Outro dia, os contemporâneos de 1964 se surpreenderam com um acontecimento havido no Palácio do Planalto, sede do poder nacional.
A presidente, a seu turno, não se manifestou sequer para adverti-lo.
A TV transmitiu um encontro marcado entre a presidente da República e demais corifeus de Estado com os integrantes de movimentos sociais que atendem pelo chamado de sem terra, de sem teto e de num sei mais o quê, acompanhados do presidente da CUT.
Os convidados do protocolo (mais de mil) ocuparam o recinto e, com faixas e bandeirolas manifestavam-se com um e outro aparte não autorizado, erguiam os braços e se declaravam a favor da presidente.
Pois bem. Ou a nossa democracia não é mais aquela flor tenra a que se referia Otávio Mangabeira, que exige cultivo e cuidado permanentes, ou confiamos em que a CUT falou por falar, uma bravata (Deus queira), não seria capaz de concretizar suas ameaças.
Em 1964, aliás, por muito menos que esta sessão de ontem, o alarido pelo comício da Central do Brasil (quando os meios de comunicação ainda engatinhavam), e mais os anarquistas que exacerbaram o ambiente político, consta como o marco de detonação do movimento armado que então se desencadeou.
Hoje, o representante deles fechou a solenidade falando por todos, quase colérico, com gestos e punhos ameaçadores (como de sempre) e afirmou que os movimentos sociais constituirão “o exército que vai enfrentar essa burguesia de hoje”.
O falastrão ainda adicionou a seu “recado” que “o preconceito de classe contra eles implicaria em irem para as ruas, entrincheirados com arma não mão e lutar se tentarem tirar a presidente”.
E foi delirantemente aplaudido pela assistência, com direito a beijinho protocolar da dona da festa e demais cumprimentos cerimoniais de personalidades e acólitos presentes.
Mudamos nós ? É com a lembrança de 64 que assistimos a este ato que fere o Estado, a verdadeira democracia e a Constituição. O que vimos compôs um atentado à ordem constitucional e à República. Mas não repercutiu aquele ato audacioso e provocativo.
Pelo Exército, falou prontamente o Presidente do Clube Militar. E ninguém mais disse algo que demonstrasse o desrespeito daquela turma aguerrida confrontando os nossos tradicionais valores civis.
A presidente, a seu turno, não se manifestou sequer para adverti-lo.
A ameaça do orador, na sede do poder, no chão onde devia imperar a ordem e o respeito ao país, que foi igualmente ofendido, prestou-se a incitação às armas, como se revolucionário fosse.
Nesta solenidade, transcorrida não com apelos mas com ameaças ostensivas, seria o bastante para recolher o infrator à prisão.
Contudo, para as autoridades que se encontram debruçadas sobre o exame do impeachment, esta ocorrência vai selar a sentença de que, não fossem procedentes os motivos que sustentam o pedido, o compromisso da nação é com a legalidade, a Constituição e a ordem, e o atual governo não mais possui a mínima condição de retomar a confiança que o abateu, e a cartilha a que obedece para chefiar a administração pública não é a dos nossos sonhos.
A lucidez aponta para o afastamento definitivo da presidente. Falta seu vice, hoje assistindo solertemente a cena. Ambos, PT e PMDB, são os responsáveis pela voragem que atirou o Brasil no abismo.
06 de abril de 2016
José Maria Couto Moreira é advogado.
Contudo, para as autoridades que se encontram debruçadas sobre o exame do impeachment, esta ocorrência vai selar a sentença de que, não fossem procedentes os motivos que sustentam o pedido, o compromisso da nação é com a legalidade, a Constituição e a ordem, e o atual governo não mais possui a mínima condição de retomar a confiança que o abateu, e a cartilha a que obedece para chefiar a administração pública não é a dos nossos sonhos.
A lucidez aponta para o afastamento definitivo da presidente. Falta seu vice, hoje assistindo solertemente a cena. Ambos, PT e PMDB, são os responsáveis pela voragem que atirou o Brasil no abismo.
06 de abril de 2016
José Maria Couto Moreira é advogado.
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