A perspectiva de uma campanha eleitoral sem doações de empresas a serem registradas na contabilidade oficial instalou o pânico nos partidos. Ao contrário do que seria natural, não produziu neles solução alternativa.
O veto ao financiamento de pessoas jurídicas está em vigor há mais de um ano, por decisão do Supremo Tribunal Federal, corroborada por votação do Congresso. Votação esta pautada pelo constrangimento de ir contra a decisão do STF. Tempo suficiente para que suas excelências estivessem ao menos discutindo o que fazer: mobilizar eleitores, preparar campanhas de arrecadação, mostrarem-se dignos de financiamento espontâneo.
Nenhuma dessas ou outras providências criativas se observam nos partidos. O que se vê é apenas a expectativa de que mais à frente haja condições para mudar a regra de maneira a voltar à situação anterior.
Os sinais são sutis. Na semana passada alguns líderes partidários se reuniram com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para tratar de questões atinentes às investigações em curso. Janot queria apoio contra legislações restritivas à ação do Ministério Público. As excelências também. Para efeito oficial. No paralelo, porém, aproveitaram para sondar o procurador sobre a hipótese de revogar o veto às doações de pessoas jurídicas.
A consulta, obviamente, não prosperou. Mas fica a dica: passadas as eleições municipais de outubro próximo, haverá propostas para a retomada das doações de empresas. Sob o argumento de que o veto às empresas “não deu certo”. A suas excelências o que vale é o retorno ao que a antiga musa cantava e não a correção dos termos da canção.
Tanto faz. Por enquanto são três os candidatos à eleição da presidência da Câmara na próxima quinta-feira: Rogério Rosso (PSD), Rodrigo Maia (DEM) e Fernando Giacobo (PL). Oficialmente nenhum deles conta com o apoio do Palácio do Planalto, cujo sonho de consumo talvez fosse ter um correligionário do PMDB no posto.
Extra oficialmente, Rosso é tido como o “menos pior”. Giacobo, ligadíssimo ao notório Valdemar da Costa Neto, é visto como o “rei da chantagem” e Maia qualificado como gerador de atritos, dada sua dificuldade de transitar de forma amena entre os colegas. Neste cenário da falta de um candidato ideal, para o governo tanto faz quem cumprirá mandato tampão até fevereiro de 2017.
Nessa visão, entrar numa briga agora seria tarefa além de inglória, inutilmente arriscada. Estão frescas na memória as nefastas consequências de guerras perdidas por governos anteriores. Para Fernando Henrique, a eleição de Aécio Neves custou o rompimento da aliança com o então (hoje DEM) poderoso PFL. Ao PT, sucessivas imposições de candidatos produziram inimigos na Casa e, por último, rendeu a eleição do mais venenoso deles, Eduardo Cunha.
Diante da evidência de que não há solução ideal, o Planalto prefere guardar prudente distância de qualquer solução que venha a decorrer a disputa em plenário. Quanto à ideia de que o renunciado Cunha venha a influir na escolha do novo presidente, a resposta é a seguinte: não conseguiu preservar o próprio mandato, muito menos poderá assegurar o do próximo.
Sete chaves. Aprovado o impeachment de Dilma Rousseff, sobre o qual os atuais governistas não têm a menor dúvida, Planalto e adjacências sofrerão mudança radical. Transformação esta já desenhada, mas mantida sob o mais absoluto sigilo.
10 de julho de 2016
Dora Kramer, O Estado de S. Paulo
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