"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

JUVENTUDE CARRANCUDA

SÃO PAULO - Reportagem de Thais Bilenky publicada no domingo mostrou que os professores de cursinhos pré-vestibulares estão aposentando as piadinhas e comentários jocosos. O motivo é o clima PC (politicamente correto) que se instalou em parte da juventude. Hoje, tiradas que constituíam o feijão com arroz das aulas de cursinhos até alguns anos atrás geram indignação e até protestos por parte de alunos.

Há duas questões interessantes aqui. A primeira é prática. Cursinhos não haviam se tornado centros de produção de piadas por abrigar comediantes frustrados que, por algum motivo, abraçaram o magistério. Gozavam dessa condição porque chistes, além de manter desperto o interesse do estudante estafado, são um excelente auxiliar da memória.

Uma forma razoavelmente eficaz de reacessar um conteúdo cognitivo que já tenha sido aprendido é associá-lo a um trocadilho infame ou qualquer outra bobagem. Professores de pré-vestibulares, com graus variáveis de sucesso, tentavam explorar essa faceta de nossa arquitetura cerebral em favor dos alunos. É claro que ninguém vai morrer se ficar sem essa muleta mnemônica, mas receio que algo se perca com o banimento das piadas de cursinho.

A outra questão diz respeito ao próprio PC. Ao contrário de outros defensores do humor sem patrulhas, não vejo o politicamente correto como o inimigo a ser esmagado. Prefiro descrevê-lo como o efeito colateral de um movimento civilizador, que foi a mobilização da sociedade para conter seus impulsos racistas e sexistas. É claro que o fato de o PC ter uma origem bacana não elimina a necessidade de combater seus exageros.

Se há alto tão ruim quanto uma pilhéria de gosto duvidoso, é perder a capacidade de rir das incongruências do mundo. A diferença é que, enquanto a primeira tende a ser resolvida com o silêncio que reservamos às piadas sem graça, a falta de humor priva a vida de seus sabores.

 
13 de agosto de 2014
Hélio Schwartsman, Folha de SP

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