ao exercício da Presidência. Que viva ainda muitos anos. No mínimo mais uns 20 para que possa ver crescer seu pequeno filho, e, quem sabe, engravidar sua esposa Marcela e de seu vente fazer brotar e vir à luz outro Michelzinho e muito mais. Que Temer esteja firme, inteiro, com saúde perfeita, para enfrentar, também, as denúncias e responder pelas práticas de crimes comuns que a procuradoria-geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal contra ele e Temer conseguiu impedir, na Câmara dos Deputados, que as denúncias fossem examinadas pela Suprema Corte, ao menos enquanto exercer a presidência. Temer comprou os votos suficientes dos deputados calhordas e escapou pela segunda vez.
O povo brasileiro é de boa índole. É sentimental. É solidário, mormente na enfermidade, na dor. E ninguém deseja que o presidente morra. Ou que fique inválido para o trabalho e deixe o cargo antes do tempo. Ele precisa estar vivinho da silva para enfrentar o futuro, próximo e remoto.
ATENDIMENTO – Agora, cá pra nós, o que passa na cabeça de duzentos milhões de eleitores brasileiros quando aparece na televisão o atendimento médico-hospitalar de primeiríssima qualidade dado a co-eleito Temer? Sim, sabemos que é o presidente da República, e que, a reboque de eleita Dilma, ascendeu à presidência por causa do impeachment.
Sim, seja quem for, é o presidente, a mais alta autoridade nacional que precisa de atendimento médico-hospitalar que lhe deve ser prestado de imediato, com urgência, nos melhores e mais ricos hospitais, como é o caso do Sirio-Libanês em São Paulo, antes, no Hospital do Exército, em Brasília. Sabemos disso. Tudo bem. Tudo certo. O presidente precisa ser socorrido e não pode morrer e ninguém deseja sua morte. Mas o que passa na cabecinha de duzentos milhões de eleitores que não têm atendimento médico, não têm hospitais, não têm plano de saúde, nem pronto-socorros, bem ou mal equipados, não têm medicação, não têm dinheiro, comida, trabalho condigno e bem remunerado?.
O QUE SENTEM? – Que passa no pensamento dessa imensidão de brasileiros “ferrados” de verde e amarelo que consegue sobreviver nas “Rocinhas” que se multiplicam neste continente chamado Brasil? Que pensam, que sentem eles, que pensamos, que sentimos nós quando vemos o presidente ser atendido com urgência, qualidade, pompa, reverência, boletins médicos diários, entrevistas coletivas da equipe médica?
Ora bolas, é claro que nos sentimos órfãos, desamparados, menosprezados, inferiorizados, abandonados. Não é sentimento de inveja, mas de revolta, porque para nós, povão, tudo falta, nada existe e quando existe é precário. No Instituto Nacional de Traumato ortopedia (INTO) —outrora dirigido pelo médico Sérgio Cortes, hoje atrás das grades — tem pacientes que aguardam há 10 anos por uma cirurgia. E cirurgia não complicada, que não mexe com a bexiga, com a próstata, nem com o “pinto”!
ENFARTE DE FIGUEREIDO – Um fato concreto. Corria o ano de 1983. O então presidente João Baptista Figueiredo (1918+1999) teve um enfarto do miocárdio aqui no Rio. Levado para o Hospital do Servidores do Estado, próximo à praça Mauá, lá permaneceu por alguns dias e depois viajou para Cleveland, onde recebeu uma ponte de safena e outra mamária.
Enquanto isso minha tia, Maria Madalena Beja, então com 70 anos, nascida em Quatis, de onde nunca saiu, Tia Maria agonizava no Hospital da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que naquela época ainda pertencia à União. Estava no CTI à espera de um marca-passo que o hospital não tinha para trocar com o antigo e velho que estava quase parando no seu peito.
Não, não cruzei os braços. Mandei, via fax e telex, para o hospital de Cleveland e para o Palácio do Planalto um dramático pedido de socorro ao presidente Figueiredo. Em seguida liguei para um repórter conhecido (Carlos Magno) do Jornal do Brasil e perguntei se o meu gesto interessava ao jornal. Interessou. Minutos depois da conversa ao telefone o repórter foi até o meu escritório com um fotógrafo. E no dia seguinte a matéria deu primeira página. Também no dia seguinte o palácio do Planalto arranjou um marca passo novo. E neste mesmo dia seguinte a pecinha foi trocada e o diretor do hospital da CSN me ligou pedindo que eu fosse lá. Fui.
TUDO CERTO – Encontrei Tia Maria já no quarto (individual). Tudo limpo. Roupa de cama branquinha branquinha. Ar condicionado e três ou quatro médicos junto dela. Um mês depois, o general-comandante da Academia Militar das Agulhas Negras, que fica em Resende e próximo a Quatis, apareceu na humilde casa da minha tia, de dois quartos pequenos, sala, cozinha, banheiro e fogão a lenha. E entregou uma grande foto (um post, digamos) do presidente Figueiredo com a seguinte dedicatória, do próprio punho do presidente: “À Maria Madalena Beja, com respeito e carinho. Atenciosamente, João Batista de Oliveira Figueiredo”.
É, o homem era sensível. E o sobrinho de Madalena criativo. Fez o que sua criatividade ordenou. E conseguiu. E Madalena ainda viveu mais 21 anos. Hoje, a rua em que morava, tem o seu nome. Nasceu naquela casa e naquela casinha morreu. Era farta e nobre. Era poetisa e repentista.
ARTIGO MENTIROSO – Para terminar. A Constituição Federal tem um monte de artigos mentirosos. Logo o artigo 5º é a maior tapeação do mundo quando diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Mentira. A redação verdadeira é para ser esta: “Ninguém é igual ao outro perante a lei. Haverá distinção de múltiplas naturezas, que não garantirão aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
02 de novembro de 2017
Jorge Béja
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