O prefeito socialdemocrata da capital paulista, o tucano João Doria, teve um conjunto de atitudes durante a greve dos delinquentes dessa sexta-feira que reforçam a nossa percepção de que sua conduta à frente das prefeitura é pautada principalmente pelas oportunidades de marketing político, e não necessariamente pelo interesse real da maioria da população paulistana diante de determinadas situações.
Já no início da semana a prefeitura fez vazar o comunicado de que cortaria o ponto dos funcionários que faltassem no dia da greve. A imagem com a fotografia do ofício do comunicado circulou pelas redes sociais, e apoiadores do prefeito procuravam mostrar esse feito como mais um exemplo da imaginária e fantasiosa guerra política que o prefeito socialdemocrata supostamente trava contra a esquerda.
Mas esqueceram de informar aos propagandistas entusiastas e à própria população que cortar o ponto de funcionário público que falta ao trabalho sem motivo justificado é uma obrigação de ofício de qualquer administrador público. Se o administrador não o fizer, ele estará incorrendo em infração administrativa. Portanto, João Doria e os entusiastas de seu marketing político apenas fizeram proselitismo político sobre um ato rotineiro e obrigatório da administração pública.
Pataquada com Uber e 99Taxi e descaso com transporte público
Na quarta-feira à noite o prefeito fez circular um vídeo no qual ele assegura aos funcionários públicos da prefeitura que eles teriam transporte de graça no dia da greve através de serviços de transporte individual por aplicativos, como Uber e 99Taxi. No vídeo, produzido como autêntico palanque eleitoral, o prefeito não diz nem informa como teria sido viabilizada a mágica de oferecer transporte individual gratuito para os cerca de cento e trinta mil funcionários da administração pública municipal.
No dia seguinte, véspera da greve dos delinquentes, uma série de informações desencontradas e desmentidos oficiais por parte das empresas envolvidas mostrou que o anúncio feito pelo prefeito na noite anterior não se viabilizaria: não havia acordo com as empresas e estas, obviamente, não teriam como nem porque abrir mão da receita do atendimento de cento e trinta mil usuários.
Circularam boatos de que as empresas prestariam tal serviço sob a forma de doação à prefeitura, mas nada ficou efetivamente implementado. O que não nos surpreende, pois não faria sentido estas empresas se disporem a fazer esse tipo de doação, principalmente se considerarmos que João Doria está entre os políticos que foram favoráveis à aprovação da lei de regulamentação e taxação desses serviços, lei essa que se colocada em vigor poderá inviabilizar o funcionamento desses empresas na capital paulista.
O que um gestor de verdade deveria fazer no dia da greve
Se as habilidades de gestor público de João Doria correspondessem de fato àquelas que são mostradas pela sua equipe de marketing político, ele deveria ter tomado as seguintes atitudes para mitigar o transtorno dos paulistanos no dia da greve dos delinquentes:
a) Deveria assegurar o transporte, ainda que às custas do erário público, aos funcionários de setores críticos e que são essenciais para a segurança da população, como atendimento médico de urgência nos prontos socorros municipais e o setor de defesa civil da prefeitura.
b) Usaria o peso político da prefeitura paulistana para pressionar e fazer gestões, inclusive via medidas judiciais, junto ao sindicato de motoristas de ônibus de modo a assegurar que ao menos parte da frota circulasse. Afinal, milhões de paulistanos dependem de ônibus para trabalhar, e o prefeito deveria se preocupar com as necessidades dessa população, e não em tentar se promover por meio de marketing político em relação à greve, usando os funcionários da prefeitura para essa finalidade.
No dia da greve, milhões de paulistanos não puderam ir trabalhar devido à paralisação nos transportes públicos e também devido às ações criminosas dos delinquentes sindicais que bloquearam as principais vias da cidade. O prefeito obviamente dispõe dos meios e recursos necessários para contornar esse problemas, e pôde ir para seu gabinete normalmente. Em entrevista à rádio Jovem Pan pela manhã, o prefeito mais uma vez não perdeu o timing para o marketing político, xingou os grevistas e disse que ele “chega cedo ao trabalho”.
Acontece que milhões de paulistanos que também chegam cedo ao trabalho todo dia não puderam fazê-lo na sexta-feira devido a falta de transporte público. Uma falta que decorreu, em parte, da inépcia administrativa do atual prefeito, que esteve muito mais preocupado com seu marketing político pessoal do que em adotar ações (no escopo da alçada do poder público municipal), que pudessem mitigar os transtornos e os prejuízos sofridos pelos paulistanos no dia da greve dos delinquentes.
30 de maio de 2017
crítica nacional
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