"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 10 de julho de 2016

O LOBO MAU FRENTE A FRENTE COM CHAPEUZINHO VERMELHO

Maceió - O Lobo Mau caiu, desmoronou-se, chorou para uma plateia que ansiava pelo seu afastamento da presidência da Câmara dos Deputados. Eduardo Cunha, acuado, apelou para o sentimento familiar, tentando, com mais uma manobra, sensibilizar os brasileiros que acompanham sua trajetória política e seus malfeitos desde que pertenceu ao staff de Collor como presidente da Telerj, no Rio. De lá pra cá, a carreira dele foi fulminante. Antes dos escândalos, chegou a aparecer numa lista dos prováveis candidatos a presidente da república. Agora, no ostracismo, tenta reconquistar o mandato de deputado suspenso pelo STF e voltar ao aconchego da família que ele próprio jogou às traças com os seus negócios nebulosos.

O Lobo Mau lutou bravamente para evitar a renúncia. Antes chamou para o tatame o governo do PT e ganhou com um Ippon, o golpe perfeito do judô. Mandou a Dilma para casa de quimono e tudo antes do confronto. Riu e debochou da adversária quando a viu deixar o Palácio do Planalto para que seu companheiro de partido, Michel Temer, ocupasse o espaço.

Achava-se até então intocável até o juiz Sérgio Moro começar a desbaratar a maior quadrilha de corruptos do país, revirando as vísceras de centenas de políticos e empresários. Sua penúltima entrevista em um hotel de Brasília, onde se manteve sozinho durante a conversa com os jornalistas, selava de vez o fim do poder do Lobo Mau substituído ali pela melancolia, o esquecimento e a solidão, num quadro tão bem retratado pelo colombiano Gabriel Garcia Marques no seu “Ninguém escreve ao coronel”.

O choro do Lobo Mau é a expressão cruel de um homem abandonado pelos amigos que antes o cortejavam. Vivia rodeado por um séquito de assessores e seguranças a atendê-lo em um piscar de olho. Não dava um passo no salão verde da Câmara que não tropeçasse em jornalistas ávidos por notícias. Com a renúncia, recolhe-se à solidão dos vencidos a espera de que alguém recolha os destroços da alegoria do poder. Vai, em vão, esperar no infinito da solidão a voz silenciosa de amigos cada vez mais distantes.

O Lobo Mau encolheu-se, apequenou-se. Aguarda ansioso o dia em que baterão à sua porta para responder pelos crimes que cometeu durante a sua carreira política. E frente a frente com o Chapeuzinho Vermelho de Curitiba, a quem até agora tentou enganar, confessará seus delitos se quiser sair mais cedo da cadeia, a exemplo de outros delatores que decidiram colaborar com a Justiça.

Agora, apeado do poder, ele não pode pedir que o Brasil chore por ele, como no clássico “Não chores por mim Argentina: 

“Jamais o poder ambicionei/ mentiras falaram de mim/Meu lugar é do povo a quem sempre eu amei/
Eu só desejo sentir bem de perto o seu coração batendo por mim com fervor/
Que nunca me vou esquecer...”

O Lobo Mau não deve esperar canção como essa pelo seu adeus. É um político insignificante, desprezível. Cresceu e fez fama na ausência de bons homens públicos. Trata-se de mais um espertalhão, gerado na fornalha do fisiologismo. Subiu nos degraus do poder porque soube se destacar entre os medíocres. Aliou-se aos petistas quando interessava ocupar espaços no poder. Usou a Câmara para manipular o regimento e as leis a serviço dos grandes empresários mancomunado com as dilmas e os lulas da vida. Só quando os negócios escusos não atendiam mais aos interesses dele e de seus comparsas, saiu fora e mostrou as garras doLobo Mau devorando a Vovozinha.

E se não tiver uma boa defesa ao ser interrogado pelo Chapeuzinho Vermelho de Curitiba, Lobo Mau vai passar o resto do seus dias na cadeia sem ter digerido totalmente os restos da Vovozinha, numa cena que seria mais ou menos assim, no primeiro encontro entre os dois:

- Por que esses olhos tão grandes, Cunha? – pergunta Chapeuzinho.

- Ó, meu querido, são para te enxergar melhor.

- Por que essas orelhas tão grandes, Cunha?

- São para te ouvir melhor, Chapeuzinho.

- E por que essa boca tão grande, Cunha?

- É para te comer, Chapeuzinho.

A sorte do Chapeuzinho é que aqui nesta fábula ele também é o caçador.



10 de julho de 2016
Jorge Oliveira

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