"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 10 de julho de 2016

PT, MST, CUT E MOVIMENTOS SOCIAIS VÃO PARAR O RIO NA ABERTURA DA OLIMPÍADA


João Pedro Stedile: Os capitalistas sequestraram o sistema eleitoral no Brasil
Stedile critica o neoliberalismo adotado por Lula e Dilma
















O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, faz uma consistente análise do quadro político brasileiro. Em entrevista ao jornal Bafafá, ele afirma que a conciliação do PT com a burguesia é um casamento desfeito que não adianta insistir. Para Stédile, o neodesenvolvimentismo da era Lula e Dilma se esgotou. “Nós, como forças progressistas da sociedade, temos que debater e pensar em um novo projeto. O carro de som como forma de mobilização não serve mais”, garante.
Stédile anuncia que o MST, o PT, as centrais sindicais e os movimentos sociais vão parar o Rio de Janeiro, no dia da abertura da Olimpíada, para denunciar o golpe.
Como analisa o momento que estamos vivendo?A classe dominante brasileira, ao longo de nossa história, sempre recorre a esses golpes militares ou institucionais para recompor o seu projeto. Nós fazemos uma leitura que a sociedade brasileira está vivendo uma grave crise nesse período de sua história. Uma crise que não é de corrupção, não é apenas uma crise política. Ela eclodiu em meio a uma crise econômica, em meio a uma crise política de gestão do estado e uma crise social com os problemas se agravando. Temos ainda uma crise ambiental fruto da ganância do capital como nunca vimos em outros períodos de nossa história. Isso é decorrência da vários fatores: da crise do capitalismo internacional, da dominação do capital sobre o estado e a produção, da falência da democracia representativa. Os capitalistas sequestraram o sistema eleitoral no Brasil e elegem quem eles querem. Essa história de que todo poder emana do povo é uma falácia! O povo nem sequer lembra em quem votou. Na votação do impeachment da Dilma só 36 deputados tinham votos próprios para se eleger, o resto entrou de carona. A crise é mais ampla do que apenas possíveis erros do governo Dilma.
O MST foi crítico ao governo Dilma?Nós criticamos e denunciamos o governo Dilma porque ele foi eleito com um programa em 2014 e imediatamente montou uma equipe que nada tinha a ver com este programa, com o Levy à frente. Em 2015, foi um desastre porque ela adotou um programa neoliberal que tirou o apoio popular dela. Nós sempre fomos críticos, sobretudo no segundo mandato. Porém, temos que entender que a causa principal não são os erros do governo. Diante dessa crise histórica, que só aconteceu antes em 1930, 1960, 1964 e 1980. Para sairmos da atual precisamos de um novo projeto com nova hegemonia na sociedade. A burguesia, diante da crise, soltou seus cachorrinhos na rua. Embalados pela Globo com a fantasia que o problema era a corrupção, fizeram todo aquele latido nas ruas. Ai veio o golpe e agora estão envergonhados. Nunca se viu tanta corrupção num só governo como o atual. Três ministros já caíram e tem mais sete arrolados em processos de corrupção. Como disse o Ciro Gomes, o governo Temer é um sindicato de ladrões.
O impeachment é golpe?A burguesia deu um golpe institucional porque quer aplicar um plano neoliberal que atenda o capital financeiro e as grandes corporações internacionais. Esse governo provisório já prega o realinhamento com os Estados Unidos, a flexibilização da CLT e liberação da terceirização. Vai ser um ataque frontal ao direito dos trabalhadores. O pior vai ser a apropriação de R$ 220 bilhões em recursos que eram destinados às camadas populares, em todas as áreas, saúde, educação, moradia, reforma agrária. Isso para recompor o seu processo de acumulação. Tem ainda a apropriação dos bens da natureza. No Brasil ainda temos em oferta a energia elétrica e o petróleo. O minério de ferro não falo, pois já é deles! Eles precisam se apropriar do Pré Sal, a nossa grande riqueza natural. Eles precisam se apropriar, pois é a maior reserva conhecida do mundo. O Temer, em nome da burguesia, quer fazer esse trabalho. Seu governo golpista tem muitas contradições. O projeto neoliberal dele não é um projeto de nação, ao contrário. É um programa antinacional e antipopular. Os problemas só irão se agravar.
Quem afinal comanda o golpe?A direita brasileira está desunida, não tem um núcleo. Tem o bloco de interesse do poder econômico representado pelo Meirelles, o bloco dos partidos conservadores como PMDB, PP, PDS, tucanos e o bloco ideológico comandado pela Globo, o Moro e o Ministério Público. Contradições destes três blocos, por falta de unidade política, podem nos ajudar.
E a classe trabalhadora no meio disso?A classe trabalhadora tem enfrentado diversos desafios diante da crise. Apenas os setores organizados estão nas ruas, as manifestações não tem o povão que está atônito diante da luta de classes. Por que isso? Pelo fracasso ideológico dos partidos que pararam de fazer formação política, na incompetência dos governos Lula e Dilma de fazer aliança com a Globo ao invés de enfrentar o poder econômico. Hoje nós temos uma massa amorfa que está em casa vendo televisão. Nós temos que cutucar essa massa. O nosso desafio agora é trabalhar firmemente não só nos sindicatos, mas também nos movimentos populares, no sentido de uma greve geral. Se a classe trabalhadora não parar não terá força para sinalizar para a burguesia que é contra o arrocho. Esse é o desafio: a classe trabalhadora que produz sinalizar para o Temer que ela é um ator importante para o futuro da sociedade. Ai cabe uma autocrítica da esquerda de reconhecer que desaprendeu de fazer trabalho de base e de conscientização.
E os militares, são legalistas ou golpistas?Os militares golpistas estão de pijama embora circulem nas redes sociais com discursos fascistóides. Os militares da ativa estão atônitos e receosos de ter um protagonismo maior. Cabe-nos criar pontes com eles na defesa da democracia.
E qual é o desafio para as forças progressistas?
Temos que pensar num novo projeto para o país. O neodesenvolvimentismo da era Lula e Dilma esgotou. Não adianta achar que Lula 2018 vai resolver o problema apesar dele ainda ser o maior líder popular que nós temos. Se não tivermos um programa por trás não avançaremos. A conciliação com a burguesia é um casamento desfeito, não adianta insistir. Nós, como forças progressistas da sociedade, temos que debater e pensar em um novo projeto. O carro de som como forma de mobilização não serve mais.
É possível barrar o golpe?Sim, temos chance. Tudo é possível diante do caráter golpista e antinacional do governo Temer. É preciso um intenso trabalho de mobilização em diferentes setores da sociedade como da saúde, da educação, da moradia, do campo. Temos ainda a perspectiva de uma greve geral como necessidade de mobilizar as massas. Nos dias 19 e 20 de julho vamos realizar um Tribunal Internacional para julgar os golpistas no Teatro Casagrande. O júri será formado por sete personalidades do mundo, entre eles Andrés Peres Ezquivel. O veredito será levado ao STF e aos senadores. Queremos ainda organizar uma grande marcha no dia 5 de agosto na abertura das Olimpíadas aproveitando que estarão na cidade mais de 20 mil jornalistas. Vamos ainda imprimir milhões de folhetos didáticos explicando a natureza do golpe. Existe também a possibilidade de entrarmos com um recurso no STF questionando o mérito do impeachment se vier a ser aprovado. Temos que associar o golpe ao STF para mostrar à sociedade que ele é conivente com o golpe.
E Dilma nisso tudo?Ela tem de vir a público e divulgar uma carta compromisso com a sociedade. Não basta ela voltar. Tem de voltar com outro programa, outro ministério e esquecer esses partidos de merda do Congresso. Isso é urgente. É besteira ela sinalizar a direita com um plebiscito sobre a continuidade ou não de seu mandato. Até porque juridicamente é inviável.
E se o impeachment for aprovado?Se for aprovado temos duas alternativas: recorrer ao STF para julgar o mérito da questão e paralelamente a isso lutar por um plebiscito que convoque uma Assembleia Constituinte para fazermos uma reforma política. Sem mudar o sistema eleitoral não teremos democracia representativa no país.
E um eventual governo Temer como será?Não conseguirá governar uma semana do ponto de vista de ação política porque vai ser contra os trabalhadores. Vai aprofundar a crise e será instável.

10 de julho de 2016
Ricardo Rabelo
Jornal Bafafá

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